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MERCADO DA CEBOLICULTURA

IMPORTAÇÃO EM ALTA E CLIMA DESFAVORÁVEL REDEFINEM O MERCADO DA CEBOLA NO BRASIL EM 2025

Mesmo com previsão de safra 44% maior, Brasil amplia importações e enfrenta instabilidade nos preços devido ao calor e qualidade comprometida do produto nacional
Mesmo com a expectativa de aumento de 44% na safra nacional 2024/2025, que deve alcançar 127,6 mil toneladas, conforme estimativa da Conab, a dependência externa segue elevada. Foto: Divulgação

O mercado brasileiro de cebola iniciou 2025 sob forte instabilidade. O aumento nas importações, somado aos efeitos climáticos que impactaram diretamente a qualidade da produção nacional, tem modificado a dinâmica de oferta e demanda no país. Dados recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que o volume importado em março foi quase cinco vezes superior ao de fevereiro, revelando um movimento crescente de dependência externa para suprir o abastecimento interno.

Em fevereiro, foram importadas 3.471 toneladas de cebola. Já em março, esse número saltou para 19.728 toneladas, o que representa um aumento de mais de 468%. A tendência reflete não apenas o consumo interno elevado, mas também os desafios enfrentados pelos produtores nacionais, especialmente no Sul do Brasil, onde o calor registrado nos meses de fevereiro e março comprometeu significativamente a qualidade dos bulbos.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), dois países dominam o fornecimento da cebola estrangeira ao Brasil em 2025: a Argentina, responsável por 58% das exportações, e o Chile, com os 42% restantes. Esses países contam com grandes estoques e boa capacidade de armazenamento, o que garante o abastecimento contínuo e tem tornado suas cebolas mais atrativas para os compradores brasileiros, sobretudo pela melhor qualidade visual e durabilidade dos bulbos.

“Em um mercado instável e com grandes volumes de importação, o Brasil enfrenta um cenário desafiador, reflexo direto da dinâmica global de oferta e demanda”, analisa José Rodolfo Forte, engenheiro agrônomo e especialista em Desenvolvimento de Mercado. “Esse contexto exige uma adaptação estratégica contínua para garantir a sustentabilidade e o equilíbrio do setor agrícola nacional, com manejo tático e máximo de proteção ao cultivo”, ressalta.

Mesmo com a expectativa de aumento de 44% na safra nacional 2024/2025, que deve alcançar 127,6 mil toneladas, conforme estimativa da Conab, a dependência externa segue elevada. Em 2024, o Brasil já havia importado 257,4 mil toneladas de cebola, o que representou um crescimento de 92% em relação ao ano anterior. O avanço da produção nacional ainda não foi suficiente para reverter a tendência de crescimento das importações.

A área plantada também apresenta recuo em algumas regiões, como o Cerrado e o Nordeste, justamente por conta da boa perspectiva da safra no Sul. No entanto, mesmo em estados como Santa Catarina, considerados referência na produção, as adversidades climáticas — principalmente o calor fora de época — afetaram a qualidade das cebolas colhidas em Ituporanga e Lebon Régis. Segundo o Cepea, os estoques que antes se esperavam durar até meados de maio ou início de junho podem se esgotar antes do previsto.

Essa combinação de fatores tem levado os compradores a optarem por produtos importados, reforçando o desequilíbrio no mercado interno. A consequência disso já aparece nas estatísticas de preço.

De acordo com a Conab, houve aumento nos preços da cebola em 11 das principais Centrais de Abastecimento (Ceasas) avaliadas em março. A alta média foi de 11,4% em relação a fevereiro. No entanto, o comparativo histórico ainda aponta que os valores permanecem inferiores aos registrados nos dois anos anteriores. Na Ceagesp, em São Paulo, a cebola foi comercializada com preços 56% mais baixos do que os de março de 2024 e 17% inferiores aos de março de 2023.

Além da questão de mercado, a cebolicultura brasileira enfrenta desafios estruturais relacionados à produção e manejo. Estima-se que cerca de 70% da produção de cebola no Brasil esteja nas mãos da agricultura familiar, especialmente nas regiões Sul e Nordeste. O cultivo é feito com diferentes variedades, adaptadas aos climas locais, e envolve práticas que vão da seleção de sementes ao armazenamento pós-colheita.

A escolha da variedade ideal leva em conta fatores como fotoperíodo, clima, solo e finalidade (consumo fresco ou processamento). Entre as principais opções comerciais, estão Optima, Bella Dura, Brisa, Vale Ouro IPA-11, Granex 33 e Texas Grano 502 PRR. Já as variedades tradicionais e crioulas seguem sendo utilizadas em pequenas propriedades, principalmente no semiárido nordestino.

O cultivo da cebola tem ciclo entre 90 e 150 dias, segundo o Cepea, o que permite ao produtor rural trabalhar com diversificação e rotação de culturas. Contudo, o setor também enfrenta ameaças sanitárias relevantes, como doenças e pragas que comprometem a produtividade.

Entre os principais problemas, destacam-se o míldio, a mancha-púrpura, a podridão-branca, a fusariose e pragas como trips, lagarta-rosca e ácaros. Para enfrentá-los, recomenda-se o manejo integrado, que inclui controle biológico, práticas culturais como rotação com gramíneas e aplicação racional de defensivos.

O espaçamento entre plantas, a irrigação controlada e a adubação equilibrada com nitrogênio, potássio e fósforo também são cruciais para a boa formação dos bulbos. O solo ideal deve ser bem drenado, com pH entre 5,5 e 6,5, e a colheita deve ocorrer no ponto certo de maturação — momento indicado pela murcha e queda das folhas externas, com bulbos firmes e bem formados.

Após a colheita, o processo de cura e armazenamento define a longevidade do produto. As cebolas devem ser secas em ambientes ventilados, sem luz direta, e armazenadas em locais com temperatura entre 0°C e 4°C, garantindo assim qualidade e conservação.

O cenário para 2025 exige atenção dos produtores, técnicos e gestores do setor. A instabilidade nos preços, a competição com produtos estrangeiros e os desafios climáticos e fitossanitários compõem um retrato complexo e desafiador da cebolacultura brasileira. Com planejamento, informação e boas práticas agrícolas, é possível mitigar riscos e fortalecer a produção nacional diante de um mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

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