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BIOTECNOLOGIA

Nanotecnologia brasileira combate o desperdício de alimentos e prolonga vida útil de frutas

Inovação com nanopartículas biodegradáveis promete reduzir perdas de até 45 milhões de toneladas de alimentos por ano
Grupo de cientistas desenvolvem novo método para retardar o amadurecimento de frutas. Foto: Divulgação.

O desperdício de alimentos é um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil e pelo mundo. Segundo o mais recente Relatório Diagnóstico sobre a Fome e o Desperdício de Alimentos no Brasil, mais de 45 milhões de toneladas de frutas, hortaliças e tubérculos são descartadas anualmente no país. Esse volume alarmante deve-se, em grande parte, a imperfeições visuais ou ao avançado grau de amadurecimento dos produtos.

Entre os principais vilões está o etileno, hormônio gasoso que acelera o processo de maturação ao estimular enzimas responsáveis pelo amolecimento e degradação dos alimentos. Frutas carnudas como o mamão, por exemplo, têm uma vida útil extremamente curta — apenas de dois a três dias mesmo sob refrigeração.

Para combater esse problema, um grupo de cientistas brasileiras desenvolveu uma solução revolucionária e acessível. As pesquisadoras Joana Pieretti, Profa. Dra. Amedea Seabra e Julia Veiga, com orientação da Dra. Ilana Bron e coorientação da Profa. Dra. Neidiquele Silveira, criaram um método inovador que promete transformar a cadeia de produção e comercialização de frutas no Brasil. O trabalho foi desenvolvido no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro), consolidando o país como um polo de pesquisa em nanotecnologia aplicada ao agronegócio.

A tecnologia: Nanopartículas contra o desperdício

A solução desenvolvida baseia-se em nanopartículas poliméricas biodegradáveis e biocompatíveis que contêm um composto doador de óxido nítrico. Este último atua diretamente na inibição do etileno, reduzindo o estresse oxidativo nas células das frutas e retardando significativamente o amadurecimento. De acordo com as pesquisadoras, as nanopartículas podem ser aplicadas de forma simples: por pulverização ou imersão das frutas em um líquido contendo o composto ativo.

“Nosso objetivo é evitar o desperdício, reduzindo perdas durante o transporte e a comercialização. Além disso, ampliamos as possibilidades de exportação ao aumentar a vida útil de produtos como o mamão, que é altamente perecível”, explica Joana Pieretti.

Benefícios da inovação

O impacto da tecnologia não se restringe apenas à redução do desperdício. A solução também apresenta benefícios financeiros para agricultores e comerciantes, que frequentemente enfrentam prejuízos devido à deterioração precoce dos produtos. A aplicação das nanopartículas permite:

  • Prolongar a vida útil de frutas carnudas;
  • Reduzir o amolecimento e a perda de massa;
  • Minimizar perdas no transporte e na armazenagem;
  • Ampliar mercados ao viabilizar o envio de produtos frescos para outros países.

“Com uma solução de baixo custo e alta eficácia, estamos criando condições mais sustentáveis para a produção de alimentos. A tecnologia também contribui para a segurança alimentar, já que menos alimentos são desperdiçados”, complementa a Dra. Amedea Seabra.

O impacto no contexto da fome e sustentabilidade

O desperdício de alimentos no Brasil está diretamente ligado à insegurança alimentar. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN) revelam que cerca de 33,1 milhões de brasileiros vivem em situação de fome. Reduzir as perdas no campo e no varejo pode fazer diferença significativa para mitigar esse cenário.

Por outro lado, a sustentabilidade também é um fator crucial. O uso de nanopartículas biodegradáveis garante que o impacto ambiental da solução seja mínimo, alinhando-se aos objetivos globais de desenvolvimento sustentável e às demandas por tecnologias verdes.

O futuro da nanotecnologia na agricultura

A pesquisa conduzida pelo INCT NanoAgro é um exemplo de como a ciência e a inovação podem contribuir para solucionar problemas estruturais do setor agroalimentar. Com o registro de patente já garantido, a expectativa é que a tecnologia seja incorporada ao mercado em breve, beneficiando agricultores, distribuidores e consumidores.

A revolução silenciosa promovida por essas cientistas coloca o Brasil na vanguarda da nanotecnologia aplicada à agricultura. Mais do que uma solução técnica, trata-se de um passo decisivo na construção de um sistema alimentar mais eficiente, sustentável e justo.

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