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MILHO SEGUNDA SAFRA

SEGUNDA SAFRA DE MILHO CRESCE EM ÁREA E PODE SER RECORDE, MAS GRIPES AVIÁRIAS TRAZEM INCERTEZA AO MERCADO

Rally da Safra estima produção de 112,9 milhões de toneladas na segunda safra de milho, com aumento de área e produtividade, mas avanço da gripe aviária preocupa setor pela pressão sobre consumo e exportações
Técnicos percorrem lavouras no Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rondônia em busca de dados sobre produtividade da segunda safra de milho, que pode atingir volume recorde mesmo diante de riscos sanitários. Foto: Eduardo Monteiro/Rally da Safra

A segunda safra de milho brasileira em 2025 se desenha como uma das mais robustas da história, mas carrega consigo um alerta: os riscos provocados pela gripe aviária podem interferir significativamente nas exportações e no consumo interno, especialmente no segmento de proteína animal, grande consumidor do grão. O cenário foi apresentado nesta fase do Rally da Safra, principal expedição técnica de campo do país, que iniciou a etapa de avaliação das lavouras no início de maio.

A estimativa preliminar da Agroconsult, responsável pelo levantamento, aponta para uma produção de 112,9 milhões de toneladas apenas na segunda safra — um crescimento expressivo de 10,5% em relação à temporada passada. Com a primeira safra somada, a produção total de milho pode alcançar 140 milhões de toneladas, ficando muito próxima do recorde absoluto registrado na safra 2022/2023, de 141,8 milhões de toneladas.

Segundo André Debastiani, coordenador da expedição, a área plantada total de milho deve atingir 22,2 milhões de hectares, superando os 21,6 milhões da safra anterior, mas ainda inferior à marca histórica da safra 22/23, que chegou a 22,9 milhões. Na segunda safra especificamente, foram 17,9 milhões de hectares, aumento de 6,1% sobre o ciclo passado.

Mesmo com o crescimento da área, havia dúvidas sobre o desempenho produtivo em campo, especialmente pela janela tardia de plantio causada pelo alongamento do ciclo da soja. “Trata-se de uma segunda safra de milho com crescimento expressivo de área, mas que carregava uma dúvida grande sobre seu potencial produtivo em razão das lavouras terem sido implementadas em calendário de maior risco. O receio dos produtores acabou se dissipando com as boas chuvas de abril e que se estenderam até o início de maio, período mais importante para a definição do potencial produtivo das lavouras”, explica Debastiani.

A produtividade nacional da segunda safra está estimada em 105 sacas por hectare, crescimento de 4,1% em relação à safra passada. O índice ainda não é o maior já registrado, mas os dados preliminares indicam potencial elevado, especialmente em estados como Mato Grosso e Goiás. “Já nesse início da etapa milho, apesar de sabermos que existem alguns problemas, como é o caso do Oeste do Paraná, não há estados em situação crítica. Ao contrário: Mato Grosso e Goiás já estão com sua safra praticamente definida e têm tudo para ultrapassar os recordes anteriores, a depender dos resultados de campo”, afirma Debastiani.

De acordo com levantamento do dia 19 de maio, 72% da produção do Mato Grosso e 62% de Goiás apresentam alto potencial produtivo, considerando época de plantio e distribuição das chuvas. Nos demais estados, o potencial é positivo, mas depende da regularidade climática nas próximas semanas.

No entanto, o surgimento de casos de gripe aviária no país acende o sinal de alerta. A demanda interna de milho, estimada em 96,7 milhões de toneladas, pode sofrer variações, já que o consumo depende diretamente do desempenho da cadeia de proteínas animais, uma das mais afetadas em casos de sanidade avícola. Além disso, as exportações projetadas em 42,8 milhões de toneladas podem enfrentar barreiras ou retrações, o que, segundo Debastiani, exigirá um reposicionamento de estratégias por parte dos produtores e demais elos da cadeia. “Esse excesso de oferta, aliado ao problema sanitário, pode gerar uma pressão negativa no preço do milho, no momento que temos pouca comercialização. A estimativa atual é de que apenas 32,4% da safra tenha sido comercializada até maio”, afirma.

Enquanto os riscos se desenham no horizonte, as equipes do Rally da Safra seguem seu cronograma em campo. A previsão é que a expedição técnica percorra os principais polos de produção até o dia 15 de junho. Seis equipes estão mobilizadas para avaliar in loco as lavouras nos estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rondônia.

As primeiras duas equipes atuam até o dia 24 de maio nas regiões do Médio-Norte e Oeste do Mato Grosso, visitando municípios como Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Campo Novo do Parecis, Sapezal e Vilhena. Já entre 1º e 7 de junho, a terceira e quarta equipe seguem em direção ao Sudeste do Mato Grosso, Norte do Mato Grosso do Sul e Sudoeste de Goiás, com passagens por Primavera do Leste, Rondonópolis, Chapadão do Sul, Jataí e Mineiros.

A última fase de campo será realizada entre os dias 8 e 15 de junho, com equipes no Sul do Mato Grosso do Sul e no Norte e Oeste do Paraná, em municípios como Dourados, Naviraí, Ponta Porã, Toledo e Maringá. O trabalho busca validar a estimativa de produtividade à medida que as lavouras avançam para a fase final do desenvolvimento.

Até agora, o Rally da Safra 2025 já percorreu lavouras que representam cerca de 97% da área de soja e 72% da área de milho do Brasil, um raio-x técnico essencial para subsidiar análises sobre o desempenho agrícola nacional. A expedição avaliou mais de 1.700 lavouras de soja nas fases de desenvolvimento e colheita em estados como Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão, Tocantins e Bahia. Ao todo, técnicos especializados da Agroconsult visitaram centenas de propriedades e lavouras comerciais, observando diretamente os efeitos do clima, do manejo e do calendário agrícola em campo.

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