Em um cenário de crescente inovação na agricultura moderna, os bioinsumos vêm ganhando destaque como ferramentas cruciais para o desenvolvimento sustentável do setor. Definidos como produtos ou processos agroindustriais oriundos de fontes naturais, como enzimas, extratos, microrganismos e macrorganismos, os bioinsumos têm como principal função o controle biológico de pragas. Nesse contexto, as abelhas emergem como protagonistas, desempenhando um papel essencial na polinização de cultivos e, consequentemente, na produção de alimentos.
Para fortalecer o uso de bioinsumos no Brasil e beneficiar o setor agropecuário, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) instituiu o Programa Nacional de Bioinsumos através do decreto Federal Nº 10.375, em 26 de maio de 2020. Mas como exatamente as abelhas se encaixam nessa iniciativa?
A Importância da polinização
A polinização é um processo fundamental para a reprodução da maioria das plantas, envolvendo a transferência de grãos de pólen de uma flor para outra, facilitada por agentes polinizadores como as abelhas. Ao visitarem as flores, as abelhas recolhem o pólen em seus corpos e o transportam entre plantas, permitindo a fecundação das flores e a produção de frutos e grãos.
Segundo Dr. Heber Luiz Pereira e Me. João Vitor G. R. P. Barateiro, a polinização realizada pelas abelhas é responsável por mais de um terço de todos os alimentos produzidos mundialmente, impactando mais de 78% dos cultivos. Este serviço ecossistêmico possui um enorme potencial para aumentar a produtividade agrícola, sendo reconhecido como um bioinsumo vital.
Abelhas africanizadas e a produção agrícola
A espécie Apis mellifera, conhecida no Brasil como abelha africanizada, é amplamente utilizada na polinização de cultivos agrícolas como laranja, maçã, café e melão. Em cultivos de maçã, por exemplo, as abelhas podem aumentar a produtividade em até 90%. A apicultura brasileira, renomada pela alta qualidade de mel e outros produtos, se beneficia das condições ambientais e climáticas favoráveis do país.
“Nas últimas décadas, a colaboração entre agricultores e apicultores se intensificou, promovendo avanços significativos graças a pesquisas científicas sobre a interação entre ambos. Essa relação é benéfica para todas as partes envolvidas, resultando em um incremento na produção agrícola e apícola” complementam, Dr. Heber Luiz Pereira e Me. João Vitor G. R. P. Barateiro.
Aspectos técnicos e ambientais
Cada espécie de planta responde de maneira distinta ao serviço de polinização e à espécie de abelha utilizada. Portanto, é crucial que agricultores e apicultores compreendam as necessidades específicas de seus cultivos e das abelhas. “O manejo técnico adequado inclui evitar dietas monoflorais para as abelhas e adotar a alimentação suplementar quando necessário. Além disso, o calendário de aplicação de defensivos químicos deve ser rigorosamente seguido para minimizar os impactos negativos sobre as abelhas” é o que Dr. Heber Luiz Pereira e Me. João Vitor G. R. P. Barateiro, explicam.
A aplicação de defensivos deve ser feita em horários em que as abelhas não estão ativas, garantindo sua saúde e promovendo um ambiente de produção sustentável. O uso crescente de produtos biológicos no campo também favorece a eficiência da polinização, alinhando-se às exigências de sustentabilidade do mercado consumidor.
Benefícios econômicos e sociais
A integração da agricultura com a polinização assistida não apenas aumenta a produtividade e a qualidade dos produtos, mas também gera emprego e renda, fortalecendo a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. A colaboração entre agricultores e apicultores é essencial para o sucesso dessas atividades, promovendo um ambiente de cooperação e desenvolvimento sustentável.
No âmbito social, a comunicação entre apicultores e agricultores é fundamental. Agricultores devem designar áreas específicas para as caixas de abelhas e informar apicultores sobre a aplicação de defensivos. Já os apicultores devem identificar suas colmeias e comunicar-se com os agricultores para garantir a proteção das abelhas.
Tratar as abelhas como bioinsumos eleva a agricultura brasileira a novos patamares de produtividade e sustentabilidade. A polinização eficiente, proporcionada pelas abelhas, não só melhora a qualidade e quantidade dos produtos agrícolas, mas também fortalece a economia e promove um ambiente de produção sustentável e colaborativo. Reconhecer e valorizar o papel das abelhas na agricultura é essencial para um futuro mais próspero e sustentável para o setor agropecuário brasileiro.