Os olhos atentos aos postos de gasolina agora também estão voltados para as prateleiras dos supermercados. O aumento nos preços dos combustíveis, já conhecido por pesar no bolso dos motoristas, pode ter um impacto ainda mais abrangente do que se imagina: influenciar de forma direta e indireta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a métrica oficial de inflação no Brasil.
Enquanto os números oficiais da inflação ainda não foram divulgados, as projeções já acendem sinais de alerta. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Ambima) apresentou números que indicam variações ao longo dos meses. O último relatório, que deve ser atualizado considerando os recentes aumentos nos combustíveis, indicava uma queda de -0,23% no IPCA de agosto. Entretanto, o Banco Central (BC) já expressou preocupações com os aumentos anunciados pela Petrobras, sugerindo que esses aumentos podem influenciar os números de inflação.
A Petrobras anunciou um aumento de R$ 0,41 por litro na gasolina e R$ 0,78 por litro no diesel. Isso resultará em um preço médio da gasolina nas refinarias em torno de R$ 2,93, representando um aumento de 16,3%. O valor médio do diesel aumentará para R$ 3,80, uma alta de 25,8%.
Fábio Pizzamiglio, diretor de empresa especializada em comércio exterior, enfatiza: “O aumento nos preços dos combustíveis pode ter um impacto significativo no IPCA, já que os custos de transporte e logística tendem a aumentar. Isso pode refletir nos preços de diversos produtos, incluindo alimentos, muitos dos quais dependem do transporte rodoviário para chegar aos mercados. Além disso, esse aumento também afeta diretamente os preços no mercado internacional, especialmente considerando o aumento nos custos para os produtores rurais”.
Pizzamiglio também destaca que o preço dos alimentos pode ser influenciado por vários fatores, como sazonalidades, oferta e demanda, variações cambiais e condições climáticas. Especialmente quando se considera o valor do dólar, o aumento dos preços dos combustíveis terá um impacto considerável no mercado nacional.
“Devemos considerar que, tanto para exportar alimentos quanto para atender ao mercado interno, existem variáveis que podem parecer distantes, mas que afetam diretamente os produtores. Com o valor do dólar em ascensão nos últimos dias e o aumento nos preços dos combustíveis, é possível observar um impacto direto nos custos de produção e nos preços dos alimentos para o consumidor final”, afirmou o executivo.
Esse cenário de aumento nos preços dos combustíveis e seu impacto nos preços dos alimentos e nos custos de produção do agronegócio já foi observado no último ano, quando a inflação registrou aumentos, principalmente nesse segmento. A cadeia produtiva do agronegócio está atenta aos desdobramentos dessa situação e suas implicações para a economia e a sociedade em geral.