A transição de carreira é um desafio que muitos profissionais enfrentam ao longo da vida, mas para Jorge Nakid, essa mudança significou trocar os gramados do futebol profissional pelo campo da produção de queijos artesanais. O que começou como uma iniciativa familiar transformou-se em um empreendimento estruturado que hoje se destaca na produção de laticínios feitos 100% com leite de búfala.

Jorge Nakid iniciou sua carreira no futebol, passando pelas categorias de base do Palmeiras e defendendo clubes como o Fluminense. No entanto, sua trajetória nos gramados foi interrompida aos 24 anos, quando decidiu deixar a carreira esportiva para auxiliar nos negócios da família.
A origem dessa empreitada remonta à iniciativa de Seu José, pai de Jorge, que, após se aposentar, investiu suas economias na aquisição de um sítio no Vale do Ribeira, interior paulista. Com 70% da propriedade coberta por mata nativa, o desafio era encontrar uma atividade econômica viável que respeitasse o meio ambiente. A primeira tentativa com a criação de pintinhos fracassou devido a uma queda de energia que dizimou a produção. Buscando alternativas, Seu José percebeu potencial no leite das poucas vacas leiteiras que acompanhavam a fazenda e iniciou a produção artesanal de queijos.
O esporte que financiou um laticínio
Jorge, ao assumir a comercialização dos produtos da família, identificou um nicho promissor: os queijos de búfala. No entanto, expandir a produção demandava investimento, e foi então que sua história com o futebol voltou a desempenhar um papel decisivo. Jogando para um time amador, ele encontrou uma forma inusitada de arrecadar recursos: em vez de receber salário, sua remuneração era convertida em sete sacos de cimento por partida, permitindo a construção da estrutura necessária para profissionalizar o laticínio.
Com esse esforço, a pequena produção artesanal ganhou estrutura e escala, consolidando-se no mercado de laticínios. O trabalho de Jorge e sua família resultou na expansão da produção, mantendo um equilíbrio entre tradição e responsabilidade ambiental.
Sustentabilidade e manejo diferenciado
A produção de leite de búfala exige um manejo específico, e um dos diferenciais observados na propriedade é o fato de que esses animais são naturalmente mais resistentes a doenças, o que reduz a necessidade de medicação e intervenções intensivas. Além disso, o pasto onde se alimentam é livre de agrotóxicos, contribuindo para uma produção mais sustentável.
Atualmente, a propriedade processa mais de 10 milhões de litros de leite por ano e sua estrutura passou por sete expansões ao longo dos anos. O modelo de produção busca garantir a qualidade e autenticidade dos produtos, valorizando o trabalho artesanal sem comprometer a eficiência operacional.
Desafios e perspectivas para o setor
A história de Jorge Nakid reflete um fenômeno crescente no Brasil: a migração de profissionais de outras áreas para o agronegócio. Esse movimento tem impulsionado inovações na produção e novos modelos de negócio no setor.
A cadeia produtiva de leite de búfala ainda enfrenta desafios, como a necessidade de ampliar o acesso ao mercado e aumentar o reconhecimento dos consumidores sobre as vantagens nutricionais dos produtos. No entanto, histórias como a de Jorge mostram que o setor segue em crescimento, impulsionado pelo compromisso com a qualidade e pela capacidade de inovação dos produtores.
A transição do futebol para o campo pode ter sido inesperada, mas, para Jorge Nakid, foi a jogada certa para construir uma história de sucesso na produção de queijos artesanais.