A safra de trigo em São Paulo sofreu um forte impacto devido às variações climáticas em 2024, levando a uma produção abaixo das expectativas. A situação foi o tema principal da Reunião da Câmara Setorial do Trigo, realizada na última quinta-feira (17) na Castrolanda, em Itaberá (SP). O evento contou com a participação de especialistas do setor que discutiram os desafios enfrentados e apresentaram estratégias para minimizar os impactos no futuro.
Segundo Nelson Montagna, presidente da Câmara Setorial, o cenário atual é preocupante: “Nossa expectativa era de colher entre 320 e 350 mil toneladas, mas, com os números discutidos na reunião, dificilmente atingiremos as 300 mil toneladas. Isso representa uma queda expressiva, causada por fatores climáticos desfavoráveis e a competição com outras culturas”, detalhou Montagna.
Apesar das dificuldades, Montagna destacou que a qualidade do trigo produzido no estado tem melhorado ao longo dos anos, o que atrai o interesse da indústria moageira: “O trigo paulista tem mostrado um avanço significativo em qualidade, o que fortalece o setor moageiro e garante um mercado promissor para o futuro”, comentou.
Durante a reunião, foram apresentados dados de uma pesquisa realizada pelo Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo, que apontou um aumento de 27,9% nas aquisições de trigo pelos moinhos do estado entre setembro de 2023 e agosto de 2024, totalizando 586,01 mil toneladas. Embora o volume tenha surpreendido, Montagna reforçou que há espaço para crescimento: “O mercado de trigo em São Paulo está em ascensão, e ainda há muito potencial a ser explorado”, afirmou.
Impacto Climático no Brasil e no Mundo
Jonatan Pinheiro, representante da StoneX, ressaltou que a quebra na safra de trigo não foi exclusiva de São Paulo, mas um reflexo de problemas climáticos enfrentados em todo o Brasil. Ele explicou que, apesar das dificuldades, a qualidade do trigo colhido ainda deve superar a safra anterior: “Mesmo com a seca que atingiu principalmente o Norte do país, esperamos que a qualidade seja superior à do ano passado”, afirmou.
Pinheiro, também mencionou os fatores internacionais que estão moldando o mercado de trigo, como as melhorias climáticas nos Estados Unidos e Rússia, e o impacto da safra argentina, que deve pressionar o mercado brasileiro em 2025: “O mercado global está passando por mudanças importantes, mas acreditamos que, para o próximo ano, o produtor brasileiro terá uma recuperação significativa”, projetou.
Com a colheita de 2024 praticamente finalizada, as expectativas para 2025 são otimistas. Tanto Montagna quanto Pinheiro acreditam que o próximo ano trará melhores condições para os produtores, com preços mais firmes e uma recuperação na produção de trigo no Brasil. “Com uma previsão de melhores preços, o setor deve se beneficiar e enfrentar menos dificuldades na comercialização da farinha”, disse Pinheiro.
Montagna corroborou a previsão positiva, destacando que o trigo tem potencial para voltar a remunerar de forma competitiva: “Esperamos que o mercado veja preços mais consistentes em 2025, o que deve incentivar a produção e melhorar a qualidade”, acrescentou.
Panorama Global: Reduções e impactos climáticos em diversas regiões
O cenário global de trigo também foi abordado na reunião, com destaque para a redução de 2,8 milhões de toneladas na produção mundial, em grande parte devido às condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras. Pinheiro, destacou a queda nos estoques dos Estados Unidos e a difícil safra europeia, afetada por chuvas intensas. Já a Rússia sofreu uma queda de mais de um milhão de toneladas, e a Ucrânia, apesar do conflito, registrou aumentos de produção.
Na Ásia, Índia e China mantiveram uma produção estável, sem grandes impactos no mercado global, mas com os estoques indianos abaixo do esperado, o país pode recorrer à importação em breve. Por outro lado, a Austrália espera uma safra positiva, embora uma geada recente possa prejudicar parte da colheita, assim como ocorreu na Argentina, que enfrentou seca em setembro.
Raquel Nakazato, assessora da Secretaria de Agricultura de São Paulo, destacou as ações do governo estadual para fortalecer o setor de trigo. Entre as iniciativas em andamento, está o programa CPL – Cadeias Produtivas Locais, que visa fomentar a cooperação entre empresas e entidades públicas, promovendo a aquisição coletiva de insumos e a inovação tecnológica.
Ela também mencionou o Plano de Irrigação, em fase de estruturação, e convidou o setor a participar das discussões: “Estamos trabalhando para identificar oportunidades de reuso da água, e a participação dos produtores de trigo será crucial nesse processo”, destacou Nakazato.
O ozônio na qualidade do trigo
Uma tecnologia emergente, apresentada pelo especialista Joany Anthony Simão, da Castrolanda, é o uso de ozônio no tratamento do trigo. O método, que pode reduzir micotoxinas em até 70%, foi apontado como uma solução promissora para garantir a qualidade do grão sem deixar resíduos químicos: “O ozônio combate eficazmente microrganismos e pode ser uma ferramenta essencial para os produtores”, explicou Simão.
Com isso, o setor de trigo paulista busca alternativas inovadoras para superar os desafios climáticos e garantir uma produção cada vez mais forte e competitiva.