A temporada agrícola atual enfrenta obstáculos inéditos, à medida que as mudanças climáticas impõem desafios significativos aos produtores irrigantes. Com o ano de 2023 marcado como o mais quente registrado na história, tanto no Brasil quanto globalmente, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alerta para a continuidade das ondas de calor. Esse cenário tem impactado diretamente as produções agropecuárias, resultando em perdas de produtividade e exigindo adaptações urgentes.
No epicentro dessa transformação climática, Mato Grosso, principal estado produtor de grãos do Brasil, sentiu os efeitos da variabilidade climática. As chuvas fora de época e a ausência de regularidade prejudicaram o desenvolvimento das lavouras de soja, levando alguns produtores a replantarem e outros a colherem precocemente, com redução na produtividade.
O uso eficiente de sistemas de irrigação com pivôs emerge como uma estratégia crucial diante dessas condições desafiadoras. Em entrevista exclusiva, Rodrigo Borges, diretor da empresa de sistemas de irrigação, destaca casos em que a irrigação foi determinante para salvar safras. “Tivemos produtores que colheram 20 sacas de soja no sequeiro e 80 sacas sob os pivôs, demonstrando o papel vital desse equipamento.”
No entanto, nem todos os agricultores se beneficiaram da mesma forma. O professor Fernando Tangerino, especialista em irrigação da Unesp, alerta para a necessidade de uma mudança de paradigma no manejo da irrigação. “Mesmo produtores que utilizam sistemas de pivô enfrentaram prejuízos. É crucial repensar o momento e a frequência da irrigação diante dos recordes de temperaturas máximas observados em 2023.”
O professor Fernando, destaca a importância de ajustes no manejo, especialmente em áreas recém-plantadas sem cobertura de palhada. Em tais condições, a irrigação durante o dia, embora mais onerosa, torna-se uma medida preventiva eficaz contra o aquecimento excessivo do solo. “Essa é uma mudança técnica essencial no início do plantio para evitar replantios custosos”, ressalta o especialista.
Aqueles que adotam práticas mais avançadas, como a integração lavoura-pecuária e o plantio direto com palhada, podem manter a irrigação noturna. A palhada atua como um isolante térmico, preservando a umidade do solo e mitigando os impactos do calor extremo.
Em resumo, a temporada desafiadora exige adaptações urgentes no manejo da irrigação. O setor agrícola está sendo convocado a repensar práticas estabelecidas diante das condições climáticas extremas, assegurando a sustentabilidade das produções e a preservação da produtividade em tempos de incertezas térmicas.