A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, continua sendo uma das doenças mais severas e desafiadoras da sojicultura brasileira. De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em situações de alta pressão da doença, as perdas de produtividade podem chegar a 90%, especialmente quando as condições climáticas favorecem o desenvolvimento do patógeno.
Nas regiões Sul do Brasil, com destaque para Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o risco é ainda maior. O consultor de desenvolvimento de produtos Patrick Santos, especialista em genética vegetal, explica que o clima local é um dos principais fatores para o avanço da ferrugem. “Essas áreas apresentam maior tempo de molhamento foliar, temperaturas médias entre 15°C e 25°C, umidade relativa elevada e chuvas frequentes. Esse conjunto cria um ambiente ideal para a multiplicação e disseminação do fungo”, destaca.
Comportamento variável da doença
O comportamento da ferrugem asiática é cíclico e altamente dependente das condições ambientais. Em anos mais úmidos e com temperaturas amenas, o avanço ocorre de forma rápida e intensa, exigindo respostas imediatas por parte dos produtores.
Santos explica que, nesses períodos, o manejo da doença deve ser ainda mais rigoroso. “A combinação entre cultivares com resistência genética, uso criterioso de fungicidas e monitoramento constante é determinante para reduzir o impacto sobre a produtividade”, afirma o consultor.
Avanços em resistência genética
A incorporação de características genéticas de resistência tem sido uma das principais ferramentas de apoio ao manejo. Desde o final dos anos 2000, instituições e grupos de pesquisa no país vêm desenvolvendo cultivares capazes de retardar o avanço do fungo e diminuir a esporulação, processo responsável pela multiplicação da doença nas plantas.
Segundo Santos, essas inovações representam uma “camada adicional de proteção”, que ajuda a manter o equilíbrio no sistema produtivo. Ele explica que os programas de melhoramento genético continuam evoluindo, com foco não apenas na resistência à ferrugem, mas também em melhorias agronômicas, como arquitetura de planta e resistência ao acamamento.
Clima, manejo e genética: o tripé do controle
A previsão climática é um dos aliados na estratégia preventiva contra a ferrugem asiática. Ao antecipar os períodos de maior umidade e temperatura favorável, é possível planejar as aplicações de fungicidas e selecionar cultivares mais adaptadas ao ambiente de risco.
Entretanto, Santos ressalta que a pressão da doença é distinta entre as regiões produtoras, variando conforme altitude, umidade, temperatura média e histórico de plantio na área. “Mesmo com análises prévias e previsões climáticas, cada safra apresenta comportamento próprio. Por isso, o manejo precisa ser ajustado localmente, levando em conta a realidade de cada produtor”, orienta.
O especialista destaca ainda que o uso de cultivares com resistência genética deve ser encarado como parte do manejo integrado, e não como solução isolada. “Essas tecnologias cumprem um papel importante dentro do sistema produtivo, ajudando a retardar o avanço do patógeno e reduzindo perdas de produtividade, especialmente em anos críticos”, conclui.