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HÁBITOS DE CONSUMO NA CHINA JÁ REDIRECIONAM A PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NO BRASIL

Produtores brasileiros buscam compreender preferências culturais, padrões de qualidade e exigências nutricionais para ampliar presença em um dos maiores mercados consumidores do mundo
A demanda chinesa estimula novos modelos de produção na pecuária brasileira. Foto: Divulgação.

O crescimento da demanda por carne bovina na China tem se tornado um dos principais fatores de influência sobre a pecuária brasileira na última década. Com uma população estimada em 1,4 bilhão de habitantes, o país asiático vem ampliando de forma consistente sua classe média urbana, o que tem impulsionado novos hábitos de alimentação, inclusão de proteínas de maior valor agregado no dia a dia e preferência por produtos com garantia de procedência. Apesar de ser um dos maiores produtores globais de aves e suínos, a China enfrenta limitações ambientais e territoriais para expandir a criação de bovinos, o que faz com que grande parte da carne bovina consumida internamente venha de outros países, entre eles, o Brasil.

Hoje, o mercado chinês já é o principal destino da carne bovina brasileira, e o Brasil responde por aproximadamente 60% de toda a carne bovina importada pela China. Ainda assim, há espaço significativo de crescimento quando se observa o consumo médio per capita: cada chinês consome, em média, menos de 4 quilos de carne bovina ao ano. Nos Estados Unidos, o consumo ultrapassa os 26 kg/ano, enquanto no Brasil gira em torno de 24 kg/ano. Esse contraste revela um potencial de expansão expressivo, especialmente se a curva de renda chinesa continuar avançando e os hábitos alimentares permanecerem em transformação.

Para aproveitar essa oportunidade, pecuaristas brasileiros têm buscado compreender não apenas a demanda quantitativa, mas sobretudo os aspectos culturais que orientam as escolhas dos consumidores. Segundo o professor-titular da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), Luiz Gustavo Nussio, a percepção de qualidade na China segue parâmetros específicos, frequentemente distintos daqueles valorizados no Ocidente.

“Os consumidores chineses priorizam atributos como segurança e qualidade de produção acima de fatores emocionais ou simbólicos, como questões ambientais ou uso de embalagens recicláveis, que costumam ganhar mais destaque em mercados ocidentais”, explica Nussio. “Eles valorizam carne proveniente de animais jovens, criados predominantemente a pasto e sem uso de hormônios ou antibióticos.”

Essa preferência implica ajustes consideráveis na cadeia produtiva. Enquanto parte da pecuária brasileira ainda está estruturada na lógica de venda de commodities, com foco no volume, o mercado chinês abre espaço para carnes padronizadas, rastreáveis e com diferenciação de valor. Esse movimento tem motivado produtores a investir em protocolos de criação, nutrição e manejo que garantam qualidade constante ao longo de todo o ciclo produtivo.

Tecnologia e Manejo de Pastagens Ganham Centralidade

No Mato Grosso, um dos principais polos de produção bovina do país, iniciativas tecnológicas vêm sendo utilizadas para atender de forma mais precisa às exigências do mercado chinês. Uma dessas iniciativas é uma plataforma de gestão de fazendas, desenvolvida por pesquisadores e profissionais do setor pecuário desde 2018, que integra análises de imagens aéreas, estações meteorológicas e modelagens de crescimento de pastagens.

A ferramenta permite monitorar, em tempo real, indicadores essenciais como altura e densidade do pasto, balanço hídrico, movimentação de lotes, adubação, suplementação e ganho de peso por área.

Segundo Roberto Aguiar, engenheiro agrônomo responsável pela coordenação técnica da plataforma, o objetivo é oferecer aos pecuaristas informações precisas que apoiem a tomada de decisão de forma rápida e embasada:

“Os dados gerados ajudam a ajustar o manejo, garantindo melhor aproveitamento das pastagens e maior eficiência no ciclo produtivo. Isso se reflete diretamente na qualidade do animal abatido e, consequentemente, no padrão da carne destinada ao mercado internacional”, afirma.

Atualmente, a metodologia de monitoramento e gestão já é adotada em mais de 60 propriedades distribuídas pelo país, abrangendo aproximadamente 30 mil hectares de pastagens. Ao permitir o controle rigoroso das taxas de lotação e do desempenho dos animais, a ferramenta contribui para reduzir desperdícios, melhorar índices produtivos e diminuir impactos ambientais, fatores essenciais para atender um mercado que exige cada vez mais padronização e rastreabilidade.

Para Aguiar, o desafio central da pecuária brasileira contemporânea está na gestão eficiente dos recursos naturais:

“O manejo adequado das pastagens é o ponto-chave. Quando bem conduzido, ele permite produzir carne de qualidade, com sustentabilidade e competitividade no cenário global.”

Perspectivas

O alinhamento entre hábitos de consumo na China e práticas de produção no Brasil não apenas reforça a importância do intercâmbio cultural e técnico entre os dois países, como também abre espaço para que a pecuária brasileira avance na criação de produtos com maior valor agregado. Ao compreender expectativas e exigências desse mercado, o Brasil fortalece sua posição como referência mundial na produção de carne bovina e amplia as oportunidades de construir relações comerciais duradouras baseadas em qualidade, regularidade e confiança.

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