cotações de Comodities

Cotação do dollar

RASTREABILIDADE

ROBÔS AJUDAM A COMBATER FRAUDES NO CAFÉ E GARANTEM SEGURANÇA ALIMENTAR DESDE A ORIGEM

Casos de adulteração em cafés reacendem alerta sobre rastreabilidade. Especialistas defendem uso de visão computacional e inteligência artificial para eliminar impurezas ainda na lavoura
Tecnologia de visão computacional e robótica permite a identificação de grãos defeituosos em milésimos de segundo, reforçando a segurança alimentar desde a origem do café. Foto: Divulgação.

Casos recentes de adulteração em amostras de café vendidas no Brasil revelaram a presença de fragmentos de casca, palha e até fungos tóxicos em produtos prontos para o consumo. A descoberta não apenas provocou a retirada de marcas do mercado, mas também levantou um alerta nacional sobre falhas graves na rastreabilidade da cadeia produtiva do grão — a bebida mais consumida no país, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC).

Diante do cenário, cresce entre especialistas a defesa por soluções tecnológicas que atuem desde as primeiras etapas da produção. A robótica industrial, aplicada com o uso de visão computacional e inteligência artificial, surge como uma ferramenta promissora para reduzir contaminações e melhorar os padrões de qualidade.

“Grande parte das impurezas que vão parar no café do consumidor poderia ser eliminada ainda na lavoura ou nos centros de beneficiamento, se houvesse aplicação sistemática de visão computacional e inteligência robótica nas etapas de seleção, triagem e inspeção dos grãos”, afirma Diego Lawrens Bock, engenheiro mecatrônico com mais de 15 anos de experiência no setor de automação industrial de alta precisão.

Segundo Bock, sistemas robóticos já utilizados em linhas de produção de setores como o automotivo — onde defeitos microscópicos são identificados em milissegundos, podem ser adaptados à cadeia do café, especialmente no segmento de cafés especiais, onde a pureza e o sabor do grão são diferenciais críticos.

Esses sistemas envolvem robôs equipados com sensores ópticos, câmeras industriais e algoritmos de aprendizado de máquina capazes de identificar defeitos invisíveis ao olho humano, como grãos mofados, partidos, com contaminação por fungos ou mal formados. A tecnologia, explica o engenheiro, permite análises em tempo real durante o processamento, resultando em uma triagem muito mais precisa.

Além da segurança do consumidor, esse tipo de tecnologia fortalece a credibilidade do produtor, melhora a consistência dos lotes e abre portas para mercados internacionais mais exigentes. A rastreabilidade total dos lotes, da lavoura à xícara, passa a ser possível com a aplicação integrada dessas soluções.

“A robótica pode ser aliada da saúde pública e também da economia agrícola. Não se trata apenas de automatizar processos, mas de incorporar inteligência às etapas da produção. É possível usar sensores químicos e físicos, laser, visão computacional e inteligência artificial para detectar padrões de contaminação com uma precisão que nenhuma inspeção manual alcança”, reforça Bock.

Em um momento em que a confiança do consumidor está abalada por denúncias de fraudes e adulterações, especialistas defendem que o setor cafeeiro deve adotar urgentemente um padrão de controle de qualidade mais robusto, preventivo e informatizado. A urgência da ação se baseia também no impacto à imagem do produto brasileiro, que lidera a produção mundial de café e precisa manter sua reputação no comércio internacional.

A tecnologia já existe, segundo os especialistas, e pode ser implementada tanto em grandes cooperativas quanto em pequenos armazéns. A questão, agora, é de vontade política e estratégica: investir na automação como um pilar de segurança alimentar.

“Com inteligência artificial bem treinada, é possível estabelecer filtros objetivos e automatizados que garantem lotes mais puros, seguros e rastreáveis. Isso reduz retrabalho, perdas, contaminações e contribui para a sustentabilidade da cadeia como um todo”, conclui o engenheiro.

No cenário atual, em que o consumidor exige cada vez mais transparência sobre o que consome, a aplicação de tecnologias avançadas na cadeia do café representa não apenas uma inovação técnica, mas uma resposta ética e necessária a um problema de saúde pública e confiança.

Deixe um comentário

ARTIGOS RELACIONADOS