A pesca esportiva, mais do que um hobby, consolidou-se como um importante vetor econômico e social no Brasil. Dados do Ministério do Turismo revelam que a modalidade é responsável por movimentar cerca de R$ 1 bilhão por ano, tendo registrado um crescimento de 20% na geração de receita em 2020 — ano base da pesquisa mais recente. Praticada por aproximadamente seis milhões de brasileiros, a pesca esportiva se fortalece como segmento turístico, fomentando desde a hotelaria até o comércio local em regiões ribeirinhas.
Mas a evolução do setor vai além dos números. A escolha adequada da embarcação pode determinar o sucesso da pescaria e ainda evitar riscos à integridade física e ao meio ambiente. “A embarcação precisa ser adequada ao tipo de pescaria, ao local, ao número de pessoas e até ao tipo de peixe que se busca”, orienta Jorge Oliveira, especialista em mobilidade náutica e fabricante de embarcações com atuação nacional. Para ele, embarcações mal dimensionadas podem comprometer toda a experiência e até colocar em risco o praticante.
As férias escolares de julho, por exemplo, são período de intensa movimentação nos rios do Centro-Oeste brasileiro, especialmente no Rio Araguaia, um dos destinos mais tradicionais para a pesca recreativa. O aumento do fluxo exige atenção redobrada com equipamentos, rotas e embarcações.
ESCOLHER O BARCO CERTO É FUNDAMENTAL
Para quem pratica a pesca com regularidade ou atua profissionalmente, a escolha do barco é parte estratégica da operação. Segundo Oliveira, embarcações voltadas para uso profissional geralmente são maiores, mais estáveis, velozes e reforçadas, atendendo a demandas de resistência e desempenho.
“Alguns barcos têm uma boca de 2,15m e capacidade para vários assentos. São usados inclusive em campeonatos, onde a performance e a segurança são exigências básicas”, explica o especialista. Ele destaca que embarcações maiores costumam oferecer mais estabilidade em alto-mar, enquanto modelos menores são ideais para rios e lagos, com deslocamentos mais curtos e acesso facilitado.
Entre as embarcações mais utilizadas por profissionais estão aquelas com estrutura reforçada, boa navegabilidade e espaço para armazenamento de equipamentos. Modelos com casco mais largo garantem maior estabilidade, enquanto os mais longos e profundos favorecem a navegação em águas agitadas.
PESCADORES AMADORES TAMBÉM PRECISAM DE ESTRATÉGIA
Para os praticantes amadores, a escolha também deve seguir critérios técnicos. “Modelos com casco semi-chato proporcionam uma plataforma mais confortável, especialmente para quem pesca em pé durante longos períodos”, explica Rodrigo Campos, diretor de expansão especializado em equipamentos náuticos. Ele lembra que a ergonomia das embarcações influencia diretamente no bem-estar do pescador. “Evita dores nas articulações e permite uma prática mais segura e prazerosa.”
Barcos com potência entre 15hp e 30hp são comuns entre pescadores ocasionais. No entanto, é fundamental avaliar o tipo de pesca — se será apoitada (com o barco ancorado) ou de arremesso (em movimento) — para garantir a melhor adaptação ao equipamento. “Para a pescaria de arremesso, o ideal é que a embarcação seja mais rasa. Já para a apoitada, embarcações mais profundas se saem melhor”, detalha Campos.
SUSTENTABILIDADE TAMBÉM NAVEGA
Outro ponto crucial na escolha das embarcações é o material de fabricação. Para pescarias em alto-mar, o ideal são barcos de madeira ou fibra, devido à resistência e durabilidade. Já em rios e lagos, os especialistas indicam embarcações de alumínio, por serem mais leves, manobráveis e menos agressivas ao meio ambiente.
“Barcos com plataforma de proa alongada permitem pesca em locais com correnteza, enquanto embarcações com casco mais plano favorecem a estabilidade em água parada”, exemplifica Campos. O desenho da embarcação também impacta na economia de combustível e na diminuição do impacto ambiental.
Além da estrutura física, embarcações mais modernas vêm sendo projetadas com foco na redução da emissão de resíduos, ruídos e consumo energético. São inovações que tornam a prática da pesca mais responsável e conectada às demandas ambientais contemporâneas.
JULHO, RIO ARAGUAIA E A TRADIÇÃO QUE RESISTE
Com a chegada de julho, famílias de todo o Brasil seguem rumo ao Araguaia, que se transforma em verdadeiro palco da pesca esportiva. São semanas em que a movimentação nos acampamentos cresce, e o convívio com a natureza se intensifica. No entanto, o aumento da presença humana impõe desafios à preservação dos ecossistemas ribeirinhos.
Neste contexto, embarcações mais silenciosas, seguras e com menor impacto sobre a fauna aquática são cada vez mais valorizadas. É uma forma de equilibrar lazer, tradição e conservação ambiental. A pesca esportiva, quando praticada com consciência e respeito à natureza, pode continuar sendo uma fonte de renda, prazer e conexão com o Brasil profundo.