Os preços do café arábica seguem em ritmo acelerado de valorização, ultrapassando a marca de 20% no acumulado do ano. A alta reflete uma combinação de fatores que incluem a expectativa de uma safra reduzida no Brasil para 2025/26, estoques globais em patamares baixos e um cenário financeiro mais pressionado na Bolsa de Nova York (NY). Apesar do momento positivo para os produtores, especialistas alertam que os custos elevados podem afetar a demanda e redesenhar a dinâmica do mercado nos próximos meses.
Preços em alta e estoques em queda
Os contratos futuros de café arábica continuam sua escalada, com o vencimento de março de 2025 ultrapassando os 430 centavos de dólar por libra-peso. Segundo Laleska Moda, analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets, esse movimento é impulsionado por uma expectativa de menor oferta brasileira em 2025/26, além da alta comercialização da safra 2024/25 e dos baixos estoques globais. “O aumento dos custos de operação na Bolsa de NY também tem exercido pressão sobre as cotações, elevando a volatilidade do mercado”, destaca.
Os produtores, por sua vez, estão capitalizados e sem pressa para vender, esperando melhores oportunidades de preço. O movimento de alta também afeta o café robusta, ampliando a arbitragem entre as variedades.
Além do desequilíbrio entre oferta e demanda, o mercado enfrenta custos operacionais mais elevados. As margens iniciais da Bolsa de NY aumentaram cerca de 10% para o contrato de maio de 2025, tornando esse o vencimento mais negociado do momento. Esse fator pode forçar traders com menor acesso a crédito a liquidar posições, intensificando a recompra de contratos futuros e, consequentemente, elevando a volatilidade.
“O atual spread entre contratos tem aumentado a necessidade de capital, encarecendo as operações. Com isso, a rolagem de posições fica mais onerosa, o que afeta diretamente a estrutura de custos do setor”, explica Laleska.
Sinais de enfraquecimento da demanda
Apesar do cenário favorável para os produtores, especialistas apontam preocupações quanto ao impacto dos preços elevados na demanda. No Brasil, indicadores mostram que o mercado interno pode não estar absorvendo totalmente as valorizações dos futuros. O basis do café arábica tipo 6 bebida dura e do 600 def apresentou queda em fevereiro, sugerindo uma demanda interna enfraquecida. Além disso, a recente desvalorização do dólar frente ao real também contribui para esse movimento.
No cenário internacional, os diferenciais do café arábica perderam força desde fevereiro, sinalizando um desaquecimento da demanda global. No Brasil, o diferencial do fine cup 17/18 encontra-se estagnado, enquanto em Honduras, já está negativo, reflexo do avanço da colheita no país.
Repasse ao consumidor e possíveis impactos
Com preços elevados e custos operacionais mais altos, as torrefadoras já sinalizam a necessidade de repassar os aumentos ao consumidor. Segundo Laleska, três grandes torrefadoras brasileiras confirmaram reajustes nos preços até março. Além disso, a Nestlé anunciou aumentos globais acima do esperado, reforçando preocupações sobre um possível impacto negativo no consumo.
O setor agora monitora como esses aumentos serão absorvidos pelo mercado consumidor e se haverá alguma retração no consumo de café ao longo de 2024. Enquanto isso, produtores e investidores seguem atentos às projeções climáticas, às oscilações cambiais e às próximas decisões do Federal Reserve, que podem impactar ainda mais o cenário econômico global do setor cafeeiro.