A região da Alta Mogiana, reconhecida por ser um dos principais polos de produção de café no Brasil, enfrenta um desafio sem precedentes: a ausência prolongada de chuvas. Com mais de 120 dias sem precipitação, a safra de 2024/2025 já está comprometida, gerando sérias preocupações entre os produtores locais. “Eu venho sofrendo muito com a falta de chuvas, assim como outros produtores da região. Esse estresse hídrico deixa as plantas depauperadas, secando e perdendo folhas, o que afeta diretamente a produção”, explica Rafael Stefani, produtor de café e agroinfluenciador.
A crise hídrica começou a se agravar no final de 2023, quando as chuvas ficaram abaixo da média esperada para os meses de dezembro e janeiro. Isso resultou em uma granação inadequada dos frutos, produzindo grãos menores e diminuindo a produtividade geral. A situação piorou a partir de março, com a seca se intensificando e deixando as lavouras em estado crítico. O engenheiro agrônomo Lucas Ubiali, da Fundação Procafé, destaca que “esse longo período sem chuvas já comprometeu a próxima safra, resultando em uma redução de produtividade que acarretará prejuízos significativos para os produtores.”
A consequência imediata dessa seca prolongada é visível nas lavouras: plantas murchas, folhas secas caindo, e uma desfolha intensa que compromete a capacidade das plantas de vingar os frutos na próxima florada. A situação é alarmante, pois a retenção de folhas é crucial para a planta, e sem elas, a fotossíntese é prejudicada, impactando diretamente a produção futura. “Infelizmente, a cada dia que passa, vemos as plantas perdendo mais frutos que seriam para a próxima safra. Ou seja, estamos perdendo parte da safra de 2025 com o passar dos dias sem chuva”, acrescenta Rafael Stefani.
A bienalidade do café, que já impõe desafios naturais à produção, intensifica ainda mais as preocupações dos cafeicultores. Lucas Ubiali ressalta que a preocupação não é apenas com a safra 2024/2025, mas também com a safra que está sendo finalizada. “Nossa preocupação se estende à quebra de safra que está sendo finalizada, a de 2023/2024, e ao que poderia ser recuperado para 2024/2025. Já não estamos tão confiantes para o próximo ciclo”, afirma Ubiali.
Em meio a essa crise, muitos produtores têm recorrido à irrigação como uma medida emergencial para tentar salvar o que resta das plantações. No entanto, essa solução enfrenta barreiras significativas. A dependência de recursos hídricos nas propriedades, que muitas vezes são escassos, limita a eficácia dessa estratégia. Além disso, a captação de água de rios, córregos ou poços artesianos requer aprovação ambiental, criando um entrave adicional em um momento crítico.
A situação demanda não apenas ações emergenciais, mas também políticas públicas que ofereçam suporte ao setor cafeeiro da Alta Mogiana. A seca prolongada não só ameaça a produção imediata, mas também pode ter impactos duradouros na economia da região, que depende fortemente da cafeicultura. “Estamos em um momento muito delicado para as regiões cafeeiras da Alta Mogiana. A alta dos preços dá uma falsa sensação de equilíbrio, mas, com essa falta de água, as lavouras e produções estão seriamente comprometidas”, conclui Lucas Ubiali.
A comunidade de cafeicultores da Alta Mogiana aguarda com ansiedade por chuvas que possam minimizar os impactos dessa seca histórica, mas o cenário atual exige cautela e uma busca ativa por soluções que garantam a continuidade da produção no futuro.