A pecuária brasileira atravessa um processo de transformação estrutural e produtiva impulsionado por uma nova mentalidade de gestão e uso racional da terra. A tradicional criação extensiva, marcada por grandes áreas de pastagem e ciclos longos de engorda, vem perdendo espaço para modelos tecnificados, que otimizam recursos, intensificam a produção e tornam a atividade mais rentável e sustentável.
Esse novo cenário reflete uma escolha estratégica dos produtores: em vez de expandir a área produtiva com aquisição de novas terras — cada vez mais valorizadas —, o foco agora é fazer mais com menos. Ou seja, extrair o máximo das áreas já disponíveis, investindo em tecnologias de manejo, suplementação nutricional e estruturação interna das fazendas.
O sistema de semiconfinamento, por exemplo, tem ganhado força em diversas regiões do país. Ele permite a divisão das propriedades em piquetes para melhor aproveitamento do capim e o uso de suplementação alimentar direta no cocho. O resultado? Animais ganham peso mais rápido, ficam menos tempo na fazenda e a rotatividade do rebanho aumenta — impactando diretamente a produtividade.
A gerente técnica Amanda Medina, especialista em nutrição animal, explica como a mudança de paradigma tem revolucionado o setor. “O pecuarista moderno busca acelerar o ciclo de engorda do gado, reduzindo o tempo de permanência dos animais na propriedade e maximizando o giro de bovinos para abate”, afirma. Segundo ela, enquanto antes um boi levava até quatro anos para atingir o ponto ideal, hoje esse prazo caiu para dois anos e meio, graças à combinação de manejo inteligente e suplementação eficaz.
Dados recentes da Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (Asbram) confirmam essa tendência: em 2024, o setor de suplementação animal registrou crescimento de 6,74% em relação ao ano anterior. A procura por suplementos minerais, proteinados e rações segue em curva ascendente, refletindo uma mudança comportamental na base da pecuária.
Amanda destaca que os investimentos em nutrição vão além da simples substituição do sal mineral. “Na fase de cria, muitos já utilizam suplementos adensados. Na recria e terminação, além do mineral, entram proteinado e ração. Isso mostra o quanto o pecuarista tem adotado estratégias mais avançadas para melhorar o desempenho do rebanho”, analisa.
A estruturação das fazendas também acompanha esse movimento. O sistema de piqueteamento, que organiza as propriedades em módulos, promove o uso estratégico do pasto, enquanto a suplementação garante aporte nutricional contínuo — mesmo em períodos críticos. Essa lógica tem reduzido a dependência do pasto e garantido maior uniformidade no ganho de peso dos animais.
Esse avanço na gestão nutricional gera efeitos colaterais positivos em outros setores. Com maior concentração de animais por área, a demanda por medicamentos veterinários e vacinas também cresce, exigindo um olhar atento à sanidade animal. Porém, é na nutrição que se observa a demanda mais constante: o gado precisa ser alimentado o ano inteiro, independentemente das estações.
Outro indicativo da intensificação produtiva é a pressão sobre os insumos básicos, como o fósforo — fundamental na composição de suplementos. Em 2024, a escassez do produto em algumas regiões elevou o alerta sobre a necessidade de planejamento estratégico por parte dos pecuaristas e indústrias. O milho, principal matéria-prima das rações, também enfrenta alta demanda, agravada pela expansão do etanol de milho no Centro-Oeste.
Segundo Amanda, o atual momento é de atenção e preparação. “Com a aproximação da entressafra do boi, já se projeta uma valorização da arroba. O produtor está investindo agora para garantir resultados no próximo ciclo. É um período de alta procura por proteinado e mineral, mas também vemos aumento no uso da ração — o produtor está animado com o mercado”, conclui.
Mais do que tendência, a tecnificação da pecuária tornou-se necessidade. Em um setor altamente competitivo, quem adota práticas modernas de manejo e nutrição amplia a eficiência produtiva e garante sustentabilidade econômica. A pecuária do futuro já começou — e ela é movida a informação, estratégia e tecnologia.