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INFESTAÇÃO POR CARRAPATO-DO-BOI PODE REDUZIR EM ATÉ 15% A PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA NO BRASIL

Parasita compromete saúde do rebanho, desempenho produtivo e economia da pecuária; controle ambiental é apontado como estratégia essencial para enfrentar o problema com eficácia e sustentabilidade
Carrapato-do-boi encontrado em animal da raça Angus, cada parasita pode reduzir até 1 grama de peso por dia e comprometer o rendimento final dos rebanhos. Foto: Divulgação.

O carrapato-do-boi, cientificamente denominado Rhipicephalus (Boophilus) microplus, segue sendo um dos maiores desafios sanitários e econômicos enfrentados pela pecuária brasileira. Estimativas apontam que as infestações por esse parasita geram prejuízos superiores a R$ 15 bilhões por ano no país, afetando diretamente a produtividade e o bem-estar dos rebanhos.

De acordo com estudos consolidados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Gado de Corte), os impactos vão muito além do incômodo aos animais. Calcula-se que o Brasil perca anualmente até 1,7 milhão de toneladas de carne bovina em decorrência do parasitismo, o que representa cerca de 15% da produção nacional. Nas propriedades leiteiras, o prejuízo pode chegar a 9 mililitros de leite por animal, por dia, sem contar os reflexos na qualidade do couro e o risco à saúde bovina, uma vez que o carrapato é vetor de doenças como a Tristeza Parasitária Bovina.

O ciclo de vida do parasita agrava ainda mais a situação. Estudos indicam que cerca de 95% da vida do carrapato ocorre fora do animal, especialmente nas pastagens, ambiente em que se desenvolve até a fase larval. A fêmea, ao se desprender do boi, pode depositar até 3 mil ovos no solo, dando origem a larvas que, em condições climáticas favoráveis, reinfestam o rebanho em apenas 21 dias. Isso torna o desafio contínuo, com reinfestações recorrentes mesmo após tratamentos diretos nos animais.

“Esse dado é crucial. Estima-se que 80% da população de carrapatos esteja presente no ambiente, e não no corpo dos bovinos, o que evidencia uma grande falha nos métodos tradicionais de controle, que geralmente se concentram apenas nos animais”, explica Gustavo Corsini, engenheiro agrônomo e especialista em manejo agropecuário.

A gravidade da infestação pode variar conforme a raça dos bovinos. Ainda segundo dados da Embrapa, animais da raça Nelore abrigam entre 10 a 15 carrapatos por dia, enquanto raças mais sensíveis, como a Angus, podem carregar até 600 parasitas diariamente, intensificando os danos.

Nesse contexto, especialistas defendem o controle ambiental como uma frente indispensável no combate à praga. A abordagem visa o tratamento direto das pastagens — onde ocorre a maior parte do ciclo biológico do carrapato — e pode ser integrada a outras práticas de manejo zootécnico e sanitário.

“O tratamento do ambiente não é apenas complementar: ele é essencial para interromper o ciclo reprodutivo do parasita e prevenir novas infestações. A atuação direta na vegetação é uma das formas mais eficazes de diminuir a densidade populacional do carrapato”, afirma Corsini.

Durante o período de maior risco — entre setembro e janeiro, quando calor e umidade favorecem a eclosão dos ovos — a adoção de práticas preventivas e o monitoramento constante do ambiente são estratégias que podem mitigar os prejuízos e promover uma pecuária mais sustentável.

Em casos de infestação moderada a severa, as perdas ganham escala. Corsini cita que, em um lote de 100 animais com perda de 20 kg por animal por infestação, os prejuízos podem alcançar 2 toneladas de carne — o que representa cerca de R$ 33 mil por ciclo de engorda, considerando a arroba a R$ 250,00.

A alternativa ambiental também contribui para a redução no uso repetitivo de medicamentos e favorece práticas integradas que incluem rotação de pastagens, manejo do pastejo e acompanhamento do status parasitário do rebanho. Tais medidas não apenas aumentam a produtividade, mas também respondem às crescentes exigências por sanidade, rastreabilidade e sustentabilidade nas cadeias produtivas da carne e do leite.

“Quando se fala em controle do carrapato, é preciso enxergar além do animal. O ambiente é o verdadeiro campo de batalha. E estratégias que atuam nessa frente são decisivas para proteger o desempenho zootécnico, a saúde animal e a economia das propriedades”, conclui Corsini.

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