A construção de um rebanho bovino de elite vai muito além da seleção genética: ela começa na nutrição. E não apenas após o nascimento do animal. Cada fase da vida de um bovino de corte com alto potencial reprodutivo e produtivo precisa ser acompanhada de um plano alimentar rigoroso, equilibrado e tecnicamente embasado. A premissa de que “a genética caminha junto da nutrição” é defendida por especialistas e cada vez mais aplicada nas propriedades voltadas à pecuária de elite no Brasil.
“Esses animais são selecionados para gerar descendentes que propagam os ganhos genéticos para diferentes sistemas de produção de carne bovina. Por isso, precisam receber cuidados especiais em termos de ambiente, manejo e nutrição para poderem expressar todo seu potencial”, afirma o zootecnista José Leonardo Ribeiro, doutor em Ciência Animal e Pastagens e gerente de produtos para ruminantes.
Segundo Ribeiro, a alimentação precisa ser ajustada de forma precisa conforme as exigências de cada fase — desde a gestação das matrizes até os processos mais avançados de reprodução, como a coleta de sêmen. Isso porque cada etapa representa um momento crítico no desenvolvimento fisiológico dos bovinos. “O sucesso do manejo do gado de elite depende do fornecimento de nutrientes adequados, em níveis exatos. As exigências mudam ao longo do tempo, e a dieta precisa acompanhar esse ritmo”, ressalta o especialista.
Para atender essas demandas, os animais recebem rações iniciais e de crescimento com diferentes composições nutricionais. “Essas rações são formuladas com ingredientes e aditivos que se somam e se complementam. O foco é garantir um bom desenvolvimento desde os primeiros dias de vida, sem comprometer a saúde digestiva nem a capacidade imunológica”, explica Ribeiro.
De acordo com ele, os ingredientes usados nas formulações passam por um rigoroso controle de qualidade, com base em evidências científicas e análises técnicas. Os resultados obtidos com essas estratégias são medidos por meio de indicadores zootécnicos — como ganho de peso, desenvolvimento ósseo, escore corporal e performance reprodutiva. “A escolha das matérias-primas, como silagem de milho e feno de gramíneas, exige monitoramento contínuo. Estamos falando de animais que são constantemente desafiados a performar acima da média”, diz.
Outro fator importante apontado pelo zootecnista é a composição das rações destinadas à fase de coleta de sêmen. Nesse período, o desempenho reprodutivo está diretamente ligado ao perfil nutricional oferecido. “A dieta precisa fornecer níveis ideais de proteína, vitaminas do complexo B, minerais de alta biodisponibilidade e aditivos que favoreçam a saúde do rúmen e do intestino”, explica.
A atenção aos detalhes também se estende à forma como os alimentos são fornecidos. Há rações peletizadas, fareladas, multipartículas e com ingredientes termicamente processados. Essa variedade garante que os nutrientes sejam melhor aproveitados em cada fase. “A preocupação vai além de energia e proteína. O foco é promover imunidade elevada e funcionamento pleno do sistema digestivo, para que o animal aproveite ao máximo seu potencial genético”, reforça Ribeiro.
No contexto da pecuária moderna, investir em estratégias nutricionais bem fundamentadas é um diferencial competitivo. Embora o Brasil tenha avançado na genética de bovinos de corte, especialistas defendem que o elo da nutrição é o que garante que os animais expressem todo seu valor. “É um tripé: genética, ambiente e nutrição. Se um falha, o resultado final será comprometido. O papel da nutrição é estratégico, silencioso, mas absolutamente determinante”, conclui Ribeiro.
Com protocolos específicos desde o nascimento até a idade adulta, a alimentação dos bovinos de elite se tornou uma ciência à parte dentro da produção animal. E à medida que a tecnologia avança, a precisão nutricional deixa de ser um diferencial e passa a ser uma exigência técnica de base para garantir eficiência, sustentabilidade e resultados reprodutivos sólidos nas propriedades que atuam na vanguarda da pecuária de corte.