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MANEJO AGRÍCOLA

NEMATOIDE DE CISTO COLOCA A PRODUTIVIDADE DA SOJA EM RISCO NO CERRADO

Região registra crescimento acelerado da cultura nas últimas décadas, mas enfrenta desafios crescentes com a presença de patógeno que compromete raízes, absorção de nutrientes e estabilidade produtiva
De acordo com levantamento do MapBiomas, a área cultivada com soja no bioma cresceu mais de 15 vezes desde os anos 1980, alcançando cerca de 18 milhões de hectares. Foto: Divulgação.

Nas últimas décadas, o Cerrado brasileiro consolidou-se como uma das regiões mais estratégicas para o avanço da agricultura no país. De acordo com levantamento do MapBiomas, a área cultivada com soja no bioma cresceu mais de 15 vezes desde os anos 1980, alcançando cerca de 18 milhões de hectares. Essa expansão, marcada por ganhos expressivos de produtividade, também trouxe novos e antigos desafios, sobretudo no campo da fitossanidade. Um dos mais relevantes atualmente é o avanço do nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), organismo microscópico que afeta diretamente o desenvolvimento radicular da planta, comprometendo a absorção de água e nutrientes e, consequentemente, o potencial produtivo das lavouras.

“O nematoide está presente em grande parte das áreas produtivas do Brasil, mas é principalmente no Cerrado onde pode causar perdas expressivas ao longo das safras”, afirma Diego Palharini, consultor técnico especializado em produtos agrícolas e genética vegetal. Segundo ele, o impacto do nematoide pode ser severo e cumulativo. “O patógeno afeta o sistema radicular, reduz a capacidade de absorção da planta e impacta diretamente a produtividade. Se não houver um manejo adequado, o prejuízo tende a se agravar a cada ciclo agrícola”, pontua.

Manejo exige planejamento integrado

O controle do nematoide de cisto não é simples, tampouco rápido. A complexidade do manejo está na capacidade de sobrevivência do organismo no solo por várias safras, mesmo na ausência da planta hospedeira. Isso exige ações planejadas, continuadas e multifatoriais por parte dos produtores. Palharini destaca a importância de uma abordagem integrada, que combina diferentes estratégias para reduzir a infestação ao longo do tempo, considerando tanto o aspecto biológico quanto físico e químico do solo.

“O ponto de partida é a identificação das raças do nematoide presentes na área, pois isso permite direcionar o manejo de forma mais eficaz. Além disso, o controle exige rotação de culturas, uso de plantas de cobertura, manejo do solo com foco em estruturação física e equilíbrio químico, além da escolha criteriosa de cultivares resistentes”, explica o especialista.

Essa combinação de práticas tem se mostrado eficiente para reduzir as perdas e preservar a viabilidade econômica da cultura. No entanto, os desafios se acentuam quando o controle não é contínuo ou quando há seleção natural de raças mais agressivas ao longo dos anos, o que reforça a importância do monitoramento constante das áreas de cultivo.

Cultivares resistentes: um dos pilares do controle

Uma das estratégias mais eficazes contra o nematoide de cisto é o uso de cultivares geneticamente resistentes às principais raças do patógeno. Palharini explica que a resistência genética não elimina totalmente o problema, mas reduz significativamente o impacto causado na lavoura. “A escolha de cultivares adaptadas às condições do Cerrado, que combinem resistência e bom desempenho agronômico, é fundamental para manter a rentabilidade da área mesmo em regiões com alta pressão do nematoide”, reforça.

Ele acrescenta que, com base em estudos de distribuição e quantificação de raças de nematoides em áreas produtoras, o uso de cultivares com resistência múltipla pode reduzir em até 90% as ocorrências mais frequentes. Essa resistência, quando bem aplicada dentro de um plano de manejo amplo, permite maior estabilidade produtiva ao longo das safras, especialmente em regiões como o Cerrado, onde o solo e o clima oferecem condições ideais para a propagação do patógeno.

Monitoramento é ferramenta indispensável

Além da escolha de materiais genéticos adequados, o especialista enfatiza a necessidade de monitoramento técnico contínuo da lavoura. O acompanhamento da evolução da infestação permite ao agricultor tomar decisões mais precisas, como a alternância de estratégias de manejo e a prevenção da seleção de novas raças.

“O acompanhamento técnico e a adoção de medidas preventivas podem contribuir para reduzir a pressão da praga e evitar que o problema se agrave com o tempo. A integração de todas essas práticas é o que garante uma lavoura saudável e produtiva”, conclui Palharini.

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