Depois de um ano marcado por reduções nos preços dos fretes rodoviários, motivadas principalmente pela menor demanda de transporte devido à redução na quantidade de produtos agrícolas escoados, o mercado logístico brasileiro deve enfrentar novas pressões em 2025. Em 2024, a queda foi influenciada também pela sazonalidade das safras e pela disponibilidade reduzida de grãos para transporte, o que impactou diretamente os preços em diversas regiões produtoras, como Mato Grosso e Paraná. Agora, com a expectativa de uma safra recorde em 2025, o cenário logístico passa por uma virada que promete desafiar toda a cadeia produtiva. A safra recorde de soja prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está projetada para impactar significativamente os custos de transporte. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), os fretes podem registrar aumento entre 15% e 20% já no início do ano, com altas mais expressivas previstas para fevereiro. Esse impacto será sentido de maneira diferente nas principais regiões agrícolas do Brasil. Em estados como Mato Grosso, Goiás e Paraná, o aumento dos fretes pode representar desafios adicionais para os produtores locais, que já enfrentam custos elevados devido à distância dos portos e à qualidade das rodovias. A Anec destaca que esse cenário reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para a melhoria da infraestrutura e diversificação dos modais de transporte, elementos fundamentais para mitigar os efeitos desse aumento e garantir a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado global.
Em dezembro de 2024, a Conab informou que os valores dos fretes rodoviários apresentaram reduções em quase todas as regiões produtoras de soja e milho. Em Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, o frete entre Sorriso e o porto de Santos caiu 7% em novembro de 2024, comparado ao mês anterior. No Paraná, outra região-chave, os preços do transporte também mostraram retração devido à menor demanda por escoamento. Esses exemplos refletem como diferentes regiões produtoras reagiram à menor quantidade de produtos transportados, influenciando os custos logísticos em todo o país. O principal motivo foi a menor demanda por transporte devido à queda na quantidade de produtos escoados. Por exemplo, o frete de Sorriso (MT) ao porto de Santos (SP) teve uma redução de 7% em novembro de 2024, comparado ao mês anterior, e 21% em relação a novembro de 2023.
Entretanto, a safra recorde de grãos estimada para 2025 é um divisor de águas. O Brasil deve colher 322,5 milhões de toneladas de grãos e oleaginosas, incluindo 166 milhões de toneladas de soja, um aumento de 8,2% em relação à colheita anterior. “O transporte tem um papel crucial nos custos da produção agrícola, e é essencial que os produtores acompanhem as mudanças e tendências nesse segmento”, destaca Renato Francischelli, diretor de multinacional. Ele ressalta que a alta nos preços dos fretes pode exigir um planejamento ainda mais estratégico por parte dos produtores, que terão de balancear os custos crescentes com a rentabilidade esperada. “Além disso, é necessário que os produtores considerem alternativas logísticas e tecnologias que otimizem a distribuição, minimizando os impactos financeiros nas operações e mantendo a competitividade no mercado global”, complementa Francischelli.
Desafios persistentes
Apesar das projeções de aumento na demanda por transporte, o setor logístico enfrenta desafios estruturais que impactam diretamente os custos. Cerca de 60% das estradas federais apresentam algum tipo de deficiência, conforme a Confederação Nacional do Transporte (CNT). Além disso, a escassez de motoristas qualificados e o aumento do custo de combustíveis pressionam ainda mais o preço do frete.
Estudos apontam que o diesel, responsável por até 60% do custo do frete, pode sofrer reajustes devido à alta do dólar e do petróleo. O aumento do dólar encarece os insumos importados e peças de reposição, impactando diretamente os custos de manutenção de veículos e equipamentos. Já a alta do petróleo, por sua vez, reflete no preço do diesel, que é um dos principais componentes do custo logístico. Essa combinação de fatores gera um efeito cascata: eleva os custos de produção agrícola, reduz as margens de lucro dos produtores e aumenta os preços dos alimentos para os consumidores, afetando toda a cadeia produtiva. Essa dinâmica tende a aumentar a vulnerabilidade do setor logístico, que já enfrenta dificuldades como a falta de investimentos em infraestrutura e a dependência excessiva do modal rodoviário. Entre 2010 e 2023, a participação desse modal no escoamento da produção agropecuária subiu de 44,7% para 54,2%, segundo levantamento da Esalq-Log/USP. Atualmente, 96% do transporte agrícola no mercado doméstico utiliza rodovias.
A busca por soluções sustentáveis e a digitalização do transporte de cargas também despontam como tendências para 2025. Empresas como a Raízen e a JBS estão investindo em veículos movidos a biocombustíveis e em frotas elétricas para reduzir as emissões de carbono. Além disso, iniciativas como o uso de plataformas digitais por empresas como a CargoX e a FreteBras têm contribuído para otimizar a logística, conectando motoristas a cargas disponíveis de forma mais eficiente e sustentável. Empresas do setor têm investido em tecnologias que aumentam a eficiência logística, como a adoção de veículos elétricos e biocombustíveis. A necessidade de reduzir emissões de carbono é um dos fatores que impulsionam essas iniciativas, alinhando-se às demandas globais de sustentabilidade.
Francischelli reforça que a eficiência na distribuição de produtos agrícolas está diretamente ligada ao controle de custos e à competitividade do setor. “Soluções inovadoras e sustentáveis são fundamentais para garantir a continuidade do crescimento do agronegócio brasileiro”, pontua.
Impactos no PIB e exportações
O cenário positivo para a produção de grãos em 2025 também reflete diretamente na economia. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, impulsionado pelo aumento na produção, avanços na indústria de insumos agropecuários e o fortalecimento do setor exportador.
As exportações do agronegócio brasileiro atingiram US$ 164,4 bilhões em 2024, representando 49% do total exportado pelo país. Esse desempenho ressalta a relevância do setor agropecuário como motor econômico do Brasil, gerando divisas fundamentais para o equilíbrio da balança comercial e impulsionando o desenvolvimento regional. O fortalecimento das exportações contribui diretamente para a geração de empregos, incremento de receitas fiscais e consolidação do Brasil como um dos principais players globais no mercado de alimentos. Esse desempenho reforça o papel do Brasil como um dos principais fornecedores de alimentos para o mercado global.
Perspectivas para o ano
A chegada da safra de milho e outros cultivos ao longo do ano deve manter os custos de transporte em alta, exigindo planejamento estratégico dos produtores e operadores logísticos. Além disso, fatores climáticos, como chuvas intensas, e a condição das rodovias continuarão a influenciar diretamente o mercado de fretes rodoviários.
Diante desse cenário, é essencial que os atores da cadeia produtiva estejam atentos às mudanças no mercado, adotando soluções que garantam maior eficiência e competitividade ao agronegócio brasileiro. A combinação de tecnologia, infraestrutura adequada e sustentabilidade será a chave para superar os desafios de 2025 e consolidar o setor como um dos pilares da economia nacional.