O conceito de Manejo Integrado de Paisagens (MIP) vem sendo cada vez mais adotado no Brasil como uma estratégia para conciliar a produção agrícola com a preservação ambiental. Esse modelo de manejo, que combina o conhecimento tradicional com tecnologias inovadoras, visa promover a sustentabilidade nas lavouras e proteger a biodiversidade, com foco específico na proteção dos polinizadores, como as abelhas. Para especialistas como Laércio Zambolim, professor da Universidade Federal de Viçosa e especialista em Manejo Fitossanitário, adotar práticas que conciliem a agricultura com a preservação da natureza é uma necessidade urgente para o futuro do agronegócio brasileiro.
A relação entre polinizadores e produtividade agrícola não pode ser subestimada. Laércio Zambolim destaca que, embora o Brasil tenha sistemas agrícolas altamente produtivos, as abelhas e outros polinizadores são fundamentais para a polinização de diversas espécies cultivadas, essenciais para a segurança alimentar. “Esses organismos são responsáveis pela polinização de muitas plantas agrícolas, sendo diretamente responsáveis pela produção de diversos alimentos. No entanto, práticas agrícolas intensivas e o uso inadequado de agrotóxicos podem prejudicar esses organismos, ameaçando tanto a produtividade quanto a biodiversidade”, explica Zambolim, alertando para a urgência de práticas agrícolas responsáveis.
O especialista sugere que a integração lavoura-pecuária e a rotação de culturas são abordagens que ajudam a garantir o equilíbrio ecológico sem comprometer a produtividade agrícola. “Essas técnicas visam reduzir a pressão sobre o solo e os ecossistemas, promovendo um ambiente mais equilibrado e sustentável para a agricultura”, pontua Zambolim.
Outro ponto crucial para Zambolim é a criação de corredores ecológicos, faixas de vegetação nativa que funcionam como refúgios para os polinizadores e outros organismos benéficos ao ecossistema. Ele destaca que essas áreas não apenas oferecem abrigo e alimento para as abelhas, mas também ajudam no controle de pragas e no aumento da biodiversidade. “A criação de áreas vegetativas ao longo das lavouras cria um ambiente seguro para os polinizadores, além de fornecer serviços ecológicos vitais, como o controle natural de pestes e o aumento da qualidade do solo”, explica Zambolim.
O professor também salienta a importância das áreas de preservação permanente (APPs) e das reservas legais, que são fundamentais para a preservação de habitats naturais. Essas áreas funcionam como refúgios de biodiversidade e contribuem para o equilíbrio ecológico necessário para uma agricultura sustentável. “Essas áreas não apenas ajudam na proteção dos cursos d’água e na evitação da erosão do solo, mas também garantem a sobrevivência de diversas espécies, incluindo as que polinizam as plantações”, observa Zambolim.
O uso de defensivos agrícolas é um dos pontos mais discutidos quando se fala em impactos ambientais. Zambolim defende a adoção de defensivos seletivos, que atuam de maneira mais específica nas pragas, sem afetar polinizadores e outros organismos benéficos. “A escolha de produtos que causem menos impacto sobre o meio ambiente e que sejam direcionados apenas para as pragas é fundamental para a sustentabilidade da produção agrícola”, afirma Zambolim. Ele também enfatiza a importância da educação dos produtores no uso de defensivos, com treinamentos sobre como aplicar os produtos de forma mais eficiente e menos prejudicial ao ecossistema.
Zambolim, destaca que o uso excessivo e indiscriminado de produtos químicos pode não apenas prejudicar as abelhas e outros polinizadores, mas também comprometer a saúde do solo e dos corpos d’água, colocando em risco a própria produção agrícola a longo prazo. “Devemos ter cuidado para não prejudicar o equilíbrio natural do sistema agrícola. O uso consciente de defensivos é uma das melhores maneiras de garantir que a agricultura seja tanto produtiva quanto sustentável”, explica.
A integração entre agricultores e apicultores é fundamental para alcançar a sustentabilidade no agronegócio. Zambolim enfatiza que a troca de conhecimentos e a educação ambiental são essenciais para que as práticas agrícolas e a proteção dos polinizadores andem lado a lado. “O diálogo entre os diferentes atores do agronegócio é essencial. Agricultores, pesquisadores e apicultores precisam trabalhar juntos para adotar práticas que protejam a biodiversidade, sem prejudicar a produção agrícola”, afirma Zambolim.
Além disso, ele aponta que a criação de corredores ecológicos, o uso responsável de defensivos e a preservação das áreas de vegetação nativa podem ser incentivadas por meio de programas de capacitação e treinamentos específicos. Esses programas devem fornecer aos produtores as ferramentas necessárias para tomar decisões mais sustentáveis no campo.
O Manejo Integrado de Paisagens representa uma solução viável para o futuro da agricultura no Brasil, integrando tecnologias inovadoras e práticas tradicionais para promover a sustentabilidade e produtividade. A proteção dos polinizadores e a preservação da biodiversidade devem ser pilares centrais dessa transformação. O diálogo constante entre os agricultores, pesquisadores e apicultores é imprescindível para que as práticas de manejo se tornem uma realidade no campo.
Como afirma Zambolim, é necessário um compromisso conjunto para garantir que a agricultura brasileira continue a ser uma potência global, mas de forma responsável e sustentável. “O agronegócio do futuro precisa ser mais do que apenas produtivo. Ele precisa ser sustentável, equilibrado e integrado com o meio ambiente, para que as gerações futuras também possam usufruir da riqueza natural do Brasil”, conclui Zambolim.