O Brasil está diante de um alerta global. A doença greening, também chamada de HLB (Huanglongbing), avança silenciosamente sobre os pomares nacionais e ameaça não apenas a produtividade interna, mas o abastecimento mundial de suco de laranja. Enquanto a citricultura da Flórida colapsa, restam ao Brasil duas frentes urgentes: conter o vetor da praga e garantir a sustentabilidade de uma cadeia que depende, em grande parte, de sua capacidade produtiva.
O sinal de alerta acendeu com a divulgação das projeções para a safra 2025/2026. Segundo a Fundecitrus, o cinturão citrícola formado por São Paulo e regiões do Triângulo e Sudoeste de Minas Gerais deve produzir 314,6 milhões de caixas de 40,8 quilos. Em contrapartida, os Estados Unidos, segundo o Citrus Forecast de abril de 2025, publicado pelo Departamento de Agricultura norte-americano (USDA), devem colher apenas 11,6 milhões de caixas. A diferença escancara o desequilíbrio e eleva a responsabilidade brasileira sobre a oferta global do suco.
Essa pressão, no entanto, vem acompanhada de desafios sanitários. O psilídeo-dos-citros (Diaphorina citri), transmissor da bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus, segue como principal ameaça. A praga, que não tem cura conhecida, afeta as plantas em estágio inicial, impedindo o desenvolvimento dos frutos e, gradativamente, comprometendo a árvore inteira.
“O psilídeo é hoje o maior inimigo da citricultura brasileira. Se não houver um combate coordenado e rigoroso, podemos repetir o colapso vivido pela Flórida”, alerta Danilo Franco, engenheiro agrônomo e responsável técnico por ensaios em campo voltados ao controle da praga.
Dados técnicos obtidos em 261 ensaios de campo realizados na safra 2024/2025 indicam avanços promissores. Em testes com óleos essenciais utilizados em associação aos defensivos tradicionais, observou-se um aumento de até 30% na eficácia dos inseticidas, elevando o controle de ninfas de 24,4% para até 90,8%, conforme explica Franco. O uso combinado se mostrou especialmente eficaz na fase de brotação das plantas, período mais sensível à infestação.
Apesar dos bons resultados em campo, o cenário exige mais do que inovação técnica. O custo de produção da citricultura, que varia entre R$ 25 e R$ 45 por caixa, está sob ameaça direta da doença. O reflexo dessa fragilidade se vê nos preços: a tonelada de suco concentrado congelado (FCOJ) ultrapassou US$ 1.500, impactando diretamente toda a cadeia, desde o campo até o mercado externo.
A necessidade de uma resposta estratégica extrapola os limites das propriedades rurais. Especialistas apontam que o combate efetivo ao greening depende de um modelo integrado de manejo, que reúna tecnologia, políticas públicas, capacitação técnica e participação ativa dos produtores. “É urgente uma mobilização entre governos, instituições de pesquisa, profissionais técnicos e o setor produtivo. A janela para ação está se fechando”, adverte Franco.
A complexidade do HLB é tamanha que o controle do vetor não basta por si só. Também são necessárias medidas preventivas, como monitoramento constante dos pomares, erradicação imediata de plantas contaminadas, e uso de mudas certificadas para novos plantios. O manejo sustentável da doença passa ainda por ações educativas e políticas de incentivo à adoção de tecnologias que auxiliem no controle do inseto e na detecção precoce da doença.
Além do risco produtivo, o avanço da praga levanta preocupações sobre a segurança da cadeia global de alimentos e bebidas. Países importadores, sobretudo da Europa e Ásia, já acompanham com atenção o cenário brasileiro. Uma retração na oferta nacional, mesmo que parcial, poderia desequilibrar o mercado e afetar preços, contratos e acesso ao produto.
O Brasil, detentor de mais de 70% da produção global de suco de laranja, não pode mais adiar decisões. O momento exige agilidade, cooperação e visão estratégica. Manter a sanidade dos pomares brasileiros é mais do que uma meta agrícola, é um compromisso com a segurança alimentar e econômica global.