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INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Manipueira: Resíduo da mandioca que gera energia limpa e fertilizantes orgânicos

Pesquisadora sergipana conduz estudo inovador que transforma resíduos do agreste em soluções sustentáveis para o campo e para a energia renovável
No Brasil, a crescente demanda por energia renovável e a busca por alternativas mais ecológicas para a agricultura tornam pesquisas como a de Ianny ainda mais relevantes. Ela demonstra como o aproveitamento de resíduos pode ser não apenas uma solução para o gerenciamento de resíduos, mas também um passo importante para um futuro mais sustentável. Foto: Divulgação

O uso da manipueira, um resíduo líquido gerado durante o processo de beneficiamento da mandioca, está se tornando uma solução inovadora e sustentável para a produção de biogás e fertilizantes orgânicos. Essa transformação é fruto de uma pesquisa desenvolvida pela doutoranda Ianny Andrade Cruz, da Universidade Tiradentes (Unit), em Sergipe, que, com apoio do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), vem conduzindo estudos que visam não só a utilização eficaz desses resíduos, mas também a contribuição para a sustentabilidade e a economia circular na agricultura.

Ianny Andrade, é natural do Povoado Gameleira, uma região do agreste sergipano onde a produção de mandioca é a principal atividade econômica. Para ela, a pesquisa sobre a manipueira não é apenas um estudo acadêmico, mas uma forma de honrar suas raízes familiares e também de contribuir para o desenvolvimento local, transformando um problema ambiental em uma solução sustentável e economicamente viável.

“Escolher a manipueira como objeto de estudo foi, antes de tudo, um ato de conexão com minha origem. O que me motivou foi saber que o resíduo da mandioca, tão comum em nossa região, poderia ser transformado em uma fonte de energia renovável, fertilizante orgânico e ainda gerar renda para os agricultores. Isso me deu um propósito ainda mais forte de trabalhar com essa pesquisa, porque vi uma oportunidade real de mudar a realidade dos produtores locais e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental do descarte inadequado desses resíduos”, destacou Ianny.

O estudo de Ianny se concentrou na otimização da digestão anaeróbia da manipueira, um processo biológico que converte os resíduos orgânicos em biogás e digestato, que pode ser usado como fertilizante. Para isso, a pesquisadora introduziu as cascas de ovos no processo, uma inovação que se mostrou eficaz. O cálcio presente nas cascas ajudou a estabilizar o processo de digestão e aumentou a produção de biogás.

Em sua tese de doutorado defendida em fevereiro de 2023, Ianny afirmou que a adição de cascas de ovos à manipueira trouxe benefícios significativos, mas também gerou desafios. O estudo revelou que o digestato, que é o resíduo sólido gerado durante o processo de produção de biogás, apresentou toxicidade para as sementes de alface utilizadas no teste. Isso indicou que o digestato exigiria um tratamento adicional ou mais tempo de digestão antes de ser utilizado como fertilizante para garantir sua segurança e eficiência. “O desafio está em garantir que o digestato, apesar de seu grande potencial como fertilizante, não cause danos ao solo ou às plantas. Precisamos de mais testes e ajustes para que ele se torne completamente seguro para aplicação agrícola”, explicou Ianny.

A tese foi orientada pelos professores Luiz Fernando Romanholo Ferreira e Ranyere Lucena de Souza, do PEP/Unit, que acompanharam a pesquisa de perto. “A pesquisa da Ianny é uma das mais inovadoras e valiosas que temos na Universidade Tiradentes. Ela não apenas apresenta uma solução para um problema ambiental, mas também alinha isso com as necessidades do setor agrícola e com a crescente demanda por energia renovável no país. Estamos extremamente satisfeitos com o impacto que esse estudo pode ter tanto localmente quanto em uma escala maior”, afirmou o professor Luiz Fernando Romanholo Ferreira.

Ianny também teve a oportunidade de realizar parte de sua pesquisa no exterior, no Laboratório de Tecnologias da Biomassa (BTL) da Universidade de Sherbrooke (UdeS), no Canadá, onde esteve em estágio de pesquisa em 2022. Lá, ela aprofundou seus conhecimentos sobre o uso de biomassa para a produção de energia renovável e a redução das emissões de gases de efeito estufa, um campo de grande relevância no contexto global de busca por soluções energéticas mais limpas e sustentáveis.

“Foi um aprendizado extraordinário estar em Sherbrooke, com toda a infraestrutura de ponta e o foco em tecnologias sustentáveis. O Canadá tem investido pesadamente em pesquisa e desenvolvimento para soluções de baixo carbono, e o ambiente acadêmico lá é muito dinâmico, com uma forte integração entre as universidades e as indústrias locais. Isso me deu uma visão ampliada de como a pesquisa pode ser aplicada de forma eficiente e escalável, e como podemos implementar soluções de energia renovável não só para o Brasil, mas para o mundo”, contou Ianny.

O retorno ao Brasil e a continuidade dos seus estudos como pós-doutoranda na UdeS mostraram para Ianny o quanto o Brasil tem um enorme potencial no aproveitamento de sua biomassa agrícola, como a mandioca, que é uma das culturas mais importantes do país. “O Brasil é um dos maiores produtores de mandioca do mundo, e isso gera um volume gigantesco de resíduos que, se bem aproveitados, podem se tornar fontes valiosas de energia e insumos agrícolas”, afirmou a pesquisadora.

Ela também apontou que, além do impacto ambiental positivo da pesquisa, a produção de biogás a partir de resíduos agrícolas pode representar uma oportunidade significativa para os agricultores familiares, especialmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que são grandes produtores de mandioca. “Nosso objetivo é oferecer uma solução para a gestão desses resíduos, ajudando os agricultores a se tornarem mais autossuficientes e ao mesmo tempo contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O biogás, além de ser uma fonte limpa de energia, pode gerar renda para os agricultores, tornando essa uma solução realmente sustentável e econômica”, explicou Ianny.

No Brasil, a crescente demanda por energia renovável e a busca por alternativas mais ecológicas para a agricultura tornam pesquisas como a de Ianny ainda mais relevantes. Ela demonstra como o aproveitamento de resíduos pode ser não apenas uma solução para o gerenciamento de resíduos, mas também um passo importante para um futuro mais sustentável.

Em entrevista, o professor Ranyere Lucena de Souza, orientador de Ianny, enfatizou a importância da pesquisa para a área de energias renováveis. “Estamos muito satisfeitos com os resultados dessa pesquisa. Ela não só contribui para o avanço científico na área de biogás, mas também é uma aplicação direta para a economia rural e para a questão ambiental. A pesquisa da Ianny é um exemplo claro de como a academia pode contribuir para a resolução de problemas reais enfrentados pela sociedade”, destacou Ranyere.

Com esse estudo, Ianny não só está pavimentando o caminho para a implementação de soluções sustentáveis em sua região de origem, como também está colocando o Brasil em destaque no cenário global de inovação agrícola e energética.

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