A produção de algodão no Brasil vive um ciclo de evolução acelerada e consistente, impulsionada pelo uso intensivo de tecnologias e, sobretudo, pelo melhoramento genético de cultivares. Entre 1976 e 2020, a produtividade da cotonicultura brasileira cresceu 12 vezes, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), resultado direto da incorporação de materiais genéticos mais eficientes, resistentes a doenças e com qualidade superior de fibra.
Para a safra 2024/25, a estimativa da Conab aponta para um novo recorde: 3,8 milhões de toneladas de algodão em pluma, um avanço de 3,3% em relação à safra anterior. Esse desempenho reflete não apenas o investimento em tecnologia de ponta, mas também a adoção estratégica de cultivares que garantem maior rendimento e estabilidade produtiva mesmo em cenários adversos.
Segundo Liliane Tibolla, Consultora de Desenvolvimento de Produtos e especialista em melhoramento genético, a base da produtividade está na escolha da cultivar mais adequada a cada realidade produtiva. “A genética das cultivares está diretamente ligada ao rendimento e à qualidade da fibra. Quanto mais fibra de qualidade a cultivar produzir, maior será o retorno técnico e financeiro ao produtor, que enfrenta custos elevados em uma cultura exigente como o algodão”, destaca a consultora.
Além de garantir volume, o mercado internacional exige fibra de alta qualidade, o que tem levado ao desenvolvimento de materiais genéticos cada vez mais refinados. Entre as características exigidas estão o comprimento da fibra (UHML ou POL), o índice de fibras curtas (SF), a resistência (STR), a uniformidade do comprimento (UI) e o micronaire (MIC) critérios que influenciam diretamente o valor pago ao produtor.
Nesse contexto, o melhoramento genético tem sido decisivo para evitar perdas por deságio na comercialização. “Cultivares que atendem aos padrões internacionais têm maior aceitação e evitam penalizações no preço. A genética tem ajudado a superar essas exigências com variedades mais estáveis e com desempenho comprovado em campo”, afirma Liliane.
Outro aspecto técnico relevante é a resistência genética a pragas e doenças, fator que tem facilitado o manejo da cultura. “As cultivares resistentes oferecem maior estabilidade, pois reduzem os riscos sanitários ao longo do ciclo. Ainda assim, o manejo integrado continua sendo essencial. Não basta ter uma genética forte se o manejo não for tecnicamente conduzido”, alerta a consultora, referindo-se à importância de práticas como rotação de culturas, monitoramento de pragas e aplicação racional de defensivos.
A adaptação regional das cultivares também é um ponto crucial para evitar perdas e explorar o máximo potencial produtivo. A escolha precisa considerar as condições edafoclimáticas (clima e solo), o sistema de produção adotado e o histórico de desempenho em cada microrregião. Um erro nessa decisão pode comprometer toda a lavoura. “A recomendação correta feita por especialistas é indispensável. A combinação entre genética, clima e manejo técnico é o que sustenta a evolução da cotonicultura brasileira”, completa Liliane.
A cotonicultura do país, que já ocupa o posto de segundo maior exportador mundial da pluma, avança na direção de uma agricultura cada vez mais eficiente, baseada em ciência, conhecimento técnico e decisões agronômicas bem fundamentadas. O desempenho previsto para a próxima safra é reflexo de uma jornada construída com pesquisa genética, inovação tecnológica e planejamento estratégico no campo.