Praticar agricultura com menos fertilizantes químicos e agrotóxicos, restaurar a saúde do solo, promover a biodiversidade e oferecer alimentos mais saudáveis e ricos em nutrientes. Essa é a base da agricultura regenerativa, um modelo que está transformando a maneira de produzir alimentos e de pensar o futuro do campo.
Segundo Reginaldo Minaré, diretor-executivo da Associação Brasileira de Bioinsumos (ABBINS), a agricultura regenerativa não é um modismo ou movimento ideológico, mas um sistema agrícola sólido e mensurável, que busca restaurar e melhorar a saúde do solo, a biodiversidade e a sustentabilidade dos sistemas produtivos.
“É uma abordagem promissora para a produção de alimentos de forma mais sustentável e resiliente, com benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a saúde humana”, explica Minaré.
Números que comprovam o impacto
O tema já ganha relevância internacional. Segundo o Fórum Econômico Mundial, a expansão da agricultura regenerativa tem potencial para reduzir emissões de gases de efeito estufa e ainda gerar impactos econômicos positivos em escala global.
Nos Estados Unidos, Santana Diaz, chef do Centro Médico da Universidade da Califórnia em Davis, vem aplicando o conceito na prática ao priorizar alimentos provenientes de sistemas regenerativos. Ele destaca que “alimentos cultivados em campos, pomares e pastagens com práticas saudáveis de manejo do solo resultam em refeições mais nutritivas e saborosas”.
Brasil inicia o debate legal
Embora o Brasil ainda não tenha uma legislação específica, o tema começa a avançar no cenário político. O Projeto de Lei nº 1.787/2025, de autoria do senador Sérgio Petecão (PSD/AC), propõe a criação da Política Nacional de Fomento à Agricultura Regenerativa (PNFAR).
De acordo com Minaré, essa é uma iniciativa fundamental para dar direcionamento técnico e institucional à prática.
“Muitos agricultores já fizeram a transição da agricultura convencional para a regenerativa, e outros estão nesse processo. O debate político é importante para que mais pessoas entendam seus benefícios e a importância de sua adoção em larga escala”, afirma.
O PL prevê incentivos financeiros, técnicos e fiscais aos produtores que adotarem práticas regenerativas, além da participação social ampla, envolvendo produtores, comunidades tradicionais, sociedade civil e comunidade científica.
O projeto já iniciou tramitação no Senado e, após o encerramento do prazo de emendas na Comissão de Meio Ambiente, segue agora para a Comissão de Agricultura, onde aguarda designação de relator.
Projeções econômicas e ambientais
Um estudo citado na justificativa do projeto, realizado pelo Boston Consulting Group, em parceria com o Ministério da Agricultura e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, estima que práticas regenerativas no Cerrado podem gerar até US$ 100 bilhões em retorno financeiro e agregar US$ 20 bilhões ao PIB brasileiro até 2050.
O levantamento identificou 32,3 milhões de hectares com potencial de regeneração, sendo 23,7 milhões destinados à recuperação de pastagens degradadas e 8,6 milhões para intensificação da agricultura sustentável.
Para Minaré, esses números reforçam a necessidade de o país avançar com políticas públicas e marcos legais que incentivem o setor.
“A agricultura regenerativa não tem uma definição única, e nem deve ter. Mas, para evitar greenwashing e desinformação, é importante que as diretrizes sejam claras e abertas a diversas metodologias, com foco em resultados”, destaca o diretor-executivo da ABBINS.
Um movimento global
A tendência de recuperação do solo e produção sustentável já mobiliza países e instituições em todo o mundo. Governos da França, Alemanha e Espanha adotaram programas nacionais com incentivos financeiros e assistência técnica aos agricultores em transição para práticas regenerativas.
Nos Estados Unidos, o Governo da Califórnia lançou em janeiro de 2025 uma orientação oficial para identificar e certificar práticas regenerativas. Em Portugal, o Regenerative Wine Fest chega à sua segunda edição, celebrando vinhos produzidos com manejo regenerativo das vinhas.
Essas experiências mostram que o movimento está em franca expansão.
“São bons exemplos para o agricultor e para a economia. Quem não acreditar na agricultura regenerativa ficará desatualizado. Seguramente, essa será a agricultura convencional do amanhã”, enfatiza Minaré.
Desafios e oportunidades
Para consolidar o modelo no Brasil, especialistas apontam a necessidade de educação técnica, pesquisa científica, políticas públicas e integração entre produtores e universidades. É um caminho que exige tempo, investimento e troca de conhecimento, mas que oferece benefícios de longo prazo.
A restauração da biodiversidade do solo, a redução do uso de insumos químicos e o aumento da densidade nutricional dos alimentos são indicadores de sucesso para a agricultura regenerativa, que vai além da sustentabilidade, busca regenerar o que já foi degradado, devolvendo vida ao campo e equilíbrio ao planeta.