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AGRICULTURA REGENERATIVA

Regeneração do Cerrado: Práticas sustentáveis transformam o solo e fortalecem a agricultura

Pesquisas do projeto Regenera Cerrado comprovam que a adoção de técnicas regenerativas no sudoeste goiano fortalece a biodiversidade, melhora a saúde do solo e promove uma agricultura mais resiliente, sustentável e produtiva.
Fazenda Brasilândia, localizada em Montividiu-GO. Foto: Wanderson Manenti

O solo, base essencial para qualquer atividade agrícola, ganha cada vez mais protagonismo quando o assunto é sustentabilidade. Em meio aos desafios climáticos e à necessidade urgente de tornar a agricultura mais resiliente e responsável, a saúde do solo deixa de ser apenas uma preocupação técnica e se torna um eixo estratégico de transformação. No bioma Cerrado, um dos mais biodiversos do planeta, um projeto de pesquisa vem mostrando na prática como a regeneração do solo pode ser o caminho para um modelo de produção mais eficiente e duradouro.

O Projeto Regenera Cerrado, iniciado em 2022, atua em propriedades do sudoeste de Goiás, e vem consolidando evidências científicas de que a agricultura regenerativa, quando bem aplicada, melhora significativamente as funções ecológicas do solo. Técnicas como a adição de matéria orgânica, rotação de culturas, uso de plantas de cobertura e bioinsumos foram testadas em 12 fazendas da região e mostraram resultados promissores.

A produção de soja e milho, por exemplo, tem se beneficiado diretamente dessas práticas. De acordo com Marion Kompier, produtora rural da Fazenda Brasilândia, localizada em Montividiu (GO), o retorno pode ser sentido no campo:

“A biologia que devolvemos ao solo por meio das boas práticas de agricultura regenerativa torna o solo mais resiliente e colabora com a cultura que está sendo plantada. Tanto a soja, quanto o milho suportam mais as dificuldades climáticas que estamos vivendo”, afirma.

Além da resiliência climática, os pesquisadores também observaram ganhos em biodiversidade — tanto microbiana quanto vegetal e animal. Essa diversidade é um dos pilares da agricultura regenerativa e contribui para o equilíbrio ecológico do sistema agrícola, reduzindo a incidência de pragas, doenças e promovendo maior estabilidade produtiva.

Esses dados foram apresentados no 3º Dia de Campo Regenera Cerrado, realizado nos dias 26 e 27 de março na Fazenda Brasilândia, que reuniu mais de 400 participantes, entre produtores, pesquisadores, técnicos e estudantes. O evento representou um importante momento de troca de conhecimento e validação das práticas testadas.

Para o analista de Sustentabilidade da Cargill, Jorge Gustavo, esse tipo de encontro cumpre um papel essencial na disseminação de práticas sustentáveis:

“Esse tipo de evento vem ao encontro de um dos objetivos do projeto, que é difundir o conhecimento acerca das práticas de agricultura regenerativa e encorajar outros produtores, que não estão diretamente ligados ao projeto, a adotarem essas práticas”, pontua.

Entre os resultados técnicos apresentados no evento, destacam-se os estudos sobre os indicadores bioquímicos, biológicos e microbiológicos do solo. Esses parâmetros foram analisados em propriedades com diferentes níveis de adoção das práticas regenerativas. Os dados confirmam que o manejo com cobertura permanente do solo e a redução do revolvimento (como a aração e gradagem frequente) favorecem o aumento da atividade biológica, o que impacta diretamente na retenção de água, na ciclagem de nutrientes e na formação de agregados estáveis, que dão estrutura ao solo.

Além disso, o uso de plantas de cobertura auxilia na descompactação, permitindo o aprofundamento das raízes e criando um ambiente mais resistente a estresses ambientais, como seca e altas temperaturas. Os benefícios se estendem ao controle biológico de pragas e doenças, reduzindo a necessidade de insumos externos.

A Dra. Eliana Fontes, pesquisadora da Embrapa – Cenargen e coordenadora geral do projeto, destaca que as práticas regenerativas estão aproximando os sistemas agrícolas dos ecossistemas naturais:

“Por meio das pesquisas do Regenera Cerrado, foi possível comprovar que as práticas regenerativas contribuem para a recuperação de redes alimentares do solo e da parte aérea das plantas, que permitem tornar o ambiente agrícola mais próximo do natural”, afirma.

Segundo a pesquisadora, a próxima fase do projeto será dedicada a aprofundar os estudos e testar novas tecnologias que fortaleçam o conhecimento já consolidado:

“Com esse diagnóstico, na segunda fase do projeto nós avançaremos testando novas tecnologias e buscando aprofundar o conhecimento já existente, fornecendo mais subsídios para que outros produtores sintam segurança em adotar práticas de agricultura regenerativa”, completa.

🌱 Ciência, prática e parceria

Idealizado pelo Instituto Fórum do Futuro, o Regenera Cerrado é operado pelo Instituto BioSistêmico (IBS) e conta com a participação de nove instituições de pesquisa e ensino brasileiras, além de 12 fazendas na região de Rio Verde (GO). Entre os parceiros estão:

  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
  • Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig)
  • Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS)
  • Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (GAPES)
  • Instituto Federal Goiano
  • Universidade Federal de Lavras (UFLA)
  • Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
  • Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
  • Universidade de Brasília (UnB)

O projeto busca oferecer um modelo escalável de produção regenerativa de soja e milho, aplicável a diferentes realidades agrícolas no Brasil e no mundo, sempre com base científica e observação prática.

O Cerrado brasileiro, berço das águas e um dos maiores celeiros agrícolas do planeta, agradece.

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