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PRODUÇÃO EFICIENTE

SILAGEM DE QUALIDADE DEPENDE DE PRECISÃO EM CADA ETAPA DO PROCESSO

Cuidados técnicos na escolha da forrageira, colheita, compactação e vedação impactam diretamente no desempenho produtivo do rebanho
Um fator determinante é o tamanho das partículas após o corte. Para o Panicum, o ideal são fragmentos entre 1,5 e 2,5 cm. Foto: Divulgação.

Quando mal manejada, a silagem — uma das principais formas de conservação de forragem na pecuária — pode se tornar uma armadilha silenciosa. As perdas podem chegar a até 30% do material armazenado, segundo dados da Embrapa, e os prejuízos vão além da quantidade: a qualidade nutricional do alimento volumoso é determinante para o desempenho do rebanho. Por isso, o processo de ensilagem exige atenção a cada detalhe, desde a escolha da cultura até a vedação do silo.

O engenheiro agrônomo Thiago Neves Teixeira, mestre em conservação de forragens e técnico de sementes, destaca que a silagem é uma tecnologia de conservação, mas só será eficiente se houver qualidade desde a origem. “É impossível fazer uma silagem de alta qualidade a partir de um material forrageiro de baixa qualidade. O potencial do alimento começa no campo, e o produtor precisa entender isso”, reforça.

A escolha da cultura define o ponto de partida

A definição da forrageira ideal não deve considerar apenas volume de produção, mas também a digestibilidade e qualidade da fibra. Para forragens tropicais como o Panicum maximum, Teixeira recomenda variedades com maior proporção de folhas e menor teor de lignina, características que favorecem a digestão e aproveitamento de nutrientes pelo rebanho. “Essas escolhas impactam diretamente na qualidade bromatológica da silagem”, explica.

Manejo correto da lavoura evita prejuízos nutricionais

A lavoura precisa ser conduzida com protocolos técnicos bem definidos. A análise de solo, adubação equilibrada, controle de pragas, doenças e plantas daninhas são ações básicas, mas muitas vezes negligenciadas. “Mesmo com uma variedade de excelência, se a lavoura estiver mal manejada, não se alcança o potencial nutricional esperado”, alerta o engenheiro agrônomo.

Momento da colheita: o ponto exato faz diferença

A colheita deve ocorrer quando o teor de matéria seca da planta está entre 28% e 40%. No caso dos capins tropicais, o ponto ideal geralmente ocorre no início da fase reprodutiva, com valores mais próximos do limite inferior dessa faixa. “Fora desse ‘time’, corre-se o risco de prejudicar a fermentação ou comprometer a digestibilidade do alimento”, explica Teixeira. A Embrapa recomenda o uso de ferramentas práticas, como análises rápidas de umidade, para garantir precisão nesse momento decisivo.

Partículas no tamanho certo influenciam fermentação e saúde animal

Outro fator determinante é o tamanho das partículas após o corte. Para o Panicum, o ideal são fragmentos entre 1,5 e 2,5 cm. Abaixo disso, aumentam-se perdas por efluentes e riscos de distúrbios metabólicos; acima, há dificuldades na compactação e maior rejeição no cocho. “Esse é um ponto técnico que o produtor não pode ignorar. A homogeneidade no corte influencia a fermentação e a eficiência alimentar dos animais”, orienta o especialista.

Equipamentos precisam estar bem regulados

Uma boa regulagem das colhedoras e picadoras garante corte uniforme e adequado. Cortes excessivamente finos dificultam a ruminação; já os maiores comprometem a compactação. “É comum ver silagens com segregação de material por falhas de regulagem. Isso gera desperdício e afeta o desempenho dos animais”, observa Teixeira.

Compactação e vedação: o segredo do sucesso está no ar (ou na ausência dele)

A compactação eficiente visa expulsar ao máximo o oxigênio do interior do silo, condição essencial para uma fermentação anaeróbia adequada. O especialista reforça que o Panicum, por ser mais fibroso, exige atenção redobrada. Após a compactação, a vedação deve ser feita imediatamente com lona plástica resistente, de proteção UV e espessura adequada, evitando a reentrada de ar.

“A entrada de oxigênio ativa microrganismos indesejáveis que degradam os nutrientes e elevam a temperatura da silagem, causando perdas invisíveis, mas significativas”, explica Teixeira.

Sementes certificadas: o cuidado começa na origem

A silagem de qualidade também nasce com o uso de sementes de procedência confiável. “Sementes certificadas proporcionam maior uniformidade de crescimento, melhor aproveitamento por hectare e maior valor nutricional final da silagem”, destaca o agrônomo.

Aditivos podem ser aliados, quando bem escolhidos

O uso de inoculantes microbianos, especialmente os que produzem ácido lático, acelera a queda do pH e favorece uma fermentação estável. “Para capins tropicais, o uso adequado de inoculantes pode ser a diferença entre uma silagem que alimenta e uma que intoxica”, pontua o técnico.

Avaliação final: cheiro, cor, pH e temperatura

Ao final do processo, é essencial observar indicadores de sucesso da fermentação. Uma silagem ideal tem cheiro levemente ácido, cor verde-oliva e pH abaixo de 4,5. Também deve estar livre de mofos, bolores e não apresentar aquecimento. O tempo mínimo de fermentação gira entre 21 e 28 dias, dependendo da forrageira e do tipo de inoculante utilizado.

“Quando os processos são seguidos corretamente, a silagem pode ser armazenada por longos períodos sem perdas. Isso garante segurança alimentar e previsibilidade para o pecuarista”, finaliza Teixeira.

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