O mercado de máquinas agrícolas no Brasil vive um momento de transição estratégica e expansão sólida, impulsionado pelo crescimento contínuo da produção agropecuária e pela busca de alternativas de financiamento diante do crédito rural encarecido. A tendência é clara: executivos do setor projetam que o país deve ultrapassar a Europa em volume de vendas dentro de cinco a dez anos, uma mudança significativa no cenário global de mecanização agrícola.
Essa projeção não vem do acaso. Está alicerçada em dados atualizados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que apontam uma produtividade média estimada de 4.108 quilos por hectare nas lavouras brasileiras, além de uma expansão de 2,3% na área plantada, alcançando 81,8 milhões de hectares. Os números refletem o dinamismo do setor e indicam que os produtores estão investindo mais em tecnologia, gestão e infraestrutura.
Outro vetor de crescimento é a produção de etanol de milho, que exige maquinário especializado e deve dobrar de volume nos próximos 5 a 10 anos. Com isso, a procura por colheitadeiras, tratores e implementos segue aquecida em diversas regiões do país.
“Estamos vivendo um bom momento do mercado nacional. O produtor brasileiro está retomando a confiança, investindo em tecnologia e renovando sua frota com foco em eficiência”, afirma Fernando Lamounier, educador financeiro e especialista em crédito rural. Segundo ele, os produtores estão mais atentos às vantagens de alternativas ao financiamento bancário tradicional, como o consórcio de máquinas agrícolas, que vêm ganhando força como modelo de aquisição planejada.
A modalidade de consórcio, antes associada ao setor urbano, tem se tornado cada vez mais comum entre produtores rurais. Dados da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) revelam que o volume de crédito liberado para veículos pesados, incluindo máquinas agrícolas, teve um crescimento expressivo de 39,9% no primeiro bimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024.
Esse crescimento se dá em um contexto econômico desafiador. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, enquanto a taxa Selic permanece elevada, com estimativa média de 15% ao ano. Isso torna o crédito rural tradicional mais caro e menos acessível, especialmente para pequenos e médios produtores.
“O consórcio preenche essa lacuna e tem sido o caminho mais viável para o agricultor seguir investindo de forma planejada e com segurança”, explica Lamounier. Ele ressalta que, diante dos juros altos e das exigências de garantias nos financiamentos bancários, muitos produtores optam pelo consórcio, que oferece menores custos e menos burocracia. “Há casos em que até 40% das máquinas são adquiridas dessa forma”, completa o educador.
Segundo a ABAC, o agronegócio já responde por cerca de 20% do total de crédito movimentado por consórcios no país, cujo montante anual ultrapassa R$ 50 bilhões. No segmento específico de máquinas e equipamentos agrícolas, os consórcios representam 25% do mercado nacional, consolidando-se como uma tendência robusta para os próximos anos.
A relevância do Brasil no cenário internacional também se evidencia na liderança da taxa de crescimento composta de produção de soja e milho, superando concorrentes como Estados Unidos e Argentina. Esse protagonismo atrai o olhar de investidores estrangeiros, que têm marcado presença em feiras e eventos organizados por fabricantes de maquinário no país.
O contexto é ainda mais desafiador diante da suspensão de linhas de crédito de programas públicos como o Plano Safra, o que faz com que muitos agricultores tenham que buscar caminhos alternativos. Com juros que chegam a 20% ao ano para financiar uma máquina via sistema bancário, o consórcio surge como alternativa concreta, especialmente em um cenário de instabilidade financeira e burocracia excessiva.
Nos últimos dez anos, o mercado de consórcios no setor de máquinas agrícolas cresceu cerca de 400%, demonstrando a força dessa modalidade de investimento programado. A adesão crescente reflete a necessidade de inovação também nas formas de financiar o campo.
Enquanto o Brasil segue ampliando sua área plantada e a produtividade média por hectare, o setor de máquinas agrícolas se movimenta para atender essa nova demanda, tanto em volume quanto em tecnologia embarcada. A aposta é que, se mantidas as condições atuais, o país se torne uma das maiores potências do mundo em vendas de maquinário agrícola, um reflexo direto da força e da resiliência do seu agronegócio.