Depois de uma safra difícil, marcada por chuvas intensas que comprometeram a produtividade nas principais regiões produtoras de tabaco do país, os agricultores do Sul do Brasil voltam a vislumbrar uma recuperação. Para o ciclo 2024/25, especialistas do setor estimam uma produção superior a 600 mil toneladas da planta, de acordo com projeções da Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil). A perspectiva otimista está associada à previsão de normalização das condições climáticas, que deve favorecer o desenvolvimento das lavouras.
O retorno ao patamar produtivo desejado, no entanto, não depende apenas do clima. Atentos às exigências da cultura, muitos produtores têm buscado aperfeiçoar o manejo do solo e da nutrição vegetal, visando lavouras mais estruturadas, uniformes e resistentes às adversidades. A adoção de técnicas mais eficientes e o uso de fertilização direcionada se tornaram estratégias-chave para garantir folhas mais pesadas e com melhor qualidade, dois dos principais parâmetros de sucesso no cultivo do tabaco.
“A folha de tabaco com maior peso está diretamente ligada à qualidade da estrutura radicular e foliar da planta, além de uma nutrição bem equilibrada”, explica a engenheira agrônoma Isabelle Vilarino, desenvolvedora de mercado e especialista em nutrição vegetal. Ela ressalta que um dos fatores críticos para o sucesso da lavoura é o enraizamento robusto, o que permite uma absorção mais eficiente dos nutrientes e maior tolerância a períodos de estresse hídrico.
No interior do Paraná, as experiências práticas têm confirmado a importância desses cuidados. No município de Prudentópolis, os produtores Juliano e Joari Parolim identificaram ganhos expressivos de produtividade ao apostarem na melhoria nutricional do solo. “Nossa produção saltou de 2.753 kg para 2.814 kg de fumo por hectare. Um aumento de 61 kg por hectare que faz diferença no final da colheita”, relata Juliano. O avanço, segundo ele, está relacionado a práticas de adubação mais direcionadas, com fornecimento de macro e micronutrientes em estágios decisivos do desenvolvimento da planta.
A poucos quilômetros dali, em Rio Azul, outro case chama atenção. A produção em uma das propriedades monitoradas subiu de 3.305 kg/ha para 3.768 kg/ha, um aumento de 463 kg por hectare, após ajustes no manejo nutricional realizados 20 dias após o transplantio das mudas. A janela de tempo é estratégica: esse é o período em que a planta começa a formar sua estrutura definitiva, sendo crucial o fornecimento adequado de potássio, boro, enxofre e cálcio.
A cultura do fumo é extremamente exigente em potássio, elemento que impacta diretamente na qualidade das folhas e na resistência da planta. “Também não podemos ignorar a sensibilidade da planta ao cloro. Por isso, a escolha dos fertilizantes e a forma como eles são aplicados fazem toda a diferença. O cálcio, por exemplo, atua no fortalecimento das paredes celulares, contribuindo para uma planta mais robusta, enquanto o boro colabora para a uniformidade das folhas, evitando rachaduras que comprometem o rendimento final”, destaca Isabelle.
O cenário atual evidencia uma virada técnica no campo. A busca por uma agricultura mais precisa e adaptada às especificidades da cultura do tabaco vem sendo impulsionada não apenas pela necessidade de elevar a produção, mas também pela urgência em minimizar os efeitos das mudanças climáticas, que devem seguir afetando a regularidade das safras no futuro.
A diversificação de práticas agronômicas e o foco no equilíbrio nutricional indicam um novo momento para o setor fumageiro no Brasil. A aposta é que, com lavouras mais bem estruturadas desde o solo, os produtores estejam mais preparados para enfrentar tanto os desafios climáticos quanto as exigências de mercado por um produto de maior qualidade.