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PREÇOS EM ALTA

CAFÉ E CARNE LIDERAM DISPARADA DE PREÇOS NO BRASIL E ACENDEM ALERTA PARA A INFLAÇÃO DOS ALIMENTOS

Alta de até 83% em produtos agropecuários essenciais expõe os impactos da instabilidade climática e da pressão do mercado internacional sobre o bolso do consumidor brasileiro
Café moído lidera inflação no último ano, com aumento superior a 80%, segundo dados do IPCA-15. Foto: Divulgação.

A inflação dos alimentos voltou a ocupar o centro das atenções no Brasil. Dados mais recentes do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), divulgados em maio, revelam que os preços de itens agropecuários de primeira necessidade, como café e carne bovina, sofreram aumentos expressivos nos últimos 12 meses. O café moído, insumo diário em milhões de lares brasileiros, liderou o ranking com uma alta de impressionantes 83,2%, refletindo os impactos de condições climáticas adversas, como secas prolongadas e geadas, além das flutuações nos preços internacionais da commodity — fatores que comprimem a oferta e pressionam os custos no mercado doméstico.

No setor de proteínas, os reajustes também foram significativos. Cortes populares de carne bovina subiram com força: acém (28,27%), alcatra (25,98%), patinho (25,41%), contrafilé (24,17%) e até mesmo o filé-mignon (23,83%) apresentaram aumentos relevantes. A escalada dos preços reflete uma cadeia de fatores que vai desde o encarecimento da alimentação animal, como milho e farelo de soja, até a demanda crescente tanto no mercado interno quanto no externo.

No campo das frutas, a tangerina registrou aumento de 32,84%, posicionando-se como o segundo item com maior variação no índice do mês. A elevação de preços nos hortifrutis também está ligada à sazonalidade da produção, às chuvas fora de época e à logística comprometida em algumas regiões produtoras.

Apesar de o índice geral do IPCA-15 ter avançado 0,36% em maio, ritmo considerado moderado, o grupo de alimentos e bebidas ainda é o que mais pesa no bolso da população. Em abril, essa categoria havia subido 1,14%; em maio, a variação foi de 0,39%. No entanto, a média esconde os extremos: enquanto alguns itens desaceleram, outros seguem em forte alta, puxando para cima o custo de vida, sobretudo das famílias de baixa e média renda.

Para o educador financeiro Fernando Lamounier, o impacto da inflação sobre os alimentos não se restringe à mesa do consumidor. “A inflação, normalmente mensurada pelo IPCA, tem um impacto profundo na vida do consumidor, fazendo com que cada real valha menos do que antes, obrigando todos a repensar prioridades e a se adaptar a um novo cenário econômico em que a estabilidade financeira se torna um objetivo cada vez mais distante”, avalia o especialista.

Lamounier, alerta ainda para a necessidade de planejamento e de maior conscientização da população sobre o contexto inflacionário. “Com a crescente preocupação dos consumidores em relação ao aumento dos preços, principalmente de alimentos, é crucial estar atento às futuras oscilações no mercado. Com o aumento do IPCA, o encarecimento de produtos essenciais pode se prolongar. Para enfrentar esse cenário, além de repensar as prioridades de consumo, uma dica prática é criar um fundo de emergência específico para a possível variação com as despesas com alimentação, separando mensalmente uma pequena porcentagem extra da renda para evitar ser pego de surpresa com a alta de preços”, orienta.

Do ponto de vista estrutural, o cenário lança desafios importantes para os produtores rurais, cooperativas e gestores de políticas públicas. A inflação no campo exige mais do que controle monetário: demanda investimentos em resiliência climática, tecnologias agrícolas adaptativas, gestão eficiente da cadeia de suprimentos e estratégias regulatórias que contribuam para o equilíbrio entre oferta e demanda.

Especialistas em economia agrária defendem que o Brasil precisa acelerar ações que tornem o sistema agroalimentar mais preparado para choques externos. O encarecimento de itens básicos, como café e carne, evidencia a vulnerabilidade de um modelo ainda muito dependente de fatores externos e do clima. O fenômeno também reacende o debate sobre o papel da infraestrutura logística, da integração de dados agroclimáticos e da previsibilidade de políticas de abastecimento como medidas para mitigar impactos no médio e longo prazo.

Enquanto o debate se intensifica nos bastidores do setor, o reflexo imediato chega direto ao consumidor: um café mais caro pela manhã, um churrasco mais restrito no fim de semana e uma cesta básica que consome fatias cada vez maiores do orçamento familiar.

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