As recentes enchentes no Rio Grande do Sul não apenas causaram estragos nas áreas urbanas, mas também tiveram um impacto devastador no setor pecuário da região. Milhares de animais, entre bovinos, suínos e aves destinadas ao consumo, enfrentam agora uma série de desafios que vão desde a falta de alimentos até problemas logísticos decorrentes dos bloqueios nas rodovias.
A pecuária gaúcha, um dos pilares da economia do estado, foi duramente atingida pelas fortes chuvas, com consequências diretas para os animais criados nessas regiões. Além das fatalidades causadas pelos alagamentos, muitos rebanhos agora enfrentam a escassez de alimentos devido aos bloqueios nas estradas, falta de funcionários para cuidar dos animais e paralisação dos abates em frigoríficos locais.
Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil, expressou sua preocupação com a situação dos animais afetados pelas enchentes. “Em tragédias como a enfrentada pelo Rio Grande do Sul, nos preocupa que os animais na pecuária sejam vistos apenas como um prejuízo comercial e não como milhares de vidas em sofrimento”, disse Diniz.
Os relatos de produtores e criadores na região são igualmente comoventes. Em granjas e fazendas, centenas de animais foram arrastados pelas águas, enquanto outros enfrentaram horas de agonia em galpões inundados antes de serem resgatados. A situação é particularmente crítica em áreas de criação intensiva, onde os animais são confinados em espaços limitados e não têm opção de escapar das inundações.
Em regiões como o Vale do Taquari e Harmonia, os estragos foram alarmantes. Dezenas de frangos morreram afogados, enquanto bovinos enfrentaram a água até o pescoço. Equipes de resgate relatam cenas de desespero, com animais presos em galpões inundados e morrendo antes de serem socorridos.
A situação é ainda mais grave considerando a falta de prioridade aos animais na pecuária em momentos de desastre. Enquanto cães e gatos recebem atenção, bovinos, suínos e aves criados para consumo acabam negligenciados. O Vale do Taquari, por exemplo, que abate cerca de 2 milhões de porcos por ano, enfrenta sérios problemas. “Só na cidade de Nova Bréscia são quase 2 mil frangos por habitante”, explica, Cristina Diniz, diretora da ONG Sinergia Animal no Brasil.
O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de carne do país. De acordo com o IBGE, o estado acumula um rebanho de quase 12 milhões de bovinos, 573 mil de porcos e 22 milhões de galináceos.
A bióloga especialista em bem-estar animal, Patricia Tatemoto, destacou a vulnerabilidade desses animais diante de desastres naturais. “Grande parte dos animais na pecuária são criados em altas concentrações e são impossibilitados de fugir ou de buscar abrigo em áreas mais elevadas, como fariam na natureza. Eles não têm opção”, explicou Tatemoto.
Além dos impactos imediatos nas vidas dos animais, as enchentes também têm gerado problemas logísticos que afetam toda a cadeia produtiva da pecuária. Com as rodovias bloqueadas e infraestruturas danificadas, produtores enfrentam dificuldades para transportar alimentos e animais, além de garantir a operação regular dos frigoríficos.
Diante desse cenário desafiador, é urgente estabelecer planos de contingência eficazes que incluam a proteção dos animais na pecuária. Como ressalta Cristina Diniz, “O sistema de produção industrial vem intensificando a reprodução e criando rebanhos cada vez maiores, em condições não naturais. O setor pecuário é responsável por essas vidas e deve garantir a sua segurança e condições mínimas de bem-estar em caso de desastres naturais”.
Neste momento crítico, é fundamental que autoridades, organizações e a sociedade em geral estejam atentas às necessidades dos animais na pecuária e trabalhem juntas para minimizar os impactos das enchentes e promover um ambiente mais seguro e humanitário para esses seres vulneráveis.