As chuvas persistentes, particularmente nas regiões de destaque na produção de trigo no Brasil, como Paraná e Rio Grande do Sul, estão deixando uma marca indelével na safra deste ano. As implicações dessas condições climáticas foram discutidas pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo – Abitrigo.
À medida que o país se aproxima do final de sua safra, as projeções apontam para uma produção menor em comparação com os resultados do ano anterior. De acordo com Fernando Wagner, Gerente Regional LATAM da Biotrigo Genética, a estimativa mais recente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sugere uma produção de 10,4 milhões de toneladas de trigo.
Wagner observa que a influência do clima quente na região Sul, acelerando o ciclo de desenvolvimento da cultura, é um fator que contribui para a redução da produtividade. A produtividade estimada pela Conab está em torno de 3 mil kg/ha.
Impactos das chuvas na região Sul
No Paraná, o estado menos afetado pelas chuvas intensas, a colheita foi antecipada, de acordo com José Gilmar de Oliveira, analista de mercado. Ele ressalta que o trigo já colhido apresenta boa qualidade, mas o cereal que ainda permanece no campo está sob risco de ser afetado pelas chuvas.
Na região dos Campos Gerais, por exemplo, ainda era possível aplicar fungicida nas lavouras de trigo, mas as condições climáticas impediram esse procedimento. No entanto, mesmo com esses desafios, espera-se uma safra de 4,5 milhões de toneladas no Paraná.
Por outro lado, o Rio Grande do Sul, que teve o maior volume de trigo na safra anterior, está enfrentando os impactos das chuvas de forma mais intensa. O excesso de chuva reduziu o potencial produtivo das lavouras, sem uma estimativa de volume de produção definida devido às perdas causadas por esse fenômeno.
As expectativas para a safra de trigo em Santa Catarina também foram reduzidas. De acordo com Norberto Risson dos Santos, fundador da Corretora de Grãos, a projeção mais otimista atualmente é de 410 mil toneladas, em comparação com as estimativas iniciais de 470 mil toneladas. A qualidade do trigo produzido está sendo afetada devido às chuvas, o que aumenta os custos para os produtores manterem o cereal em boas condições.
Cenários em São Paulo e no cerrado
São Paulo tem visto um aumento constante na sua safra nos últimos anos, ultrapassando 500 mil toneladas de trigo em 2022. Para 2023, Ruy Zanardi, Presidente da Câmara Setorial do Trigo no estado, projeta uma colheita em torno de 520 mil toneladas, com ganhos significativos em qualidade.
Cerca de 95% da safra paulista já foi colhida, com uma pequena parcela do total ainda sujeita às condições climáticas. A qualidade do trigo deste ano é superior à safra anterior, o que é promissor para a cadeia produtiva de São Paulo.
O Cerrado, por sua vez, segue um caminho contrário em relação a outras regiões produtoras. Mesmo com chuvas e um ciclo de desenvolvimento do trigo acelerado pelo clima quente, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Distrito Federal estão registrando as maiores áreas plantadas e volumes de produção já registrados. Espera-se uma safra próxima de um milhão de toneladas de trigo para 2023, com qualidade excepcional. A tendência é que mais área seja destinada à produção do cereal nos próximos anos.