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Soja em 2024: Estoques ameaçados e pressão nos preços marcam o segundo semestre

Esmagadoras brasileiras enfrentam desafios de compra e estoque enquanto o mercado se ajusta às novas realidades do setor.
Grãos de soja. Foto: Divulgação.

O mercado de soja no Brasil em 2024 está sob uma crescente pressão, tanto em termos de disponibilidade quanto de preços, especialmente à medida que entramos no segundo semestre do ano. Segundo o relatório mais recente da Hedgepoint Global Markets, o cenário é de atenção para as esmagadoras, que precisarão intensificar suas compras para garantir a continuidade das operações.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), o Brasil esmagou 26,9 milhões de toneladas de soja até o final de junho. Considerando a média dos últimos três anos, estima-se que em julho esse número tenha alcançado 31,7 milhões de toneladas, o segundo maior volume registrado desde 2017. No entanto, as esmagadoras têm estoques para apenas dois meses de operação, o que as obriga a adotar uma postura mais agressiva nas compras para evitar escassez.

Ignacio Espinola, analista sênior de grãos da Hedgepoint, destaca a importância de se considerar a média dos últimos três anos para projetar o futuro próximo do mercado. Ele alerta que, para cobrir as necessidades até o final do ano, o setor precisará adquirir cerca de 12,4 milhões de toneladas adicionais de soja, o que representa um aumento significativo no ritmo de compras em relação aos anos anteriores.

“O mercado brasileiro de soja exportou 75,4 milhões de toneladas até julho. Estimamos que o país exportará um total de 92,4 milhões de toneladas até o final do ano, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)”, explica Espinola. Com essa forte demanda externa, especialmente da China, o Brasil agora se depara com a necessidade de equilibrar as exportações com a demanda interna, o que pode resultar em uma elevação dos preços locais.

A situação é ainda mais complexa quando se considera a política de estoques de segurança das esmagadoras. Até o final de julho, as esmagadoras compraram um total de 40,2 milhões de toneladas, o que lhes dá cerca de 8,5 milhões de toneladas para processar. No entanto, para manter o ritmo de esmagamento até dezembro e garantir o estoque de segurança necessário, o setor precisará adquirir um total de 20,9 milhões de toneladas até o final do ano, o que é quase 2,5 vezes a média dos últimos três anos.

“Se o setor continuar comprando no ritmo atual, não será capaz de cobrir os 12,4 milhões de toneladas necessárias, nem manter os estoques de segurança adequados”, ressalta Espinola. Isso cria um cenário onde as esmagadoras terão que competir mais intensamente pelos grãos disponíveis, elevando os preços no mercado local e tornando mais atraente para os produtores venderem para as esmagadoras em vez de exportarem.

A expectativa é que, com o início do programa de exportação de milho do Brasil, haja um aumento nos preços dos grãos destinados ao esmagamento. Além disso, o efeito da demanda chinesa, que vem mudando para grãos de origem americana nesta época do ano, pode contribuir para um aumento ainda maior nos preços locais.

Espinola também sugere que, diante de um mercado caro, algumas esmagadoras podem optar por realizar manutenções anuais durante o segundo semestre para ajustar as plantas e evitar esmagar soja a preços elevados. “Estamos observando uma construção de basis em regiões como Mato Grosso, o que indica uma expectativa de pressão contínua sobre os preços locais”, conclui.

Este cenário coloca o setor em alerta máximo, exigindo uma estratégia cuidadosa para evitar interrupções na cadeia produtiva e garantir a competitividade no mercado global. À medida que avançamos para o final de 2024, o mercado de soja brasileiro estará sob intenso escrutínio, com todos os olhos voltados para como as esmagadoras irão navegar por este período desafiador.

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