Na vastidão do Cerrado, onde a biodiversidade é um tesouro em risco, uma técnica inovadora está transformando não apenas o cenário ambiental, mas também a vida das comunidades locais. “Muvuca de Sementes: Renascimento do Cerrado na Chapada dos Veadeiros” revela como a coleta e semeadura direta de sementes não apenas preservam o bioma ameaçado, mas também proporcionam renda às famílias da região.
Claudomiro Almeida Cortes, visionário fundador da Associação Cerrado de Pé, descreve essa abordagem como “coletar e plantar sementes na quantidade de estrelas do céu”. O método, conhecido como “muvuca de sementes”, é mais do que uma técnica, é um compromisso coletivo para recuperar a vegetação nativa do Cerrado, um bioma que ocupa um quarto do território nacional, mas enfrenta uma acelerada degradação.
A Associação Cerrado de Pé, composta por 159 famílias da Chapada dos Veadeiros, recebe apoio vital do Projeto Cerrado Resiliente (Ceres). Em parceria com instituições como o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), o WWF-Brasil, WWF-Holanda e WWF-Paraguai, com recursos da União Europeia, a iniciativa não só promove inclusão social e geração de renda, mas também contribui significativamente para a restauração ambiental.
Em 2023, a coleta de 27 toneladas de sementes marcou um avanço notável, e Claudomiro Almeida Cortes estabelece a ambiciosa meta de atingir 30 toneladas em 2024. Essas sementes variadas, que incluem árvores nativas, capim e ervas típicas do cerrado, são a esperança para um bioma ameaçado, que perdeu 7.828 km² de vegetação nativa em 2023.
A visita da União Europeia (UE) à Chapada dos Veadeiros, promovida pelo ISPN e WWF-Brasil, testemunhou de perto a técnica em ação. Robert Steinlechner, chefe de cooperação UE-Brasil, expressou sua esperança ao declarar: “Façam esse sonho perene, engajando as gerações futuras. Quero voltar daqui a 30 anos e ver o resultado.”
Mas a muvuca de sementes não é apenas sobre regeneração ambiental; é também sobre geração de renda sustentável. A Rede de Sementes do Cerrado, que comercializa 84 espécies nativas, proporciona não apenas uma oportunidade de conservação ambiental, mas também desenvolvimento social e econômico para as comunidades envolvidas.
A presidente da Rede de Sementes do Cerrado, Camila Motta, destaca a importância de iniciativas que vão além da preservação ambiental. “Aproveitamos a oportunidade para destacar iniciativas que contribuem não apenas para a conservação ambiental, mas também para o desenvolvimento social e econômico das comunidades envolvidas”, ressalta.
Os coletores de sementes têm histórias inspiradoras para contar. Emiverton de Souza Fernandes, morador da comunidade Kalunga, relata a transformação em sua vida: “Construí a casa própria, comprei fogão, armário e outras mobílias. É uma grande honra para mim estar fazendo esse trabalho.”
Além da muvuca de sementes, a cooperativa Cooperfrutos do Paraíso, com 200 famílias de oito municípios da região, mostra que conservação e renda podem andar de mãos dadas. O chefe de cooperação UE-Brasil, Robert Steinlechner, parabeniza a cooperativa, afirmando: “Te felicito pela coragem e resiliência.”
Essas iniciativas se alinham aos esforços globais, como a Década da Restauração dos Ecossistemas, declarada pela ONU em 2021. No Brasil, o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg) busca restaurar 12 milhões de hectares até 2030.
Em um país onde a biodiversidade é tão rica quanto ameaçada, a muvuca de sementes se destaca como uma luz de esperança, um compromisso coletivo que vai além da restauração ambiental, alcançando a transformação positiva das comunidades e a construção de um futuro mais sustentável.