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CAFEICULTURA: PRAGAS X PRODUTIVIDADE

CAFEICULTURA EM RISCO: COMO O AVANÇO DO BICHO-MINEIRO E O CLIMA EXTREMO AMEAÇAM A PRODUÇÃO NACIONAL

Com aumento de temperatura, estiagens prolongadas e alta infestação da praga, produtividade do café pode cair até 70%, segundo especialistas. Estimativas indicam perdas em milhões de hectares já nos próximos ciclos.
Clima seco e aumento de temperatura favorecem o ciclo do bicho-mineiro, exigindo manejo intensivo. Foto: Divulgação.

O Brasil, líder mundial na produção e exportação de café, enfrenta um momento de alerta na cafeicultura. A combinação de fatores climáticos extremos com a intensificação do ataque do bicho-mineiro, uma das pragas mais destrutivas do pé de café, ameaça seriamente a produtividade das lavouras e por consequência, a estabilidade do setor.

Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço do café já subiu 150% no último ano, refletindo diretamente a pressão exercida por uma safra cada vez mais comprometida. A situação tende a se agravar com as projeções de aumento médio de 1,5°C na temperatura entre 2030 e 2050, o que afeta diretamente o desenvolvimento do café arábica, o mais cultivado no país.

A temperatura ideal para o cultivo do café gira entre 18°C e 22°C. No entanto, com o avanço das mudanças climáticas, a estiagem prolongada favorece o ciclo do bicho-mineiro, que compromete a fotossíntese das plantas ao se alimentar das folhas do terço superior dos cafeeiros. “O impacto do bicho-mineiro vai além da safra atual. Ele interfere no desenvolvimento das floradas, reduz a qualidade dos grãos e pode comprometer até 70% da produtividade, caso o manejo não seja adequado”, alerta Fernando Gilioli, engenheiro agrônomo e gerente de marketing regional de empresa de pesquisa e desenvolvimento de soluções agrícolas.

A Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio projeta que a safra de 2025/26 pode registrar queda de 4,4% em relação ao ciclo anterior, com uma produção estimada de 51,8 milhões de sacas de 60 kg. Parte dessa redução já é atribuída ao estresse climático e ao avanço da praga. A previsão de chuvas, embora pontual, representa uma janela de oportunidade para ações fitossanitárias, especialmente a aplicação de inseticidas na parte aérea das plantas. Entretanto, especialistas advertem que, se o clima seco persistir, os efeitos sobre a produção podem ser ainda mais severos no próximo ciclo.

“O manejo fitossanitário exige mais do que reação: é preciso agir com planejamento. A identificação precoce das infestações, a escolha correta de estratégias de controle e o uso integrado de tecnologias são indispensáveis para preservar o cafezal”, reforça Gilioli.

A praga, antes restrita a algumas áreas específicas, agora avança para regiões antes menos afetadas. A adaptabilidade do bicho-mineiro ao clima seco o transforma em um inimigo silencioso, mas persistente. “Temos registros da presença de adultos e minas em diversas lavouras, indicando que a lagarta segue ativa. A aplicação via solo (drench) está em sua reta final e, em breve, a ação foliar será imprescindível para conter os surtos”, completa o engenheiro.

Atualmente, estima-se que cerca de 1,5 milhão de hectares de café estejam suscetíveis à infestação. O prejuízo não se limita à produção imediata: ele também compromete a sustentabilidade financeira dos cafeicultores, já que o impacto do bicho-mineiro pode persistir por mais de um ciclo produtivo.

O uso de práticas como rotação de princípios ativos, monitoramento contínuo e controle simultâneo de outras pragas e doenças é essencial. A adoção de um manejo integrado, com visão estratégica e preventiva, é vista como a melhor forma de enfrentamento desse cenário.

“O sucesso do manejo está diretamente ligado à continuidade das boas práticas agrícolas. Precisamos encarar o combate às pragas como parte da rotina de produção, e não como uma medida emergencial. O futuro da cafeicultura depende disso”, conclui Gilioli.

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