A busca por mais eficiência, previsibilidade e qualidade genética na produção de bezerros tem levado criadores de gado em diversas regiões do país a investir em tecnologias reprodutivas avançadas. A fertilização in vitro (FIV), uma dessas biotecnologias, tem se consolidado como ferramenta estratégica no campo ao permitir o uso intensivo de fêmeas geneticamente superiores, além de contribuir para o controle reprodutivo e ganhos expressivos em produtividade.
Na região de Itabira, em Minas Gerais, uma experiência conduzida por uma agropecuária especializada em cruzamento industrial com raças como Simental, Simbrasil, Nelore e Guzerá, revela o potencial real da FIV aplicada com planejamento técnico. A fazenda iniciou um trabalho voltado à intensificação do melhoramento genético com a aspiração de 84 doadoras, incluindo bezerras jovens, utilizando embriões tanto para transferência a fresco em receptoras multíparas lactantes quanto para congelamento pela técnica Direct Transfer (DT).
De acordo com o médico-veterinário Douglas Gonzaga, responsável técnico pela propriedade, os resultados obtidos após a adoção da nova metodologia foram expressivos. “Acompanhamos há mais de quatro anos a média de oócitos por doadora. Antes, tínhamos uma média de 19 oócitos. Após a adoção do novo protocolo, esse número saltou para 29,8 oócitos por doadora, totalizando 3.092 oócitos aspirados”, relata o profissional.
Além do aumento significativo na coleta de oócitos, os índices de produção de embriões também surpreenderam. Segundo Gonzaga, a média anterior era de três embriões por doadora. Com os novos métodos, essa média passou para nove embriões por doadora, sendo sete viáveis para congelamento, resultado que quase quadruplica a média inicial de 1,9 embriões congeláveis.
Outro dado que chama atenção é a taxa média de prenhez com embriões frescos, que atingiu 55% na propriedade – um número considerado acima da média nacional. Esse índice revela não apenas a qualidade genética envolvida, mas também a eficácia dos protocolos aplicados ao longo do processo, da coleta à transferência.
Para a zootecnista Namíbia Teixeira, gerente de uma empresa especializada em biotecnologia reprodutiva que participou do projeto, os bons resultados são fruto da integração entre tecnologia de ponta e manejo técnico personalizado. “Cada coleta é acompanhada de perto, com protocolos adaptados à realidade de cada rebanho. Nosso foco é transformar o potencial genético em resultados mensuráveis”, afirma.
A personalização dos protocolos, segundo ela, leva em conta variáveis como idade, estado fisiológico e histórico reprodutivo das doadoras, além de fatores ambientais que podem influenciar diretamente a eficiência do procedimento.
O ganho em eficiência reprodutiva, na avaliação do médico-veterinário Douglas Gonzaga, também refletiu em melhorias práticas no cotidiano da fazenda. “Reduzimos o número de aspirações e aumentamos o aproveitamento genético das nossas doadoras, o que resultou em otimização de tempo, melhoria no manejo e redução de custos operacionais”, destaca.
Apesar dos avanços, os especialistas reforçam que o sucesso da técnica depende de planejamento, acompanhamento técnico constante e escolha criteriosa das doadoras. “A FIV não é uma solução isolada. Ela precisa estar integrada a um programa de gestão reprodutiva bem estruturado”, reforça Namíbia.
A experiência conduzida em Itabira se soma a um movimento crescente no país de uso intensivo de biotecnologias para ampliar o progresso genético em menor tempo e com maior segurança. Em um setor onde a eficiência reprodutiva se traduz em ganho econômico e sustentabilidade, a fertilização in vitro mostra que tem espaço consolidado nas estratégias dos produtores que buscam qualidade, produtividade e inovação.