A demanda chinesa por soja, embora ainda em crescimento, está passando por mudanças significativas. De acordo com estatísticas recentes, a China consumia cerca de 50 milhões de toneladas de soja na safra 2007/08. No entanto, essa cifra mais que dobrou ao longo dos anos, atingindo aproximadamente 121 milhões de toneladas na safra 2023/24. Esse crescimento, embora ainda considerável, vem desacelerando nos últimos anos, indicando uma aproximação do mercado chinês a um ponto de estabilização.
O aumento na demanda está ligado a fatores como o crescimento populacional, o aumento do poder aquisitivo e mudanças nos padrões de consumo, tanto para uso humano quanto animal. No entanto, a taxa de crescimento composto tem diminuído, saindo de 5,68% desde 2007 para 2,65% nos últimos cinco anos, sugerindo uma desaceleração no ritmo de crescimento.
Além disso, os estoques de soja na China atingiram números recordes em 2024, atingindo 8,1 milhões de toneladas para o período de janeiro a abril. Apesar desse aumento, esses estoques são suficientes para cobrir apenas 23 dias de consumo interno, sinalizando uma demanda contínua, mas com um crescimento mais moderado.
“Isso significa que o incremento daqui para frente aponta não ser tão disruptivo como anteriormente. É importante notar que a demanda continuará existindo devido à necessidade, no entanto, com um percentual de crescimento menor”, comenta o líder do time de inteligência da empresa especializada em gestão e comercialização de grãos para o produtor brasileiro., Felipe Jordy.
Batalha pelo fornecimento: Brasil e Estados Unidos como principais exportadores
Brasil e Estados Unidos lideram a produção e exportação de soja globalmente, fornecendo juntos cerca de 88% da demanda mundial. A China, como maior consumidor global de soja, depende significativamente desses dois países como seus principais fornecedores.
No entanto, há uma batalha em andamento entre Brasil e Estados Unidos pelo mercado chinês. Devido a fatores como a guerra comercial entre EUA e China e a competitividade dos preços brasileiros, o Brasil tem aumentado sua participação nas exportações de soja para a China. Em 2014, os EUA representavam 49% das importações chinesas de soja, enquanto o Brasil detinha 51%. Em contraste, em 2023, o Brasil alcançou 74% e os EUA, 26%. Essa tendência continuou em 2024, com o Brasil já detendo 64,2% das importações chinesas.
“Apesar de os EUA ainda serem um grande fornecedor para a China, a guerra comercial iniciada em 2018, o crescimento da produção brasileira e a competitividade do grão brasileiro – com menor preço – vêm determinando um aumento na participação do Brasil no suprimento chinês”, comenta Jordy.
Desafios futuros: Dependência brasileira nas exportações de soja
Apesar do avanço brasileiro nas exportações para a China, há desafios que se apresentam no horizonte. À medida que o Brasil continua a expandir sua produção e exportações de soja, a forte dependência desse setor pode se tornar um ponto fraco para o país.
Nos Estados Unidos, a crescente demanda interna por soja, impulsionada pelo uso no biodiesel, está reduzindo a quantidade disponível para exportação. Se o Brasil não buscar alternativas para diversificar sua produção ou atender a demandas sustentáveis, como as relacionadas ao ESG (ambiental, social e de governança), pode enfrentar desequilíbrios no mercado global de soja no médio e longo prazo.
“No médio e longo prazo, imagino que o Brasil também seguirá um caminho semelhante, seja pelo apelo ESG ou pela diversificação dos negócios, caso contrário, o excesso de soja poderá resultar em um forte desequilíbrio entre oferta e demanda”, finaliza o especialista.