A produção de café arábica em São João da Boa Vista (SP) está passando por uma verdadeira revolução silenciosa. A Fazenda Estiva, com mais de seis décadas de tradição, tornou-se referência em manejo hídrico sustentável ao adotar a irrigação por gotejamento em toda a sua área de 180 hectares. O resultado impressiona: o aumento médio da produtividade chegou a 40 sacas por hectare, com retorno do investimento já na primeira safra, um marco importante para uma região historicamente dependente das chuvas.
“Com a irrigação, em dois anos e meio nós produzimos entre 60 e 65 sacas por hectare. Antes, no sequeiro, esse número não passava de 25 sacas. É um salto impressionante”, relata o produtor Maércio Diogo de Oliveira, administrador da propriedade ao lado do irmão.
Para ele, mais do que um ganho técnico, a mudança representa uma nova forma de pensar a agricultura. “O mais difícil não é ter a terra ou o capital, e sim mudar a maneira de pensar. A partir do momento que você pensa diferente, muda a forma de agir. Usar a água de maneira adequada é agir com segurança e sabedoria”, afirma.
EFICIÊNCIA HÍDRICA E TRANSFORMAÇÃO PRODUTIVA
O sistema de irrigação por gotejamento tem se mostrado uma das ferramentas mais eficazes para o aumento da eficiência produtiva no campo, especialmente em culturas como o café, que demandam manejo hídrico preciso.
De acordo com Rafael Gonzaga, especialista agronômico que acompanha a região, os dados técnicos confirmam o potencial do sistema.
“Com um incremento médio de 40 sacas por hectare, a irrigação se pagou já na primeira safra. Isso mostra a viabilidade não apenas produtiva, mas também econômica e ambiental da tecnologia”, destaca.
A adoção do gotejamento também trouxe ganhos significativos na qualidade do café. A combinação entre fornecimento controlado de água e fertirrigação, técnica que aplica fertilizantes dissolvidos diretamente na raiz, tem refletido na uniformidade e no vigor das plantas.
“A produtividade aumentou bastante e a qualidade está surpreendente. Desde que começamos com o sistema, os resultados são muito positivos, inclusive na parte de estabilidade financeira”, complementa Bárbara Rocha, do setor administrativo da fazenda.
DO EXPERIMENTO À TRANSFORMAÇÃO
A jornada começou de forma modesta, com um projeto piloto de apenas 1,5 hectare. “Estávamos sofrendo muito com o déficit de água na região. Fizemos um teste com o gotejamento superficial e o resultado foi impressionante”, lembra Moisés Marcondes, administrador de produção da fazenda.
O sucesso inicial motivou a expansão para toda a área produtiva. Hoje, a fazenda tem 100% das lavouras irrigadas, garantindo estabilidade mesmo em períodos de estiagem prolongada.
Segundo especialistas, a irrigação por gotejamento se destaca por reduzir desperdícios e permitir o uso racional dos recursos hídricos. O sistema entrega água e nutrientes diretamente na zona radicular da planta, o que otimiza o consumo e evita perdas por evaporação. Além disso, contribui para o equilíbrio ambiental e para a resiliência climática das lavouras.
TECNOLOGIA E LONGEVIDADE NO CAMPO
Para Cristiano Januzzi, engenheiro agrônomo e gerente técnico que atua na implementação de projetos de irrigação na região, a tecnologia está mudando paradigmas.
“Há quatro ou cinco anos, São João da Boa Vista não era uma região tradicional de irrigação. Hoje, vemos produtores colhendo resultados expressivos, com sistemas de fertirrigação bem estruturados, manutenção adequada e retorno rápido do investimento”, explica.
Ele destaca ainda que um sistema de irrigação bem projetado pode ter vida útil de até 20 anos, mantendo alta uniformidade na aplicação de água e nutrientes, um fator determinante para a produtividade e sustentabilidade das lavouras.
“O segredo está na boa instalação, na manutenção periódica e na assistência técnica constante. Quando isso acontece, o produtor garante estabilidade e longevidade ao investimento”, completa.
UM NOVO CAPÍTULO PARA O CAFÉ PAULISTA
Os resultados obtidos na Fazenda Estiva simbolizam um movimento crescente no agronegócio brasileiro: o uso inteligente da tecnologia como aliada da sustentabilidade e da eficiência produtiva.
Em regiões sujeitas à irregularidade de chuvas, como o interior paulista, o manejo hídrico adequado é um diferencial competitivo que pode garantir até o dobro da produtividade média nacional, que gira em torno de 30 sacas por hectare, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A experiência dos produtores de São João da Boa Vista reforça a importância de unir tradição e inovação, técnica e sensibilidade. “A irrigação não é apenas uma questão de tecnologia. É sobre entender o tempo da planta, o tempo da terra e usar os recursos de forma inteligente. É um investimento em conhecimento”, resume Maércio Oliveira.


































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































