cotações de Comodities

Cotação do dollar

MANEJO FORRAGEIRO

FENO SE TORNA ALIADO ESTRATÉGICO PARA A PECUÁRIA ENFRENTAR OS MESES DE SECA

Técnica tradicional ganha força no Brasil como solução para driblar a escassez de pasto entre abril e setembro. Especialistas alertam para os riscos da falta de planejamento alimentar e defendem o feno como ferramenta de gestão na pecuária moderna.
Produção de feno exige corte no ponto ideal, secagem sob sol intenso e armazenamento adequado para manter a qualidade nutricional do volumoso. Foto: Divulgação

Todos os anos, entre abril e setembro, uma velha conhecida do produtor rural reaparece: a seca. Nesse período, as chuvas diminuem drasticamente em grande parte do território brasileiro, e a pastagem, principal base da alimentação bovina, entra em colapso. Sem um plano nutricional adequado, a produtividade do rebanho despenca. Estimativas da Embrapa indicam que a escassez de forragem natural pode causar perdas de até 30% na produção de leite e comprometer o ganho de peso de bovinos de corte, além de elevar o risco de doenças associadas à deficiência nutricional.

Nesse cenário, o feno se consolida como uma alternativa eficaz e versátil para manter a oferta de volumoso de qualidade durante a entressafra. A técnica, conhecida como fenação, consiste no corte, desidratação e armazenamento de forragens com alto teor de matéria seca, preservando os valores nutritivos por meses.

“O feno é uma ferramenta estratégica, ele garante a alimentação do rebanho quando a pastagem não responde, mantém a produtividade e ainda permite aproveitar oportunidades de mercado, como a compra de animais a preços mais baixos durante a seca”, explica Thiago Neves Teixeira, engenheiro agrônomo e técnico especializado em sementes e forragens tropicais.

A produção de feno começa com o corte do capim no ponto certo de maturação, normalmente quando a planta ainda está tenra e rica em nutrientes. Após o corte, a forragem é deixada ao sol para secagem natural até atingir 85% a 90% de matéria seca — ponto no qual a umidade é baixa o suficiente para evitar a proliferação de microrganismos. Em seguida, o material é enfardado e armazenado, de preferência em locais secos, ventilados e protegidos da chuva.

Capins como Tifton 85, Coast-cross e Panicum maximum (cultivares Tamani e Aruana), além de leguminosas adaptadas, são os mais indicados. “A escolha adequada do capim, a condição climática durante a colheita e o uso correto das máquinas são fatores decisivos. Excesso de umidade ou atraso na secagem podem comprometer toda a qualidade do feno”, alerta Teixeira.

Com a técnica bem executada, o feno pode ser conservado por mais de seis meses, o que permite ao pecuarista planejar o fornecimento de alimento volumoso durante o período seco, evitando a dependência exclusiva da pastagem.

Segundo dados da Scot Consultoria, o uso de forragens conservadas cresce cerca de 6% ao ano no Brasil, impulsionado especialmente por produtores tecnificados que buscam estabilidade nutricional, previsibilidade alimentar e eficiência produtiva. “Com o feno, o produtor consegue equilibrar melhor a dieta dos animais, controlar a proporção entre volumoso e concentrado e manter o desempenho produtivo mesmo fora do período das águas”, completa o engenheiro agrônomo.

Produção de feno. Foto: Divulgação.

O investimento, no entanto, não é desprezível. O custo médio da tonelada de feno de alta qualidade oscila entre R$ 700 e R$ 950, valor que pode ser considerado competitivo quando comparado à silagem de milho ou ao pré-secado, principalmente em propriedades que já contam com estrutura e mão de obra treinada.

Outra vantagem importante é a adaptabilidade do feno a diferentes sistemas de produção. Ele é eficiente tanto em confinamento quanto em semiconfinamento, além de ser utilizado como medida emergencial em situações de seca prolongada ou quando há interrupções no fornecimento de outros insumos. Sua facilidade de transporte e comercialização também permite que o excedente seja vendido ou redistribuído entre propriedades vizinhas.

Contudo, ainda existem obstáculos. O custo de produção pode ser elevado para produtores que não possuem equipamentos como segadoras, ancinhos e enfardadeiras, além da necessidade de capacitação técnica para o manejo correto da forragem. “Ainda temos um grande caminho na difusão da técnica. Muitos produtores não conhecem o potencial do feno e acabam optando por alternativas menos eficientes ou mais caras durante a seca”, avalia Teixeira.

Além das barreiras técnicas e estruturais, as mudanças climáticas impõem novos desafios à pecuária. Com a crescente instabilidade do regime de chuvas e a pressão por maior produtividade em menos área, o armazenamento de alimento em períodos favoráveis pode ser o diferencial entre o sucesso e o prejuízo.

“A pecuária moderna exige planejamento. O feno deixou de ser uma alternativa emergencial, hoje é uma ferramenta de gestão estratégica. O produtor que investe na produção e uso do feno tem mais controle, segurança e previsibilidade, mesmo nos períodos mais críticos”, conclui o engenheiro agrônomo.

A técnica, embora tradicional, ganha agora novos contornos: não é mais apenas uma prática de subsistência, mas sim uma estratégia de sustentabilidade produtiva frente às incertezas climáticas e à busca por maior eficiência no campo.

Deixe um comentário

ARTIGOS RELACIONADOS