As infestações parasitárias, conhecidas popularmente como verminoses, permanecem como um dos principais desafios enfrentados pelos criadores de equinos no Brasil. Apesar dos avanços em práticas de manejo e conhecimento técnico, o problema ainda compromete significativamente o bem-estar, o desempenho e o desenvolvimento dos cavalos, especialmente durante as fases iniciais da vida.
“Dentre todas as enfermidades que podem acometer os equinos, as verminoses são extremamente relevantes quando pensamos na sanidade desses animais, independentemente da função que exercem — seja no esporte, no lazer ou na lida diária no campo”, destaca a médica-veterinária Camila Senna, especialista em equinos e coordenadora técnica da área.
Segundo ela, os efeitos da parasitose vão muito além dos sintomas visíveis, como cólicas ou diarreias. “As consequências silenciosas são as mais perigosas. É comum observar atraso no crescimento de potros e perda de rendimento em animais adultos, mesmo quando não há sinais clínicos evidentes”, explica.
Camila reforça que os equinos, de maneira geral, são altamente susceptíveis a diversos tipos de parasitas gastrointestinais. Isso se deve, principalmente, ao comportamento natural de pastejo da espécie e às condições climáticas predominantes no Brasil, que favorecem a multiplicação tanto de endoparasitas quanto de ectoparasitas.
“Os potros, principalmente os lactantes, são os mais vulneráveis. Nessa fase, o sistema imunológico ainda está em formação, e os animais praticamente não possuem defesas naturais contra os parasitas. Casos de diarreia, se não forem tratados adequadamente, podem evoluir para desequilíbrios fisiológicos graves e, em situações extremas, levar até à morte do animal”, alerta a veterinária.
Em equinos adultos, embora as infestações tendam a ser mais discretas, os prejuízos são igualmente preocupantes. A queda de desempenho sem causa aparente, perda de peso, pelos opacos e sem brilho, alterações nas fezes e cólicas intermitentes são sinais que merecem atenção. “Em quadros mais severos, dependendo do parasita envolvido e do nível de infestação, podem ocorrer até anemias e obstruções intestinais, exigindo intervenção cirúrgica”, esclarece Camila.
Por isso, o manejo sanitário, especialmente o controle parasitário por meio da vermifugação periódica, é considerado fundamental para manter a saúde dos animais. “Eliminar completamente os parasitas das propriedades é uma missão quase impossível. Além disso, um contato mínimo com os agentes parasitários é até desejável, pois permite que o animal desenvolva certa imunidade. O que se busca com o manejo correto é manter as cargas parasitárias em níveis seguros, que não prejudiquem a saúde, o bem-estar ou o desempenho do cavalo”, pontua.
O controle efetivo requer uma estratégia coletiva e sincronizada. “Todos os animais da propriedade devem ser vermifugados ao mesmo tempo, de acordo com a categoria (potros, éguas prenhes, cavalos em trabalho) e os desafios sanitários específicos de cada local. Isso também contribui para evitar a resistência dos parasitas aos medicamentos disponíveis”, enfatiza a veterinária.
Além da vermifugação regular, a especialista lembra que a sanidade dos equinos depende de um conjunto de fatores. “Nutrição equilibrada, vacinação em dia, cuidados ambientais e acompanhamento veterinário são tão importantes quanto o controle parasitário. O sucesso está em manter a rotina de cuidados de forma integrada, de olho no desempenho e no conforto dos animais.”