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GENÉTICA X TECNOLOGIA

Com genética afiada e protocolos modernos, Paraná impulsiona pecuária com foco em qualidade e eficiência reprodutiva

Com quase 9 milhões de cabeças de gado e destaque na produção leiteira, o estado aposta em programas reprodutivos atualizados e no uso estratégico da IATF para elevar a produtividade e encurtar ciclos de produção na pecuária de corte e leite
Uso da IATF em campo permite sincronização reprodutiva e maior controle nos índices de fertilidade dos rebanhos paranaenses. Foto: Divulgação

O Paraná, tradicional potência agropecuária, tem demonstrado que inovação e técnica são tão relevantes quanto volume produtivo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado possui um rebanho bovino estimado em quase 9 milhões de cabeças, ocupando o 9º lugar no ranking nacional. No entanto, o que realmente diferencia a pecuária paranaense não é apenas o número, mas a qualidade da carne e do leite, que se consolida com base em práticas reprodutivas modernas e no manejo cada vez mais técnico.

Uma das estratégias que mais se destaca nas propriedades rurais é a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), tecnologia que já faz parte da rotina produtiva do estado há mais de duas décadas. O método permite controlar com precisão o momento da ovulação das fêmeas, promovendo sincronia nos manejos e otimizando os índices de prenhez. “Algumas fazendas não têm mais a presença de touro”, relata o médico-veterinário Luigi Carrer Filho, diretor de Pecuária da Sociedade Rural do Paraná e representante técnico na região de Londrina, destacando o avanço da técnica e sua adesão massiva por parte dos produtores.

Além da eliminação do uso do touro, Carrer reforça que as exigências de qualidade impostas pelas cooperativas têm influenciado diretamente os padrões de produção. “As cooperativas exigem requisitos como idade, marmoreio, cobertura de gordura e bom rendimento de carcaça. Então temos uma pecuária onde a qualidade é um grande diferencial”, pontua o médico-veterinário. Entre os critérios estabelecidos, estão a idade máxima de 24 meses para abate e cobertura de gordura de 4 a 7 milímetros. Para atingir esses parâmetros, o cruzamento industrial entre raças zebuínas e britânicas tem sido amplamente adotado, aliado ao uso de até três IATFs consecutivas e terminação em confinamento.

A evolução da IATF, no entanto, não se limita ao campo. Carrer ressalta que os protocolos reprodutivos estão em constante aperfeiçoamento, com alterações nas dosagens hormonais e nos dias de aplicação. “A IATF não possui receita de bolo. Todo ano tem uma variável nova. Ela começou com manejo D0, D9 e D11; hoje a gente tem D0, D7 e D9”, exemplifica.

No centro dessas atualizações, estão os simpósios técnicos voltados à pecuária. Dois eventos em abril chamam a atenção dos profissionais do setor: o XI Simpósio de Eficiência em Produção e Reprodução Animal, no dia 10, durante a Expolondrina, e o Simpósio Pecuária de Corte Intensiva, no dia 24. Carrer reforça que esses encontros são fundamentais para o alinhamento das práticas com as novas descobertas da ciência.

Entre os temas abordados está o protocolo reprodutivo conhecido como Best Choice, que tem apresentado resultados expressivos ao empregar o hormônio GNRH no momento da inseminação. De acordo com o professor Roberto Sartori, da Esalq/USP, “o uso de GNRH neste protocolo aumenta em torno de cinco pontos percentuais o número de prenhezes de vacas e novilhas”. Sartori também destacará, durante o simpósio, o Rebreed21, um programa que possibilita ressincronizações superprecoces a cada 21 dias. “Com o Rebreed21, o pecuarista consegue encurtar bastante a estação reprodutiva e aumentar a probabilidade de emprenhar mais vacas em um menor espaço de tempo. Isso traz o benefício de produzir mais bezerros do cedo, hoje muito valorizados na pecuária brasileira”, explica o professor.

O Paraná também ocupa papel de protagonismo na produção leiteira nacional, sendo o segundo maior produtor do Brasil, com cerca de 4,4 bilhões de litros por ano. Nesse contexto, os avanços na reprodução não se restringem à carne bovina. Carlos Consentini, coordenador técnico e especialista em reprodução, aborda o desafio de reduzir o intervalo entre partos e alcançar índices de fertilidade cada vez mais altos no rebanho leiteiro. “O intervalo ideal não é um número exato, pois varia conforme as características do rebanho. Porém, uma média interessante para vacas de alta produção, aquelas acima de 30 kg/dia, seria, aproximadamente, 13 meses”, detalha.

Consentini aponta que propriedades com bom manejo nutricional, sanitário e foco no conforto animal têm conseguido índices superiores a 50% de concepção já no primeiro serviço pós-parto, resultado até recentemente impensável na pecuária leiteira. Tais marcas são obtidas com o uso de programas como o G-Synch, que combina uma pré-sincronização antes da IATF, além de ajustes específicos que potencializam a fertilidade de vacas em lactação. “A alta concepção no primeiro serviço é o carro-chefe da reprodução”, completa.

Enquanto a genética evolui e os protocolos se tornam mais assertivos, a pecuária paranaense demonstra que produtividade e eficiência caminham lado a lado, sempre guiadas por conhecimento técnico e inovação. A integração entre pesquisa, extensão rural e aplicação prática continua sendo o diferencial de um estado que, mesmo fora do topo em números absolutos, assume posição de destaque pela qualidade e consistência de sua produção agropecuária.

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