Na Amazônia, uma região marcada por contrastes entre intensas chuvas e períodos de seca, a ensilagem de capins tropicais surge como uma alternativa estratégica para garantir a alimentação animal durante a estiagem. Estudos conduzidos pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em parceria com a Embrapa Gado de Corte, estão trazendo novos dados sobre a fermentação, qualidade nutricional e produtividade de diferentes cultivares, reforçando o potencial dessa prática agrícola.
De acordo com o professor Dr. Thiago Carvalho da Silva, especialista em Forragicultura e Pastagens no campus Belém da UFRA, a silagem de capins tropicais é uma solução promissora para a conservação de forragem na Amazônia. “O capim oferece flexibilidade, permitindo o uso tanto para pastejo quanto para ensilagem, mas é essencial validar as práticas para cada região, especialmente em um território tão diverso como a Amazônia”, explica Silva.
Um estudo pioneiro realizado na Fazenda Escola de Igarapé-Açú, a 120 quilômetros de Belém, analisou sete cultivares dos gêneros Megathyrsus (Syn. Panicum) e Urochloa (Syn. Brachiaria), cultivados em 84 parcelas de 12 m². Os capins foram colhidos aos 30, 60 e 90 dias, durante dois anos consecutivos, e analisados em diferentes períodos de fermentação: 5, 30 e 60 dias após o fechamento dos silos.
Os resultados destacaram a Brachiaria híbrida Mavuno como uma das cultivares mais promissoras. Essa variedade apresentou a maior produtividade em massa seca e uma queda de pH mais rápida em comparação às outras cultivares. “Aos cinco dias de ensilagem, o Mavuno já apresentava pH em torno de 4,8, algo que geralmente ocorre apenas aos 30 dias em capins tropicais”, detalha Silva. Essa rápida acidificação é fundamental para a conservação da forragem, inibindo a ação de microrganismos indesejáveis.
O pesquisador acrescenta que a eficiência no processo de queda de pH está diretamente ligada à presença de carboidratos solúveis na planta, o que será investigado em estudos futuros. “Esse comportamento é essencial para garantir que a forragem se mantenha nutritiva e segura para o consumo animal, mesmo em longos períodos de armazenamento”, complementa.
Sustentabilidade e produção de alimento na mesma área
A conservação de forragens como estratégia de alimentação animal tem sido apontada como uma forma de aumentar a rentabilidade e a sustentabilidade da pecuária. Segundo Edson de Castro Junior, engenheiro agrônomo, que desenvolveu o híbrido Mavuno, o potencial produtivo dessa cultivar é notável. “Mavuno pode alcançar altos teores de proteína bruta em condições adequadas de clima e adubação, além de ser altamente produtivo mesmo em regiões com alta precipitação, como a Amazônia”, avalia Castro.
A prática de ensilagem também ajuda a mitigar os impactos ambientais da produção pecuária. Ao armazenar o excedente de forragem produzido durante o período chuvoso, os produtores podem garantir a alimentação do rebanho durante a seca, evitando o desmatamento de novas áreas para pastagem.
Os estudos realizados pela UFRA demonstram que adaptar o manejo das cultivares às condições climáticas da Amazônia é crucial para maximizar a produção. A combinação de alta umidade e precipitação intensa desafia a eficiência de algumas espécies, mas as análises indicam que cultivares como Mavuno são capazes de se destacar mesmo em cenários adversos.
“A análise dos indicadores fermentativos, nutricionais e digestivos é essencial para entendermos como cada cultivar se comporta na ensilagem. Essas informações ajudam a orientar os produtores para escolhas mais assertivas e adaptadas às condições locais”, ressalta Silva.
Um futuro promissor para a pecuária sustentável
Com a crescente demanda por práticas sustentáveis na pecuária, a silagem de capins tropicais se apresenta como uma alternativa viável para a conservação de alimentos. Além de reduzir os riscos associados à falta de forragem durante a seca, essa prática contribui para a eficiência do uso da terra, permitindo que a produção de carne e leite na Amazônia ocorra de forma mais equilibrada e ambientalmente responsável.
O avanço das pesquisas em ensilagem reforça a importância da ciência para o desenvolvimento da agropecuária no Brasil. Com dados consistentes e práticas bem adaptadas, os produtores da Amazônia têm à disposição ferramentas que garantem a produtividade e ajudam a enfrentar os desafios climáticos da região.