Com a ascensão dos inoculantes líquidos, a sua aplicação em sulco de semeadura facilitou a vida dos sojicultores devido à maior agilidade e eficiência em termos de aplicabilidade e no manejo operacional durante a época de plantio quanto a inoculação, possibilitando comprar sementes já tratadas industrialmente com defensivos químicos (fungicidas, inseticidas e nematicidas). A adoção dos inoculantes líquidos no sulco oferece bons resultados, com aumento de 6% (em média) de produtividade, quando comparada a inoculação no tratamento de sementes. Entretanto, a inserção em sulco requer alguns cuidados para que a modalidade gere bons resultados.
Fernando Bonafé Sei, gerente de empresa que é líder no segmento de produtos biológicos no mundo, explica que os cuidados na utilização de inoculantes líquidos em sulco começam com o teste de compatibilidade entre o insumo biológico que será utilizado e os demais insumos, como inseticidas, fungicidas, fertilizantes e biofertilizantes. “Ainda que alguns ingredientes ativos dos químicos sejam compatíveis, outros componentes da formulação (corantes, solventes e conservantes) podem causar incompatibilidade e maior mortalidade dos microrganismos na calda de aplicação. Por isso, é sempre importante contar com o apoio dos técnicos de campo”, destaca. O gerente complementa que a compatibilidade entre produtos depende do pH da calda, tempo de exposição, temperatura, salinidade além dos ativos dos produtos aplicados em misturas no tanque.
Um dos principais benefícios da aplicação via sulco é manter viva a maior quantidade de bactérias de Bradyrhizobium, pois eles evitam o contato das bactérias com os defensivos químicos e com os micronutrientes aplicados no tratamento de sementes, que pode ser realizado previamente na fazenda ou com o tratamento industrial. Além disso, reduz o tempo de exposição aos raios solares, o que pode ocasionar mortalidade das bactérias. Este aumento da população de Bradyrhizobium sobre a semente e no solo da linha de aplicação no sulco de plantio, tende a elevar o número de nódulos na raiz principal e secundária e a torná-los maiores, o que eleva ainda mais o rendimento da lavoura.
O gerente técnico, observa que os benefícios são ainda maiores para aqueles agricultores que semeiam em biomas com déficit hídrico e/ou solos mais pobres em nutrientes. “A aplicação via sulco consegue ‘entregar’ viva uma população maior de bactérias de Bradyrhizobium. Vale lembrar que se houver estresse para a planta de soja, seja por excesso ou falta de água, nutriente, insolação ou profundidade de plantio inadequada, por exemplo, a inoculação e a fixação biológica de nitrogênio serão as primeiras prejudicadas”. Neste contexto, completa Fernando, a aplicação via sulco tende a entregar mais bactérias vivas ao solo, impulsiona o desempenho não só do inoculante, mas também da própria planta, pois atua como promotor de crescimento estimulando o desenvolvimento e nodulação das radicelas (raízes secundárias), o que favorece a raiz durante todo o ciclo do cultivo.
Precauções
Para que o agricultor obtenha o maior potencial de aplicação em sulco com o menor índice de perda durante a operação, Fernando aponta que é necessário que não sejam feitas misturas de produtos químicos com os inoculantes no tanque de aplicação via sulco. “Parece óbvio, mas se queremos evitar a mortalidade do Bradyrhizobium por problemas de incompatibilidade, então devemos separar as coisas. É recomendada a aplicação apenas dos inoculantes biológicos via sulco ou produtos comprovadamente compatíveis, e o restante dos insumos somente via tratamento da semente”, esclarece Fernando.
Outro ponto fundamental para uma boa inoculação via sulco, acrescenta o especialista, está na homogeneidade da mistura. Segundo o gerente técnico, a aplicação de, no mínimo, 50 litros de calda (água mais inoculante) por hectare e, sendo recomendado de 3 a 6 doses inoculante por hectare, que garantem uma boa cobertura do inoculante ao longo de todo o sulco de plantio.
Fernando acrescenta que reservatórios construídos para aplicação de inoculante no sulco são equipados com isolante térmico, o que reduz a exposição de raios solares, fator importante para manutenção da qualidade do inoculante e da calda durante todo o processo. “Ainda que o equipamento seja adequado, a calda não deve ser utilizada de um dia para o outro, e sim deve ser preparada novamente a cada novo dia de trabalho”.