As exportações de chocolate brasileiro para a Liga Árabe registraram um avanço de 4,39% no acumulado de janeiro a agosto de 2024 em comparação ao mesmo período de 2023, de acordo com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. O valor das vendas chegou a US$ 16,06 milhões, embora o volume total tenha recuado 4,54%, com 4,43 mil toneladas exportadas. Esse aumento na receita é atribuído à elevação do preço médio por tonelada, que subiu 9,35%, alcançando US$ 3.623,84. O dado revela um cenário positivo para o mercado brasileiro, embora desafios ainda persistam.
Segundo Marcus Vinicius, gerente de inteligência de mercado da Câmara Árabe, a maior parte do chocolate exportado para a Liga Árabe consiste em preparações de cacau recheadas, barras e tabletes, produtos de maior valor agregado. “O Brasil se destaca ao exportar produtos processados para a Liga Árabe, o que fortalece a imagem do país como fornecedor de qualidade. Além disso, o chocolate brasileiro é amplamente distribuído nos mercados internos e também via reexportação, especialmente a partir dos países do Golfo, que funcionam como hubs comerciais”, destaca Vinicius.
Crescimento expressivo no Iraque
Entre os países árabes, o Iraque apresentou um crescimento notável na demanda por chocolate brasileiro, com um aumento de 101%, totalizando 395 toneladas exportadas. O país se posiciona como o terceiro maior importador de chocolates do Brasil na região, atrás dos Emirados Árabes Unidos, com 475 toneladas, e da Arábia Saudita, que absorveu 2,36 mil toneladas. Apesar disso, os volumes exportados para os Emirados e a Arábia Saudita tiveram leve retração de 4,09% e 2,43%, respectivamente.
Esse aumento nas exportações para o Iraque representa uma oportunidade estratégica para os produtores brasileiros expandirem suas operações, especialmente em mercados menos explorados. “A presença do Brasil no mercado árabe ainda é pequena, mas os números mostram que há um grande potencial de crescimento, principalmente se as empresas souberem aproveitar a estrutura de reexportação nos países do Golfo”, afirma Vinicius.
Preços do cacau em alta: Um desafio para o setor
Outro fator relevante é a alta nos preços do cacau no mercado internacional. Desde janeiro de 2024, os futuros de cacau negociados na bolsa de Chicago (CBOT) quase dobraram de valor, ultrapassando a marca de US$ 7 mil por tonelada. Na bolsa de Londres, a valorização dos contratos chegou a 47% no ano. Isso impacta diretamente o custo de produção do chocolate, o que pode representar um desafio para manter a competitividade das exportações brasileiras.
Essa elevação nos preços é consequência de problemas climáticos e pragas que afetaram as safras em importantes regiões produtoras como a Costa do Marfim e Gana, responsáveis por mais da metade da produção mundial de cacau. Estimativas indicam perdas de até 20% nas colheitas desses países, o que deve gerar um déficit de oferta nos próximos anos. No entanto, os importadores árabes têm buscado estratégias para mitigar esses impactos, mantendo as variações de preço em torno de 10%, abaixo da média global de 40% a 50%.
Mercado Árabe: Um potencial inexplorado
Apesar dos desafios, o mercado árabe apresenta um grande potencial para marcas brasileiras que buscam internacionalização. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, importaram US$ 1,64 milhão em chocolate brasileiro de janeiro a agosto deste ano, mas o país do Golfo compra anualmente cerca de US$ 460 milhões em chocolates, provenientes de países sem tradição no cultivo de cacau, como Turquia, Holanda e Itália. “A entrada do Brasil com mais força nesse mercado passa por aproveitar melhor as oportunidades de distribuição oferecidas pelos países do Golfo, que atuam como centros de revenda de mercadorias para a região”, pontua Vinicius.
O futuro das exportações de chocolate brasileiro para a Liga Árabe depende de estratégias de longo prazo, que envolvem tanto a gestão de preços do cacau quanto o fortalecimento da presença nos mercados locais. O cenário é de otimismo moderado, com oportunidades significativas para expansão, mas que requerem atenção constante às mudanças do mercado global.
A valorização do produto brasileiro como um chocolate de qualidade e com valor agregado pode ser a chave para abrir novas portas nos países árabes. O foco em mercados emergentes, como o Iraque, e a utilização dos hubs de exportação no Golfo são caminhos promissores para o crescimento sustentável das exportações.