O Brasil segue consolidando sua posição como um dos grandes consumidores de trigo da América Latina, com um volume de moagem que superou 13,19 milhões de toneladas do cereal em 2024, distribuídas em 150 plantas industriais em todas as regiões do país. Os dados são da Pesquisa de Moagem de Trigo 2024, divulgada pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), e revelam um crescimento de 3% em relação ao ano anterior — o que representa um acréscimo de 380.432 toneladas processadas.
Para o presidente-executivo da Abitrigo, Rubens Barbosa, o crescimento reflete o papel estratégico da indústria moageira para o abastecimento interno. “O crescimento observado reforça a importância da cadeia moageira para a segurança alimentar do Brasil e demonstra a resiliência do setor em face de desafios econômicos e climáticos”, afirma.
Essa expansão no volume processado ultrapassa o próprio crescimento populacional brasileiro no período, o que, segundo Barbosa, indica uma consolidação do trigo e de seus derivados como base importante da dieta nacional.
Destinos da farinha: pão, massas e biscoito
O estudo também detalha a destinação da farinha produzida em 2024. O setor de panificação e pré-misturas foi o principal destino, absorvendo 30% do volume total. Em seguida, vieram a indústria de massas alimentícias, com 15,4%, e a indústria de biscoitos, com 11,9%.
“O levantamento nos ajuda a compreender a dinâmica da demanda. É um referencial indispensável para a indústria moageira nacional”, afirma Barbosa. Ele destaca ainda que os dados servem de base para o planejamento estratégico dos associados da Abitrigo, que buscam atender o mercado interno com regularidade e qualidade.
Metade do trigo consumido ainda é importado
Um dos pontos mais relevantes da pesquisa diz respeito à dependência do trigo importado, que representou cerca de 50% do consumo nacional em 2024. Essa dependência é ainda mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, onde praticamente todo o trigo processado veio de outros países.
“Essa dependência reflete a falta de autossuficiência na produção local e a necessidade de estratégias logísticas eficientes para garantir o abastecimento”, explica o presidente-executivo da Abitrigo. Ele ressalta que o cenário impõe desafios e, ao mesmo tempo, abre oportunidades para o desenvolvimento de políticas públicas que estimulem o aumento da produção nacional, especialmente nas regiões com maior consumo e menor oferta local.
Infraestrutura de armazenagem e desafios logísticos
Outro aspecto abordado no levantamento é a infraestrutura de armazenagem estática nas indústrias de moagem. Segundo Barbosa, as plantas têm buscado se adaptar às características regionais, mas ainda existe uma lacuna crítica: a escassez de silos e espaços de estocagem adequados para o trigo nacional.
“Esta é uma grande demanda do setor: a necessidade de linhas de financiamento para expansão de silos, a fim de garantir os estoques de trigo nacional e evitar distorções como exportações na safra e importações fora de época”, alerta. O problema compromete o equilíbrio do abastecimento interno e evidencia a importância de políticas de crédito agrícola focadas na infraestrutura industrial.
Panorama de 2024 reforça urgência por autossuficiência
A análise da Abitrigo apresenta um retrato abrangente do setor moageiro em 2024: crescimento constante da demanda, uso intensivo de trigo importado, gargalos logísticos e uma estrutura industrial que, embora resiliente, exige reforços estratégicos.
Rubens Barbosa conclui que a pesquisa reforça o papel da entidade em apoiar seus associados com dados consistentes. “Com base nesse levantamento, continuaremos trabalhando para fortalecer a cadeia produtiva do trigo, com foco em abastecimento, qualidade e previsibilidade para o mercado brasileiro”, afirma.