O campo brasileiro segue abrindo espaço para novas formas de produzir com eficiência e responsabilidade ambiental. Em Uberaba (MG), a chamada Cidade do Agro se torna palco de um estudo inédito sobre o cultivo da mandioca, conduzido pela Universidade do Agro, em parceria com a Embrapa Cerrados. A pesquisa, iniciada em novembro de 2024, entra agora em uma segunda fase que poderá redefinir o manejo dessa cultura no bioma do Cerrado.
O foco da nova etapa é o uso da tecnologia Mauschen, uma cobertura plástica aplicada sobre o solo que cria um microambiente controlado para o desenvolvimento das plantas. O método, já consagrado em hortaliças como tomate, morango e pimentão, chega pela primeira vez à mandioca em experimentos dessa escala.
“O objetivo é avaliar o potencial da técnica para aumentar de forma significativa a produtividade da mandioca, reduzir o crescimento de plantas invasoras e gerar benefícios ambientais, como economia de água e fertilizantes”, explica Ricardo Mendonça, professor do curso de Agronomia e coordenador do projeto.
Segundo ele, a pesquisa pretende ainda observar se o uso do Mauschen pode antecipar ou prolongar o período de colheita, mantendo a qualidade e o teor de amido das raízes. “A expectativa é que essa tecnologia traga avanços relevantes para o cultivo na região, unindo inovação, sustentabilidade e incremento de resultados para o agronegócio”, completa o pesquisador.
Para a Embrapa Cerrados, o experimento é estratégico por unir ciência aplicada e valorização de cultivos tradicionais. De acordo com o melhorista e chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da instituição, Eduardo Alano Vieira, a fase atual é decisiva para definir a chamada curva de colheita, ou seja, o período ideal em que as raízes devem ser retiradas do solo para garantir melhor rendimento e qualidade.
“Estamos testando a cultivar de mandioca de mesa BRS 429, já recomendada para o Cerrado, e comparando-a a um clone em fase de avaliação para possível lançamento. As análises serão feitas aos 8, 10, 12, 14 e 16 meses após o plantio, permitindo identificar o momento ideal de colheita para cada material genético nas condições específicas de Uberaba”, detalha Vieira.
Além de medir produtividade, o estudo busca compreender como a cobertura plástica influencia o microclima do solo, a retenção de umidade, o controle de plantas daninhas e o uso eficiente de nutrientes. Essa abordagem reforça a importância da pesquisa agropecuária no enfrentamento das mudanças climáticas, especialmente em áreas de solo arenoso e com regime irregular de chuvas, como ocorre no Cerrado mineiro.
A mandioca, tradicionalmente cultivada em sistemas de baixa tecnologia, vem ganhando espaço em projetos de inovação que combinam ciência e sustentabilidade. O experimento em Uberaba representa um marco nesse avanço, ao propor uma integração entre conhecimento científico, manejo racional e valorização de cultivos regionais.
Os resultados obtidos nesta fase poderão servir de base para novos protocolos de manejo adaptados ao Cerrado, ampliando o uso da tecnologia em outras regiões e contribuindo para o fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca, cultura que sustenta pequenos e médios produtores em todo o Brasil.