Com a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) indicando temperaturas acima da média histórica para o período de fevereiro a abril de 2025 em praticamente todo o Brasil, a pecuária enfrenta desafios importantes, especialmente no que se refere à hidratação dos bovinos. O calor intenso pode impactar diretamente o desempenho e a saúde dos animais, tornando a qualidade da água um fator decisivo para a produtividade nas propriedades rurais.
De acordo com Bruno Marson, zootecnista, a água desempenha um papel tão crucial quanto outros fatores produtivos, como genética, nutrição e manejo de pastagem. “A água é um fator produtivo. Quando falamos em resultados dentro da propriedade, não podemos ignorar a importância de garantir que os bovinos tenham acesso à água de boa qualidade. Isso interfere diretamente no desempenho do rebanho”, explica Marson.
Ele ressalta que a perda de água no organismo de um bovino é um problema sério. “O bovino pode perder até 100% de sua gordura corporal e até 50% de seu tecido muscular, mas se ele perder entre 10% a 12% de água do seu corpo, isso pode ser fatal. A desidratação compromete a saúde e, consequentemente, a produtividade dos animais”, alerta o zootecnista.
Além disso, Marson destaca a diferença entre água de boa qualidade e água contaminada. “Se um bebedouro oferece água limpa, mas o rebanho tem acesso a um lago contaminado, os bovinos perceberão a diferença. Eles conseguem identificar dejetos na água com uma concentração de apenas 50 gramas por litro, o que os faz preferir consumir a água limpa”, afirma.
A localização dos bebedouros também é um fator determinante para garantir o consumo adequado de água. Marson explica que, quanto mais longe o bebedouro estiver da área de pastagem, maior será a perda de desempenho dos animais. “Após 500 metros de caminhada, os bovinos perdem cerca de 40 gramas no seu ganho médio diário (GMD). E em terrenos ondulados, essa perda pode ser ainda maior, chegando a até 53 gramas a cada quilômetro percorrido. Em terrenos mais acidentados, a perda pode chegar a 60 gramas”, destaca.
A proximidade do bebedouro é, portanto, essencial para otimizar o desempenho dos bovinos. Marson sugere que os produtores instalem bebedouros dentro da própria área de produção, desde que viável, para reduzir o tempo de deslocamento e garantir o bem-estar dos animais. “É fundamental que, quando possível, os bebedouros sejam instalados mais próximos do rebanho. Além disso, uma rotina rigorosa de limpeza é essencial, para que a água permaneça sempre limpa e potável”, enfatiza.
Nos sistemas de confinamento, onde os animais dependem exclusivamente de bebedouros, a atenção à limpeza é ainda mais crítica. Marson recomenda que a limpeza seja feita no mínimo duas vezes por semana, considerando a alimentação farelada e a maior concentração de animais, fatores que aceleram a contaminação da água.
A qualidade da água também está diretamente ligada ao consumo de matéria seca pelos bovinos, o que afeta sua saúde e produtividade. “Quando o bovino consome menos água, ele tende a ingerir menos pasto, suplemento e ração. Isso compromete o desempenho geral do animal”, afirma Marson.
Portanto, para enfrentar o cenário de calor intenso previsto para os próximos meses, é fundamental que os pecuaristas estejam atentos à qualidade da água oferecida aos bovinos. A hidratação adequada, associada a um bom manejo de pastagem e suplementação, é a chave para manter a saúde e a produtividade dos animais em níveis ideais, mesmo em condições climáticas adversas. O bem-estar animal, que depende de água limpa e de fácil acesso, é um fator essencial para garantir a eficiência da produção rural e o sucesso das propriedades.
A relação entre o agroclima e a hidratação animal é um aspecto fundamental que não pode ser ignorado. Com o aumento das temperaturas, as propriedades precisam se adaptar para garantir o melhor para seus rebanhos, minimizando os impactos negativos do calor e mantendo o desempenho dos animais no mais alto nível.