Os fertilizantes são peças-chave para garantir a segurança alimentar global. Eles contribuem para o equilíbrio nutricional do solo e, por consequência, sustentam o desenvolvimento de culturas agrícolas em larga escala. Apesar de sua relevância científica e agronômica, ainda há uma série de mitos que cercam o seu uso, alimentando desconfianças sobre seus impactos na saúde humana e no meio ambiente.
O agrônomo Luís Schiavo, especialista em nutrição e manejo de lavouras, explica que a desinformação tem contribuído para que fertilizantes sejam erroneamente associados a produtos químicos nocivos. “Sem fertilizantes, a produção de alimentos no mundo seria insuficiente para alimentar a população atual. Eles são essenciais, e seu uso é resultado de décadas de pesquisa agronômica”, afirma.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), cerca de 50% dos alimentos produzidos no mundo dependem diretamente da aplicação correta de fertilizantes. São eles que fornecem às plantas os nutrientes necessários para seu desenvolvimento, como nitrogênio, fósforo e potássio, promovendo maior produtividade, maior teor nutricional nos alimentos e estabilidade econômica nas cadeias do agronegócio.
Schiavo esclarece alguns dos principais mitos e verdades que circulam sobre o tema.
Fertilizantes e agrotóxicos são a mesma coisa?
Mito. Apesar de ambos serem insumos agrícolas, eles têm funções completamente distintas. Fertilizantes, sejam orgânicos ou inorgânicos, nutrem as plantas. Já os agrotóxicos, ou defensivos agrícolas, são químicos voltados para o controle de pragas e doenças. “É um erro comum confundir as duas coisas, mas elas atuam em frentes totalmente diferentes no manejo agrícola”, destaca Schiavo.
Fertilizantes e adubos são sinônimos?
Verdade. Embora os termos sejam usados em contextos diferentes, ambos se referem a compostos que nutrem as plantas, podendo ser de origem orgânica ou inorgânica. “A diferença é que o fertilizante inorgânico possui uma composição exata de nutrientes, o que permite uma correção mais precisa do solo. Já o adubo orgânico tem composição variável, o que o torna menos específico para deficiências nutricionais”, explica.
Fertilizantes orgânicos são sempre melhores que os inorgânicos?
Mito. Cada tipo tem seu papel e benefícios. “Não existe um ‘melhor’. Existe o mais adequado para cada tipo de solo e cultura”, afirma o especialista. A fertilização orgânica favorece a biodiversidade do solo e a retenção de água, enquanto a inorgânica permite eficiência na aplicação e maior concentração de nutrientes, sendo especialmente útil em lavouras de grande escala.
Fertilizantes em excesso fazem mal às lavouras?
Verdade. O uso inadequado pode gerar desequilíbrios nutricionais no solo e até reduzir a absorção de outros nutrientes. “Quando há excesso de um nutriente, ele pode bloquear a absorção de outro, criando deficiências mesmo em solos aparentemente férteis”, explica Schiavo.
O conceito de manejo racional está relacionado à prática dos “4 Cs”:
Fonte Certa;
Dose Certa;
Momento Certo;
Local Certo.
Esse princípio visa maximizar a eficiência dos nutrientes e minimizar qualquer risco ambiental.
Fertilizantes são prejudiciais ao meio ambiente?
Mito. Os riscos ambientais só existem quando há erro no manejo ou uso irresponsável. Com técnica adequada, os fertilizantes não geram impactos negativos. “Quando seguimos boas práticas agronômicas, como a aplicação na dose correta e no momento certo, o risco ambiental é nulo”, assegura o especialista.
Fertilizantes fazem mal à saúde humana?
Mito. De acordo com Schiavo, os nutrientes contidos nos fertilizantes são os mesmos que estão presentes em nossos corpos. “As plantas utilizam nitrogênio para formar proteínas, da mesma forma que os músculos humanos são feitos de proteínas. O fósforo que usamos na lavoura é o mesmo que compõe nossos ossos e dentes”, exemplifica.
CIÊNCIA, PRODUÇÃO E SUSTENTABILIDADE
Pesquisas realizadas por instituições como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) reforçam que, quando utilizados com responsabilidade, os fertilizantes contribuem para práticas sustentáveis. A integração entre fertilizantes orgânicos e inorgânicos, aliada ao monitoramento constante do solo, permite maior conservação ambiental e produtividade.
Estudos recentes mostram que a eficiência do uso de fertilizantes no Brasil aumentou em 35% na última década, graças ao avanço de tecnologias de aplicação e à capacitação técnica de agricultores.
“A ciência agronômica não apenas validou o uso dos fertilizantes, como também aprimorou sua eficiência e sustentabilidade. O que precisamos é combater a desinformação com dados e educação rural”, conclui Schiavo.