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TECNOLOGIA NO CAMPO

IRREGULARIDADE CLIMÁTICA REDESENHA A AGRICULTURA EM MS E ACELERA A BUSCA POR TECNOLOGIAS DE RESILIÊNCIA

Oscilação das chuvas, perdas na produtividade e avanços na irrigação por gotejamento colocam Mato Grosso do Sul no centro da adaptação agrícola frente às mudanças climáticas globais
Área de milho safrinha impactada pela escassez de chuvas, um desafio que se repete por três safras consecutivas. Foto: Divulgação.

A cada nova safra, o Mato Grosso do Sul reforça seu protagonismo no agronegócio nacional, mas também escancara os efeitos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas sobre sua produção agrícola. Com verões escaldantes, invernos secos e chuvas cada vez mais imprevisíveis, o estado, que responde por volumes expressivos de soja, milho e trigo, tem enfrentado perdas significativas causadas pela irregularidade climática — fenômeno que se intensifica ano após ano.

Dados da safra 2024/2025 revelam que 48% da área plantada de soja em MS foi prejudicada pela ausência de chuvas em períodos cruciais, como o enchimento de grãos. “A distribuição das chuvas é cada vez mais incerta. Essa instabilidade climática tem afetado diretamente o desempenho das lavouras, reduzindo o potencial produtivo e impondo desafios técnicos ao produtor rural”, afirma Nathan Harrisson Leite, representante técnico de vendas de grãos, que acompanha de perto o comportamento das lavouras no estado.

Nos últimos três anos, o milho safrinha, altamente dependente da umidade no período seco, acumula prejuízos consideráveis. Em várias regiões do estado, produtores enfrentaram quedas drásticas na produtividade, que chegaram a comprometer até 40% da produção esperada em determinadas áreas.

Diante desse cenário, a busca por soluções tecnológicas se intensificou, principalmente aquelas voltadas à mitigação do estresse hídrico. Entre as inovações que mais ganham espaço está a irrigação por gotejamento subterrâneo, uma estratégia que alia precisão, sustentabilidade e economia. “Esse sistema permite que água e nutrientes sejam aplicados diretamente na raiz da planta, reduzindo perdas por evaporação e otimizando a absorção. É possível economizar até 50% de água em comparação com métodos tradicionais”, explica Leite.

Além da eficiência hídrica, o modelo viabiliza a fertirrigação, técnica que integra a aplicação de fertilizantes ao sistema de irrigação, otimizando o uso de insumos e minimizando impactos ao solo. “A adoção dessas tecnologias é uma forma de o produtor enfrentar o estresse climático sem comprometer os recursos naturais. Trata-se de uma agricultura mais inteligente e comprometida com o futuro”, reforça o especialista.

Esse movimento de adaptação está em sintonia com programas estaduais e federais que estimulam práticas sustentáveis no campo, como o MS Irriga, ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e PROSOLO. Essas políticas fomentam o uso racional da água, a preservação dos solos e a recuperação de áreas degradadas. Para Leite, iniciativas desse tipo são fundamentais para manter o equilíbrio entre produtividade e conservação ambiental. “Percebe-se uma crescente conscientização por parte dos agricultores em relação à sustentabilidade e ao papel que desempenham na segurança alimentar global.”

A geografia do estado também influencia as decisões técnicas. Enquanto as regiões sul e leste de MS, com predominância de Latossolos Vermelhos, apresentam fertilidade natural mais favorável, o norte do estado exige cuidados específicos devido à presença de solos mais arenosos, que retêm menos água e nutrientes, exigindo maior precisão no manejo e aplicação de insumos.

Apesar dos desafios, a produção de grãos continua como pilar econômico do Mato Grosso do Sul. A soja responde por 54% do Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária estadual, evidenciando sua importância não apenas econômica, mas também social. “Os municípios com maior produção de soja apresentam os melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, o que comprova que o agronegócio gera impactos positivos em cadeia”, observa Leite.

Contudo, nem tudo são números positivos. O setor ainda enfrenta gargalos logísticos relevantes, como a ausência de infraestrutura ferroviária para o escoamento de grãos e a limitação de capacidade de armazenagem. Associado a isso, a alta volatilidade dos preços das commodities e o aumento no custo de insumos adicionam uma camada de incerteza à atividade agrícola, exigindo do produtor cada vez mais planejamento e eficiência.

Para os próximos anos, as projeções apontam para a expansão da área cultivada, sobretudo pela conversão de pastagens em áreas de lavoura, com foco em práticas sustentáveis e tecnologias de precisão. “A expectativa é de uma transformação profunda no modo de produzir. O futuro da agricultura passa pela integração entre tecnologia, conservação ambiental e segurança alimentar”, conclui Leite.

Neste novo cenário, o campo sul-mato-grossense se torna uma vitrine da agricultura resiliente e inovadora que o Brasil precisa para continuar alimentando o mundo, mesmo diante de um clima cada vez mais desafiador.

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