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DESAFIOS CLIMÁTICOS E CAFEECULTURA

Cafeicultura brasileira e as mudanças climáticas: Desafios e estratégias sustentáveis para o futuro

Impactos ambientais reduzem a produção nacional de café; especialistas e produtores adotam inovação e manejo sustentável para minimizar perdas e garantir a qualidade
Diante desse cenário desafiador, produtores e especialistas da região têm investido em estratégias inovadoras para mitigar os impactos das mudanças climáticas e garantir a sustentabilidade da cafeicultura. Foto: Divulgação.

As mudanças climáticas têm se consolidado como um dos principais desafios para a cafeicultura no Brasil. A safra de 2024 registrou uma produção estimada de 54,79 milhões de sacas de 60 kg, uma leve queda de 0,5% em relação ao ano anterior, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Embora a redução pareça modesta, ela reflete um cenário preocupante de estiagens prolongadas, temperaturas extremas e eventos climáticos adversos que impactam diretamente a produtividade nas principais regiões produtoras do país.

No Cerrado Mineiro, uma das áreas mais afetadas, os produtores enfrentaram períodos prolongados de seca, temperaturas superiores a 40°C e geadas inesperadas, fenômenos que comprometeram a safra de forma significativa. O engenheiro agrônomo Fernando Couto, especialista do SEBRAE/Educampo da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), destaca que as adversidades climáticas resultaram em um déficit hídrico superior a 400 mm em determinadas áreas, comprometendo a produção. “Além do déficit hídrico, as altas temperaturas e as geadas causaram danos diretos, como a queima de ramos produtivos, e indiretos, afetando o desenvolvimento fisiológico das plantas e reduzindo seu potencial produtivo”, explica Couto.

Diante desse cenário desafiador, produtores e especialistas da região têm investido em estratégias inovadoras para mitigar os impactos das mudanças climáticas e garantir a sustentabilidade da cafeicultura.

Manejo inteligente para superar adversidades

A adoção de práticas de manejo avançadas e tecnologias sustentáveis tem sido uma das principais frentes para contornar os efeitos das mudanças climáticas. A Expocacer tem incentivado seus cooperados a implementarem sistemas de irrigação inteligente, que utilizam sensores de umidade e estações meteorológicas para otimizar o uso da água. Estudos apontam que lavouras irrigadas de forma eficiente podem produzir até 11 sacas de café por hectare a mais em comparação com áreas não irrigadas.

Outra medida essencial é o uso de práticas regenerativas, que incluem adubação orgânica e manejo do solo para melhorar a retenção de água e a saúde das raízes das plantas. Além disso, a mitigação da emissão de gases de efeito estufa tem sido uma prioridade. A Expocacer se tornou a primeira cooperativa de café do Brasil a adotar a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol, coordenado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces). Essa iniciativa permite monitorar e reduzir a emissão de gases poluentes, direcionando a cafeicultura para um modelo mais sustentável e alinhado às exigências do mercado global.

Capacitação e suporte técnico: O papel da educação na sustentabilidade

O engenheiro agrônomo, explica que a cooperativa de café, não apenas investe em tecnologia, mas também no conhecimento dos produtores. A parceria com o Sebrae Minas, por meio do Projeto Educampo, tem sido fundamental para auxiliar cafeicultores na gestão de suas propriedades. O programa disponibiliza consultores especializados que oferecem diagnósticos detalhados, monitoramento das lavouras e elaboração de planos de produção personalizados.

Désio Rodrigo, produtor da Fazenda Lidon Cachoeira Alta, em Guimarânia-MG, relata os benefícios que o Educampo trouxe para sua propriedade. “Com o manejo sustentável do solo e um planejamento mais estratégico, conseguimos minimizar os impactos das adversidades climáticas e garantir uma produção mais estável. Além disso, reduzimos custos operacionais e otimizamos o uso de insumos”, explica.

O suporte técnico proporcionado pelo programa permite que os produtores tenham uma visão mais ampla sobre sua produção, abrangendo desde a gestão financeira até a adoção de técnicas agronômicas inovadoras. “Com esse acompanhamento, conseguimos implementar soluções tecnológicas que melhoram a eficiência da fazenda, além de tornar nossa produção mais resiliente frente às mudanças climáticas”, acrescenta Désio.

A adaptação às mudanças climáticas já não é mais uma opção, mas uma necessidade para garantir a continuidade da produção cafeeira no Brasil. Com investimentos em inovação, práticas sustentáveis e capacitação dos produtores, o setor busca se fortalecer diante dos desafios ambientais. O Cerrado Mineiro, reconhecido mundialmente pela qualidade de seu café, tem demonstrado que, com planejamento e tecnologia, é possível enfrentar as adversidades e garantir a perenidade da atividade cafeeira no país.

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