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FERTILIZANTES

PRODUTORES ENFRENTAM NOVA ESCALADA NOS CUSTOS DE FERTILIZANTES E REVISITAM DILEMAS DA SAFRA DE 2022

Cenário global instável, guerras no Oriente Médio e lenta retomada nas exportações da China pressionam insumos agrícolas e desafiam a sustentabilidade produtiva no Brasil; relação de troca já se iguala à registrada no auge da crise logística pós-pandemia.
Alta nos fertilizantes pressiona decisões de investimento dos produtores e pode afetar produtividade nas lavouras brasileiras. Foto: Divulgação.

O agronegócio brasileiro volta a operar sob tensão com a disparada nos preços dos fertilizantes, que já reflete níveis de preocupação similares aos registrados em 2022, durante a crise provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e o colapso nas cadeias logísticas globais. A relação de troca, indicador que mede quantas sacas de grãos são necessárias para comprar uma tonelada de fertilizante, atingiu patamares críticos, exigindo do produtor rural um esforço extra de planejamento, gestão de risco e tomada de decisões estratégicas.

Segundo levantamento recente do Itaú BBA, o cenário é de pressão contínua nos preços. O cloreto de potássio, um dos principais fertilizantes utilizados no país, já acumula alta de 24% em 2024, com cotação média de US$ 365 por tonelada. O fosfato monoamônico (MAP) também teve aumentos consecutivos nos meses de abril e maio, alcançando US$ 717,50 por tonelada. Já a ureia, essencial para a adubação nitrogenada, apresentou volatilidade: subiu 9% em abril, mas teve uma leve retração de 1,9% no início de maio, refletindo incertezas relacionadas à oferta asiática.

Esses movimentos de mercado são agravados por uma conjuntura geopolítica sensível. O conflito entre Irã e Israel, somado às limitações ainda vigentes nas exportações da China, maior fornecedora global de fertilizantes, compromete a previsibilidade dos fluxos internacionais. Embora o governo chinês tenha sinalizado uma flexibilização das restrições de exportação impostas em 2023, a liberação dos embarques continua lenta e com foco prioritário no abastecimento do mercado interno. A lentidão na normalização da oferta global mantém o Brasil, grande dependente da importação desses insumos, em situação delicada.

Essa conjuntura preocupa especialistas e líderes do setor. Leonardo Sodré, engenheiro agrônomo e especialista em nutrição vegetal, destaca que a atual escalada de preços impõe uma revisão completa na forma como o produtor decide seus investimentos. “A relação de troca impõe ao produtor um desafio de decisão. Com margens mais apertadas, a escolha das soluções tecnológicas para o campo será feita com lupa, priorizando eficiência agronômica e segurança. Não é só uma questão de custo, mas de gestão de risco e sustentabilidade produtiva”, alerta.

O aumento nos custos ocorre justamente no momento em que muitos agricultores se preparam para o planejamento da próxima safra. A conta não fecha com facilidade. Enquanto os insumos sobem, o preço da soja, principal commodity de exportação brasileira, permanece estável, sem acompanhar a mesma curva de valorização. Isso significa que o produtor precisa de mais sacas para adquirir o mesmo volume de insumos, o que compromete a viabilidade de práticas agronômicas completas e pode resultar em queda de produtividade média por hectare, especialmente em lavouras que não contam com acompanhamento técnico especializado.

Diante desse quadro, muitos produtores buscam alternativas para reduzir a dependência de insumos tradicionais. A principal aposta tem sido a adoção de estratégias de nutrição de manutenção, aliada à aplicação mais precisa e eficiente dos fertilizantes já adquiridos. No entanto, como alerta Leonardo Sodré, essas decisões exigem conhecimento técnico aprofundado. “Estamos em um ciclo onde quem estiver tecnicamente amparado e bem informado terá condições de superar as turbulências. É hora de investir em conhecimento e proximidade com quem conhece o solo, a planta e o mercado”, afirma o especialista.

Em campo, cresce a percepção de que o momento exige não apenas cautela, mas decisões baseadas em dados técnicos, planejamento financeiro e orientação agronômica individualizada. Muitos agricultores, especialmente os de médio porte, avaliam a possibilidade de realizar apenas adubações corretivas em talhões mais produtivos e postergar investimentos em áreas de menor retorno.

A volta dos patamares críticos da relação de troca também reacende um dilema antigo: arriscar na redução dos insumos e comprometer a produtividade, ou manter os investimentos mesmo com margens apertadas. Para muitos especialistas, a saída está na intensificação do uso de boas práticas agronômicas, como o mapeamento de solo, o uso racional da água, a agricultura de precisão e o acesso constante à informação confiável.

Neste momento de incerteza, a informação técnica se transforma no insumo mais valioso. A tomada de decisão baseada em dados, o acompanhamento próximo das tendências globais e a orientação profissional são diferenciais que podem garantir o equilíbrio entre custo e produtividade. O cenário impõe desafios, mas também revela a resiliência do campo brasileiro, que mais uma vez precisa ajustar velas em meio à instabilidade dos ventos globais.

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